Nada mais lembra a glória da Chatanooga no endereço que empolgou a cidade
Tirando a entrada lateral, a fachada não lembra mais em nada a Chatanooga. Famosa boate dance dos anos 80 de Campo Grande, hoje dá lugar a uma casa de show sertanejos, na rua José Antônio, com direito a decoração rústica e tudo mais. A questão é que 28 anos atrás quem ditava as regras do divertimento na Cidade Morena eram os discos de vinil que chegavam da Europa e os DJ’s que comandavam as mesas da casa.
As novas gerações talvez sintam um pouco de dificuldade em compreender a importância da casa para a juventude da época. Mas era a boate que, nos tempos de glória, recebia as celebridades que passavam por aqui. Gente como Ana Paula Arósio e Ney Latorraca pisaram no carpete do lugar.
Quem conta um pouco dessa história para a série do Lado B, com recordações de bares e lugares que marcaram Campo Grande, é o DJ e publicitário Elton Almeida, 47 anos.
Apaixonado pelos tempos de Chatanooga, ele conta que a primeira vez que viu a boate percebeu que jamais deixaria a música. “Fiquei de boca aberta, era outro mundo, diferente de tudo que a gente já tinha visto em Campo Grande. A Chatanooga abriu em 1987 e na época só tinha duas casas aqui, a Xadrez e a Toca do Gato. A Chatanooga era linda, era outra coisa, cheia de glamour”, relembra.
Segundo ele, o glamour era tanto que nem rolava as dancinhas que fizeram sucesso nos anos 70. “Era deselegante”, brinca, para completar que na casa todo mundo não descia do salto. “Nem o dono esperava, mas a elite começou a frequentar a boate. O pessoal parecia que estava vindo para um casamento, ficávamos espantados”, explica.
O espaço era bem amplo, com sofás na parte de cima e um globo grande no alto. Essa era a segunda boate dos proprietários no país, sendo que a primeira foi aberta em Ribeirão Preto.
“Nós já tínhamos a Chatanooga em Ribeirão e estava indo bem quando decidimos abrir outra no país. Começamos a pesquisar e pensamos inicialmente em abrir e São José do Rio Preto, mas minha irmã havia se mudado para Campo Grande e eu vim visitá-la. Conheci Campo Grande e achei que aqui vivia um momento melhor para abrir a boate”, afirma Eduardo Martins, o ex-proprietário não só da Chatanooga, mas também da sucessora, a Mr. Dan.
Elton diz que começou a tocar na casa por influência de um amigo DJ, que também trabalhava no lugar. “Durante oito meses eu fiquei na iluminação. Eram três DJ, o Renato Cabral, que veio de Ribeirão Preto na época que a Chatanooga de lá estava em reforma, o Wilson Jallad, neto do ex-governador Wilson Barbosa Martins e o Pardal, que era o meu amigo”, explica.
Já no final de 1988, Renato precisou voltar para Ribeirão, Jallad deixou as cabines e Pardal assumiu as mesas. “Um dia, lembro que era festa de Direito, a casa estava com lotação máxima, mais de mil pessoas. O Pardal sempre teve um temperamento forte e acabou se desentendo com o pessoal da boate. Ele virou pra mim e disse: Vamos embora daqui. E isso durante a noite, eu fiquei sem saber o que fazer, mas pedi desculpas e decidi ficar”, afirma.
Emocionado ao citar o momento decisivo da carreira, Elton confessa que não sabia como terminar a festa, mas que por amor à música e à casa fez o que podia. “O Pardal era muito meu amigo e faleceu já, a gente se acertou depois. Era meu sonho, eu era realizado ali, daquela noite em diante eu treinei todos os dias, fiquei sem dormir, na verdade dormia na Chatanooga para aprender a ser DJ, o Renato e o Dozinho (Eduardo) me ajudaram muito, me ensinaram muito”, diz.
Renato acredita que a sociedade campo-grandense vivia um momento de transformação. “O Shopping Campo Grande também inaugurou em 1988 e parece que com a chegada dele a mentalidade das pessoas mudou. Elas saiam mais de casa, não sei explicar direito, mas influenciou muito”, afirma. A Chatanooga fechou em 1999. “No mesmo ano eu abri a Mr. Dan. Resolvi fechar porque o movimento havia diminuído, a casa tinha completado o ciclo, era preciso renovação. Ela ficou fechada um tempo, depois eu arrendei e abriram com outro nome. Já a Mr. Dan começou a se tornar referência”, indica.
No passado, só restaram às lembranças sempre revividas ao som de La Bouche ou outro eurodance. “Antes precisávamos encomendar discos, era tudo LP importado dos Estados Unidos, eu conseguia mais por Ribeirão Preto. Para você ter ideia a gente gravava fita cassete dos LP’s por $ 20 dólares, os clientes pagavam para ter porque era raro e difícil conseguir. Hoje, o DJ perdeu um pouco disso, você não escolhe muito que tocar, acaba virando um jukebox das festas, onde o público sempre pede o que quer ouvir”, diz Elton.