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Diversão

Frei abre bar com amigos, mistura religiões e tem hora canônica para open bar

Bar tem 3 sócios: um pagão, uma filha da umbanda e o frei anglicano

Thailla Torres | 14/11/2017 07:57
Um bar que parece respeitar a fé cada um.
Um bar que parece respeitar a fé cada um.

Imagens sacras e um painel hindu na decoração revelam que o "Obscurum", um bar recém-inaugurado na Vila Carvalho, é do tipo que parece respeitar a fé cada um. A começar pelo trio de amigos que deram um jeito de fazer o novo ponto comercial ser diferente. Bruno pertence a wicca, religião xamânica, baseada em rituais pagãos antigos. Jéssica caminha pela umbanda, e Alexandre Bruno Souza da Silva, de 28 anos, que assume o papel de marqueteiro e porta voz do lugar, chama atenção por ser um frei anglicano.

Quem entra no lugar que abre de quarta a domingo, a partir das 19h, encontra Alexandre vestido com seu hábito, um tipo de roupa usada por quem faz parte das congregações. "No começo eu até fui com roupas normais, mas senti falta do meu hábito e pensei: porque não? Por isso voltei a usar", garante o jovem bom de propaganda.

Sino serve como "hora canônica" para open bar.
Sino serve como "hora canônica" para open bar.

Alexandre é um frei beneditino da Missão da Igreja Episcopal Anglicana do Brasil em Campo Grande. A congregação, que mostra publicamente o apoio aos homossexuais, também deixa claro que recebe qualquer pessoa, independente de denominação religiosa, sem muitas regras.

Por isso, ele explica que o bar é uma iniciativa de falar e respeitar as diferenças. "Eu aprendi na minha vida religiosa que as pessoas procuram a igreja quando estão machucadas ou destruídas. E nesse caso elas também procuram o bar. Então me baseio na ideia de que a religião é como sair para tomar uma com os amigos, todo mundo pode pedir uma cerveja diferente, mas pode e deve sentar na mesma mesa", justifica.

Por isso, mesmo contrariando alguns, que acham um desrespeito usar a religião para esse fim, o lugar utiliza o tema, tanto na decoração, quanto no serviço. Tem Nossa Senhora Aparecida na mesa, além de imagens do candomblé, budismo e hinduísmo. Mas é um sino tocado pelo frei no meio da programação que marca o ponto alto das noites.

"É um sino de 4kg de bronze que ficava em uma capela, usado para anunciar a hora canônica, desenvolvida pelo Cristianismo, para as orações. Como ficava difícil anunciar o horário do open bar por conta da música alta, eu toco o sino e tudo fica resolvido".

Imagem de Nossa Senhora Aparecida na mesa.
(Foto: Arquivo Pessoal)
Imagem de Nossa Senhora Aparecida na mesa. (Foto: Arquivo Pessoal)

O lugar também tem uma espécie de museu com relíquias que mesclam um pouco com o perfil dos donos. "A gente foi trazendo alguns detalhes de casa. Tem uma penteadeira da avó, máquinas de costura, rádios antigos, filtro dos sonhos...", conta.

No espaço, não há garçons e quem serve o cliente são os donos. Tem som ambiente, mas no Facebook, o bar vem divulgando eventos diferentes ao longo da semana, com música ao vivo.

Alexandre continua atuando na congregação normalmente. Ele foi seminarista durante cinco anos na Igreja Católica, mas resolveu partir para a anglicana. "Eu me questionava muito sobre a religião, mas lá dentro, esse questionar é proibido, silenciado. E conheci a anglicana dentro de muito estudo e conhecimento. Vi que poderia fazer muito mais nessa caminhada toda".

A quem interessar, Alexandre também não se importa em discutir a Bíblia no meio do bar. "Eles (evangelhos) marcam a presença de Cristo na terra, mas não é uma palavra que diminuí ou exclui as pessoas. Na verdade, são elas que pegam aquilo que mais interessa para machucar os outros e é isso que não concordo. Sou um simples irmão e acredito que de forma simples a gente pode chegar com uma palavra de bem as pessoas".

O bar fica na Rua Brás Cubas, 9, Vila Carvalho. Abre de quarta a domingo a partir das 19h. 

Até gnomo tem vez na decoração do bar.
Até gnomo tem vez na decoração do bar.
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