Fotos de suor e alegria provam que ninguém acreditava em 2020 caótico
O Carnaval de 2020 foi, vendo de onde estamos, uma espécie de despedida de tudo aquilo que a pandemia tanto nos tirou
O Carnaval de 2020 foi, vendo de onde estamos, uma espécie de despedida de tudo aquilo que a pandemia nos tirou: o abraço, o beijo, da aglomeração, o compartilhamento de objetos e produtos.
É irônico pensar que no Brasil tudo explodiu logo após a data festiva. Parece que alguém estava no controle e disse: “espera só o Carnaval passar”.
Mesmo com notícias do coronavírus na China, basta olhar as imagens do ano passado para constatar como nosso espírito parecia distante dessa percepção amarga, quase intragável, das restrições e perdas causadas pela covid-19.
Fotos do Cordão Valu saindo em cortejo, da Esplanada Ferroviária lotada com o Capivara Blasé, de uma senhorinha na cadeira de rodas pulando Carnaval, de um casal jovem apaixonado se beijando, nos faz sorrir pela nostalgia, mas entristecer-se rapidamente por não ter isso de novo agora.
Teylor Fuchs, folião de carteirinha, e boêmio confesso, lembra de uma cena no Carnaval de 2020 que nunca poderia ser repetir hoje: a de tomar bebida no copo do outro.
“Encontrei dois foliões com uma garrafa de vodka distribuindo a bebida, uma fila de pessoas tomando todas no mesmo copo, isso seria inimaginável hoje”, lembra rindo. O momento foi registrado.
Ainda complementa em tom de saudade. “Sempre adorei uma aglomeração, um boteco, música, arte, acho que o Carnaval foi minha última grande aglomeração”.
Rita Natalia Ferreira Alves, umas das criadoras do bloco Valu, há 15 anos, pulou Carnaval todos os dias em 2020. Sozinha, com amigos ou na multidão, suas fotos não poderão ser reproduzidas este ano.
“Se a gente soubesse que iria acontecer tudo isso da pandemia e toda essa fase estranha que estamos vivenciando, teria aproveitado muito mais o carnaval em 2020. Nunca imaginei ficar em casa no carnaval, ir trabalhar ou passar trancada e sozinha”, lamenta.
E o que falar de Kenzo Minata, que via o Carnaval passar de perto, de onde “trabalhava”. Um dos donos do Brava, que fechou no começo da pandemia, e que ficava no meio da muvuca, Kenzo lembra do ditado de que o ano só começa após Carnaval.
“Nos quatro anos que trabalhei com Carnaval de rua eu percebi isso, é uma celebração necessária, é o brasileiro sendo feliz. Na Esplanada era isso, a rua tomada por foliões se divertindo, se sentindo parte pertencente da cidade. O carnaval de 2020 foi isso, a rua tomada por pessoas felizes, por música e dança, uma despedida genuína do mundo que conhecíamos pré corona”.
Para Kenzo Carnaval é um momento de extravasar do brasileiro, e sem esse momento, padecemos. “Adiamos tantos planos nessa pandemia e o carnaval entrou na lista, estamos aqui acumulando a loucura internamente esperando o próximo pra gente ser feliz de novo nas ruas”.
Que assim seja.
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