Glitter e unicórnio bombam em bloco que mais uma vez luta contra o assédio
E para quem não tinha fantasia, rolou até estúdio de maquiagem em plena folia
O Bloco Calcinha Molhada abriu a programação de Carnaval, neste sábado (3), arrasando no quesito animação. Pelo segundo ano, as meninas colocaram o bloco na rua levando diversão, respeito e diversidade para a Praça Aquidauana, no Centro.
Às 17h o local já estava lotado. Ao lado das tiaras de unicórnio, o público investiu pesado na purpurina ao invés de fantasia completa. Não faltaram homens e mulheres cheios de glitter no rosto.
O brilho fez sucesso, principalmente, com a banquinha de maquiagem improvisada pela maquiadora Bruna Bortone Michellis, de 19 anos, que levou pingentes e maletinha de cores para maquiar o público por um preço acessível.
Os desenhos eram de R$ 5,00 a R$ 15,00. Se alguém quisesse só uma, leve, purpurinada, Bruna cobrava R$ 2,00. “Faço maquiagem há um ano e desde que minha irmã fundou o bloco, ela sempre dizia para eu maquiar as meninas. Por isso decidi fazer isso no Carnaval”, conta.
Se tudo der certo, ela espera levar o kit para os próximos blocos. “Vamos ver como vai ser hoje, pelo visto todo mundo quer brilho”.
O publicitário, Mateus Calado, de 25 anos, colocou as cores do arco-íris no rosto e deixou um recado à diversidade. “Estamos numa fase de romper com os padrões é a luta por respeito é a maior batalha dessas mulheres”, diz se referindo ao bloco.
Uma das organizadoras, Raína Alencar, de 30 anos, não aguentou a emoção e chorou. "Foi um Carnaval que começou na brincadeira e de repente deu certo. Estou chorando de felicidade em ver que a gente conseguiu", declara.
Segundo Raína, as meninas lutaram meses para que o bloco saísse na rua e, mesmo assim, enfrentaram desacordos até os últimos minutos. "Passamos quase 6 horas a espera de uma resposta do prefeito, porque não tínhamos apoio. A gente só queria fazer uma festa bonita, com segurança e divertida. Mas nós mulheres somos fortes e provamos que nós também sabemos fazer o rolê acontecer", completa.
Além das maquiagens, as meninas da loja Frida-se bobaram com as tiaras coloridas que custam de R$ 15,00 a R$ 60,00. Quem não teve a oportunidade de comprar, elas continuam à venda na loja.
Xô assédio - No segundo ano de bloco, o Calcinha Molhada mais uma vez levantou a bandeira contra o assédio e a violência contra a mulher. O recado foi dado nos pré-carnavais, redes sociais e até em cartazes que foram espalhados pela praça entre postes e árvores.
A mensagem é simples: A mulher é dona do próprio corpo e merece respeito. Nessa vibe, as amigas Camila Ercilha Maldonado, de 20 anos, e Pamela Sales, 18, resolveram ir com cropped transparente, usando apenas um adesivo para tapar o mamilo, pelo direito de vestir o que quiser.
“Meu irmão não aprovou minha roupa, mas não é a mulher que tem mudar, é o homem que tem mudar o pensamento e respeitar a gente. Não vou sair de casa com outra roupa só porque eles sabem ficar sem assediar. Aliás, se eles ficam sem camisa, porque a gente não pode ficar sem blusa?”, questiona.
Enquanto tentava caminhar no tumulto, Camila recebeu até convite para uma foto, mas também escutou absurdos. “Tem pessoas que falam mal, falam umas besteiras e dá uma vergonha”, afirma.
Mas abraçado com Camila, o namorado Paulo Roberto, de 18 anos, dava o recado a quem quisesse passar dos limites. “Homem tem que respeitar e pronto. Elas respeitam a gente, temos que fazer o mesmo”, afirmou.
A drag queen Dandara Levith, 18 anos, apareceu brilhando no segundo ano do bloco como símbolo de resistência. “Ano passado sofri homofobia, tentaram jogar uma garrafa de vodca em mim porque estava montada. Até pensei em desistir de ser drag, mas recebi apoio e esse ano eu vim brilhar de novo”, declarou.
Com tanta propaganda, a universitária Maiara da Silva, 28 anos, sentiu a diferença nas primeiras horas de festa. “Até agora sofri três assédios, foi bem menor do que ano passado. Acho que a juventude vem tomando uma consciência. Mas ainda falta muito para mudar essa realidade”.
E se alguém tentar forçar a barra, elas prometem união. “No Carnaval os caras acham que podem passar a mão porque as meninas estão bebendo e se divertindo, mas a gente não vai deixar ninguém fazer isso, vamos se juntar e cobrar respeito desses caras”, diz a jornalista Luana Ayala, de 23 anos.
Fora dos limites – Mas nem todo mundo entendeu o recado. Nas primeiras horas de festa, além do assédio, um grupo de amigos usava da força para tentar beijar as meninas, usando algemas.
“Eles prendem e a se a gente não beija, não soltam”, afirmou uma das meninas que preferiu não ser identificada e acabou beijando para se livrar do grupo.
“Eu prendo e se não beijar, não sai”, diz Renan da Silva, de 18 anos. Lembrado pela reportagem que a brincadeira seria publicada no Lado B e que o lema do Carnaval é curtir a folia sem assédio, o jovem acrescenta. “A gente respeita se ela pede para soltar, mas a gente solta porque senão elas chamam a segurança”, completa.
O amigo Luan Mohamed, de 21 anos, ainda busca justificativa. “Somos de São Paulo e lá tem muito isso. Mas não estamos forçando, a gente até pesquisou antes para saber se a brincadeira ia rolar”.
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