Galera do rock faz show em homenagem a Maycon, o menino morto no lixão
Há mais de um ano, a dona de casa Lucilene Corrêa e o pedreiro Reginaldo Pereira de Andrade se despediram de Maycon, o menino que morreu soterrado no Lixão Municipal de Campo Grande. A tragédia, que abalou toda a cidade, gerou revolta, causou polêmica e virou notícia ainda não foi esquecida. Não para um grupo de músicos que se dispuseram, em memória do garoto, a ajudar crianças carentes que ainda moram na região onde o menino passou parte da rápida infância.
Intitulado “Não feche os olhos”, o projeto reúne 10 músicos campo-grandenses que vão se juntar, no dia 1º de fevereiro, às 22h, para um show de rock beneficente no Hangar Live Music.
O dinheiro arrecadado será entregue o IDE (Instituto de Desenvolvimento Evangélico) que vai repassá-lo à Associação Asas do Futuro, localizada no bairro Dom Antônio Barbosa. Trata-se de uma entidade filantrópica que atende cerca de 150 crianças e jovens em situação de vulnerabilidade social.
A organização existe há 20 anos e é uma das 16 vinculadas ao IDE, entidade patrocinado pela Petrobras. As crianças atendidas no local frequentam a unidade no contraturno escolar.
Seis professores - voluntários, contratados e patrocinados - garantem as aulas de balé, taekwondo, futebol, violão, informática, percussão e capoeira.
O projeto - A iniciativa ajudar os pequenos moradores do Dom Antônio partiu do guitarrista e compositor Rafael Alves, de 22 anos, integrante da banda Arun. Ele se sensibilizou com a notícia e o drama vivido pela família no final de 2011. À época, o músico estava terminando de compor a música “Our Eyes Are Still Closed” [Nossos olhos ainda estão fechados].
A canção, que até então não tinha “destino” certo, acabou virando uma homenagem ao garoto e se tornou tema do projeto que viria a surgir meses depois.
“Vi a notícia na televisão e a música, nessa época, já estava em processo de composição. Quando eu vi a notícia eu falei: Ela vai falar disso”, relembrou, ao dizer que as composições, no geral, não são pensadas. São descobertas.
A canção ficou pronta. A vontade de ajudar surgiu, mas Rafael não sabia por onde começar, até que participou de uma ação promovida pelo IDE. Se apaixonou pela causa e encontrou o caminho para fazer a boa ação.
Com a idéia em mente, o desafio era encontrar parceiros que aceitassem tocar de graça. Mas a busca foi mais fácil do que ele esperava. Todos os músicos convidados aceitaram o desafio de prontidão. O projeto nasceu e logo foi aprovado pelo Instituto.
Homenagem e divulgação - Segundo o guitarrista, o objetivo maior é promover reflexão, oferecer ajuda, mas também divulgar o trabalho de músicos campo-grandenses. A proposta, que ainda está sendo estudada, é promover novos eventos em 2013, com a participação de mais artistas.
“Minha pretensão maior é despertar as pessoas e mostrar que a gente pode ajudar quem está do nosso lado. O nome da música que diz que nossos olhos continuam fechados. A gente tem que começar a prestar atenção ao que está nossa volta”, disse.
Coordenador geral do IDE, Jessé Fragoso da Cruz, de 25 anos, destacou a importância da iniciativa e disse que o projeto pode inspirar outras pessoas que, assim como Rafael, querem ajudar, mas não sabem como.
“É de suma importância porque vai despertar a vontade de investir em uma comunidade que passou por um problema, mas não foi só aquele problema, declarou.
O show do dia 1º, pontuou, será uma homenagem a Maycon, mas também será um momento de lembranças. Muitas que nós gostaríamos de evitar.
“As pessoas ainda pessoas ainda passam por dificuldades. As famílias ainda estão desestruturadas. Esse projeto vai fazer as pessoas a conhecerem uma realidade mais profunda”, completou.
A estimativa da entidade é arrecadar de R$ 5 mil a R$ 10 mil. Além de Rafael Alves, os seguintes músicos participam da ação: Luciano Carvalho (Hollywood Cowboys), Tiago Além (Projeto Aioa), Brucy Bertholi (Arun), Daniele Navarro (Rhevan), André Antunes (Big Field Paradise), Carlos Henrique (Brow Dino), Fred Oliveira, João Pedro Grefe (Time Travellers) e Edu Fanaia.
Lembrança - Longe da organização do evento, a mãe do garoto homenageado continua a pensar no filho. Apesar do tempo, Lucilene não consegue evitar a lembrança. E nem quer.
Convidada para assistir à apresentação em fevereiro, ela diz que ainda não sabe se vai estar presente, mas se for quer ir acompanhada porque não sabe que reação terá diante das recordações.
Para a mãe, o projeto é bem bem-vindo. É a prova de que o altruísmo, felizmente, ainda existe. “Fiquei alegre. Pelo menos tem alguém que lembra. É difícil uma pessoa querer ajudar”, afirmou.
Lucilene já ouviu uma parte da música que originou o projeto, mas não compreendeu muita coisa. Ficou mais na emoção. “Não entendi muito porque está em Inglês, mas ele explicou para mim. Disse que fala sobre a história e perguntou se podia colocar o nome do Maycon”, contou.
A canção “Our Eyes Are Still Closed” será tocada com exclusividade no show. Só depois é que a música e o videoclipe oficial serão disponibilizados ao público.
Show - Ingressos para a primeira apresentação do projeto serão vendidos a R$ 15,00 pela internet, no site http://www.naofecheosolhos.com.br/ ou na hora, pelo mesmo valor. A cotação é limitada.
No site, a opção de compra ainda não está disponível, mas a previsão é que seja aberto nesta semana.
Abaixo, assista ao vídeo de divulgação: