Nasi passa mal e Gaby toca só meia hora na despedida do MS Canta Brasil
A última edição do MS Canta Brasil terminou às 22h40 deste domingo. A terceira atração da noite, Gaby Amarantos, ficou no palco apenas 35 minutos. E o vocalista do Ira!, Nasi, se sentiu mal a ponto de se sentar durante o show e fazer uma pausa entre o encerramento e o "bis". O mau tempo trouxe consigo uma garoa e umidade que levaram ao Parque das Nações Indígenas, em Campo Grande, só quem estava mesmo afim de se despedir do projeto.
O tempo instável atrasou a demora na passagem do som e consequentemente, o começo dos shows. Previsto para 16h, foi às 17h45 que Zé Pretim abriu a 50ª edição do MS Canta, ao som de "Trem do Pantanal" na versão blues. Para "acelerar" as apresentações, foi pedido à Gaby Amarantos, que mantivesse um ritmo mais rápido. No entanto, ela encerrou a participação cantando o repertório em 35 minutos. Das 20h35, horário em que Gaby deixou o palco, só às 21h15 que o mais aclamado show da noite, Ira!, deu início à apresentação.
Ira! cantou clássicos resgatando um pouco do rock antes do trabalho acústico da banda. Nascido na década de 80, o grupo voltou a se apresentar em 2014, depois de uma pausa de sete anos. A quarta formação traz de volta, após uma reconciliação, Nasi, no vocal e Edgard Scandurra na guitarra.
Em 1h10 de show, o repertório incluiu “Flores em Você”, “Envelheço na Cidade”, “Eu Quero Sempre Mais”, “Tarde Vazia”, “O Girassol” e a inédita “ABCD”. No entanto, no meio da apresentação, Nasi já mostrou cansaço e que não estava tão bem disposto.
O vocalista deixou de cantar e jogava mais para o público tocar as músicas. Em determinado momento, ele se sentou até recuperar o fôlego. Às 22h30, quando o grupo anunciou a despedida, a banda deixou os holofotes e Nasi foi atendido pelos colegas. Para eles, disse que havia tido uma taquicardia.
Depois de Nasi se recuperar, a banda voltou para cumprir o bis com mais duas canções. Ao final do show, a produção informou que o grupo estava muito cansado e que por isso não haveria entrevista coletiva e nem fotos.
A formação atual tem Daniel Rocha, filho de Scandurra no baixo e JohnnyBoy, na guitarra e teclados e Evaristo Pádua na bateeria. Ao deixar o palco, Johnny Boy falou pouco ao Lado B no caminho da escada ao camarim. "Estamos virados até agora", respondeu ao ser perguntado da turnê que deu o pontapé na Virada Cultural paulista, em maio. Em relação aos planos para 2015, ele disse que a banda está aproveitando para compor e que vem um trabalho legal por aí, mas que por enquanto, se resumem a "matar a saudade da estrada juntos".
Despedida - A última edição já despertou no público uma certa "saudade" dos 50 shows que passaram, de graça, aos domingos, no Parque das Nações Indígenas ao longo de oito anos. O número de público esperado era digno de entrar para o "recorde". Mas a chuva atrapalhou um pouco.
No primeiro intervalo, o público foi recebido com música eletrônica. Pela primeira e última vez, o DJ de Campo Grande, Renato Tulux, mostrou seu trabalho em três sets. Antes das 19h, a segunda atração já subia ao palco, o cantor Dani Black, filho de Tetê Espíndola e um dos nomes que mais tem se destacado na MPB.
No palco, Dani Black brincou por vezes com o público, cantarolando "chove chuva, chove sem parar" e disse o quanto se sentia bem em tocar na casa que é sua antes de nascer. Nascido em São Paulo, Dani enumerou a quantidade de tios e primos da família Espíndola que vivem aqui. Em sua apresentação, Dani anunciou que, de improviso, cantaria uma das novas canções "Seu gosto", que faz parte do seu novo disco, o terceiro trabalho que ainda será lançado, da carreira do músico.
Acabou? - A presença da música eletrônica no show foi depois de várias tentativas do próprio DJ de se apresentar aqui, de graça. Renato Tulux tem hoje 30 anos e mais de uma década de trabalho. "Eu tinha tentado ano passado, sempre teve músicos do Estado, mas eram só bandas", conta.
Em clima de despedida, o diretor-presidente da Fundação de Cultura do Estado, Américo Calheiros, descreveu como parece que tudo começou ontem. "50 edições de shows não é brincadeira, passou assim e de repente chegou o último", comentou.
Criado em 2007, nos três primeiros anos o projeto contemplou começou shows de março a novembro. Já nos dois últimos anos, a produção caiu para cinco apresentações por ano até encerrar em seis o projeto. "Destes, nós tivemos só quatro shows adiados pela chuva", pontua.
Sobre como será o futuro do projeto nas mãos do próximo Governo, Calheiros diz que será outra gestão. "São outras pessoas, outra gestão. É difícil dizer deles, então não opino", frisa. Mas afirma que o projeto cumpriu seu papel dentro de uma política pública de dar acesso às manifestações culturais.
No público, a saudade bate ao mesmo tempo em que vem o a ansiedade do que será da cultura ano que vem, mais especificamente quanto ao MS Canta. O nome pode mudar, assim como a administração, mas a fórmula, aos olhos dos espectadores, é boa e merece continuidade.
"Tem que continuar. Isso é cultura, a gente já não tem muita coisa na cidade", comenta a acadêmica de Biologia, Laís Albuquerque, de 21 anos. A irmã, Larisse, de 26, emenda que o projeto é, para algumas famílias, uma opção de lazer singular por ser de graça e aos domingos. "Se não fosse bom, a galera não estava na chuva. Só precisa voltar com frequência", completam.
Entre os palpites, de como o projeto deve continuar, surgem nomes de Chico César à Ivete Sangalo. Os amigos Murilo Fratari, de 36 anos e Andrielly Alves, de 33 anos, elogiam o evento por ser gratuito e bem organizado, além de já ter entrado para o calendário cultural do Estado.
"Acho que é legal continuar todo primeiro ou último domingo do mês. Todo mundo se organiza para vir", relata Andrielly.
Para o professor Volmir Cardoso, de 30 anos, o que deve permanecer é também o cunho alternativo. "Acho legal ser diversificado porque também consegue atender públicos diferentes. Neste trouxeram Gaby Amarantos que tem um apelo popular e o Ira!, do rock de década de 80. A gente espera que o governo novo tenha essa mesma perspectiva e possa privilegiar também o alternativo, dando espaço para mostrar o trabalho deles".
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