Maria Fumaça chega à Orla com maquinista e adoça memória de quem viveu o trem
Inaugurado ontem, muita gente matou a saudade do trem ao som de Geraldo Espíndola
Com direito a fumaça, maquinista e muitas histórias, a chegada oficial da locomotiva de 20 toneladas na Orla Ferroviária, na noite de ontem (23), virou poesia na memória de alguns visitantes. Outros foram pela primeira vez visitar o local que há anos tinha sinais de abandono. Mas o melhor encontro da noite foi com o passado, representado pelo Monumento Maria Fumaça ,previsto para ficar eternamente no espaço que simboliza o desenvolvimento de Campo Grande.
Bem iluminada, com símbolo da NOB (Noroeste do Brasil) e inclinada como se estivesse levantando voo, a locomotiva foi a estrela. Além de muitas fotos, visitantes não negaram a vontade de subir no monumento e seguir viagem como no passado. Embora a locomotiva não saia do lugar, ninguém é impedido de viajar na imaginação.
“Veio boas histórias na minha cabeça, lembrei do trem que já é conhecido na minha cidade”, diz o carioca Fabiano Pinheiro, de 30 anos, que apesar da garoa colocou os filhos e a esposa debaixo de um guarda-chuva e foi conhecer o monumento. “É muito bonito voltar ao passado e ainda conhecer um pouco mais da história da cidade”.
Quem olhava de longe se indagava com um homem dentro da locomotiva, sem imaginar que em algum momento da noite o maquinista convidado para ficar no monumento faria uma surpresa, soltando aquela fumaça característica da locomotiva.
“Eu achei que era um boneco de cera, mas fiquei olhando e meu pai me disse que era verdade”, conta Camilly, de 10 anos que estava na companhia dos irmãos e não negou a vontade de viajar no momento. “A gente queria mesmo é subir”, diz.
Para o pai José Eduardo Barros, de 50 anos, militar da aeronáutica, a visita foi um privilégio. “Eu fui usuário da rede ferroviária e tive a sorte de viajar de Campo Grande até Maracaju de trem. A gente contemplava a natureza, tinha tempo de conversar com os amigos e tomar um tereré. Era uma viagem inesquecível na década de 80”.
Mas quem estava radiante era o maquinista aposentado Paulo César, de 64 anos, que atuou durante três décadas na Noroeste do Brasil. “Uma alegria, não tem outra palavra para descrever esse momento”, diz sobre o convite de passar a noite dentro da locomotiva que um dia foi sua segunda casa. “Esse monumento não represente só a nós maquinistas, mas todos os ferroviários, porque sem esses trilhos e essas madeiras que vocês estão vendo, o trem não passaria”.
Também ferroviário aposentado e figura notória da Esplanada de Campo Grande, Antônio Marques conhecido como Toninho Facada não saiu um minuto do lado da locomotiva, mesmo com a garoa que insista em cair. Com o mesmo chapéu desde a última leva de uniformes, ele foi vestido como quem nunca deixou o amor pelos 30 anos de funções na ferrovia. “É maravilhoso, uma lembrança que nunca pode apagar, isso foi o que trouxe o desenvolvimento para nossa capital linda”, diz emocionado.
Além de matar a saudade e adoçar a memória de quem viveu o trem, o monumento nasceu para revitalizar o trecho da Orla Ferroviária e colocar fim à situação de abandono que há anos afastava visitantes e turistas do local.
Moradora do Cidade Jardim, Luzia Paula Corrêa, de 54 anos, foi pela primeira vez à região da Orla Ferroviária. “Nunca tinha vindo, fiquei encantada. Viajei muito de Miranda até Bauru, onde fazia baldeação em São Paulo na Estação da Luz, então quando vi locomotiva senti muita saudade dos meus pais e da minha infância”.
Há duas semanas, quando equipes da Prefeitura chegaram com um baita guindaste na Calógeras com Mato Grosso, a empresaria Christian Gaspar ficou na janela admirada. “Vi um filme de 50 anos de história que já tenho com o Hotel Gaspar”, conta. Neta de Antônio Gaspar, conhecido como o pai dos viajantes desde a década de 60 também deixou sua marca registrada na história de ferrovia. “Era aqui que desembarcava pessoas para viver nessa cidade, para visitar os familiares, para ficar no hotel. Então ser presenteado com uma locomotiva que parece que está voando para o céu é muito lindo, estou encantada e vou fazer de tudo para preservar esse local junto com outros moradores”, promete.
A noite terminou com apresentações musicais e show de Geraldo Espíndola que lançou uma música inédita, feita especialmente para o monumento Maria Fumaça que é também uma homenagem aos 100 anos de Campo Grande como cidade emancipada.
No projeto completo, previsto para ficar pronto daqui quatro anos, a Prefeitura promete instalar bicicletário, wifi à vontade, equipamentos esportivos, playground e vagões de verdade destinados a secretarias que atenderão visitantes. A revitalização vai se estender a Praça Aquidauana que ganhará luminárias que durante o dia servirão de sombras e à noite encantarão pelo formato exótico. Mais à frente haverá quadra de esportes, espaço para venda de alimentos, parada para food trucks.
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