No Carnaval da covid, bloco "Não saio nem na esquina" fez maior sucesso
Se tratando do tradicional ponto carnavalesco dos campo-grandenses, Esplanada Ferroviária virou "deserto" em tempos pandêmicos
É minha gente, o Carnaval 2021 vai entrar para a história como a folia mais "paradeira" de todas. Já era de se esperar. O que tivemos "sorte" no ano passado – de inocentemente curtir as aglomerações e os bloquinhos de rua – de lá pra cá virou a maior pandemia de todos os tempos. As águas de março até voltaram a fechar o verão, mas foi a covid-19 que continua a isolar tanto coração.
O Lado B nunca imaginou ter que noticiar um Carnaval tão assim… sem festa. Na Esplanada Ferroviária, o ponto mais "quente" e tradicional para os foliões campo-grandenses, não tinha uma alma viva. O clima era tão de deserto que nem precisou daquelas bolas de feno a rodar perdidas no meio da rua, cena clichê de um filme de faroeste. Sequer teve selinho, o que dizer então de beijo a 3 e quádruplo? Gole de catuaba desta vez não matou a sede, porque nem sede tinha. Música alta, então, foi trocada pelo silêncio e cricrilar dos grilos – a diversão ficou mesmo em casa. De todos os blocos (o único, pelo menos), "Não saio nem na esquina" foi o que fez o maior sucesso.
"Eu era daquelas que costumava sair nas matinês e 'noturnês', ficar o dia todo fora, curtindo o Carnaval. Até ano passado que não estava muito carnavalesca saí de casa e vim parar aqui na Esplanada. Foi muito bom", relembra com saudade Vanessa Conceição, 30 anos. "Agora só rolê mais de boa com o 'mozão'", brinca.
Ao lado da namorada Cris, as duas estavam só esperando o motorista de aplicativo chegar para voltarem pra casa – já era quase horário do toque de recolher. Como muita gente neste ano, elas também trocaram a fantasia, purpurina no corpo e o copo descartável de bebida alcóolica barata por um passeio tranquilo na Feira Central.
O que era para ser a maior aglomeração de foliões virou "aglomeração" de carros estacionados – coisa que nunca aconteceu antes porque justamente nos dias de Carnaval a "feirona" não tinha o costume de abrir. Para quem ganha um dinheirinho cuidando dos veículos ali estacionados, até que o Carnaval de "paradeira" não foi tão ruim assim.
"Eu nem ia vir. Foi um colega meu avisar que por aqui estava funcionando normalmente que resolvi arriscar. Até que para um Carnaval de calmaria o movimento está bom", agradece Laudelino Vieira dos Santos, o "flanelinha" autônomo que fica de olho nos carros estacionados na Calógeras, bem em frente a uma das entradas laterais da Feira Central.
Quem também não tem o que reclamar sobre o Carnaval deste ano são os vizinhos do bairro. "Por aqui tem muito ex-ferroviário, gente das antigas, idosos. Então quando tinha pessoal festando, era muita sujeira nas ruas e aquele cheiro de urina nos muros, um horror. Menos uma preocupação", justifica Laudelino.
Adaptação – Quem um dia tinha o costume de frequentar o bloco "Turma do Mel" agora foi parar na turma do sobá. Alice dos Santos de Souza, 21 anos, disse que já passou da fase de sair por aí curtindo os Carnaval de rua. Agora, ao lado do namorado Matheus, 26, prefere um rolê só a dois.
"Confesso que eu até gostava de uma bagunça, mas agora não mais. Tudo depende do nosso espírito, né? De como a gente está. Foi bom ter curtido este sábado de pleno Carnaval de um jeito mais 'zen', é diferente", ressalta.
Adaptação, inclusive, que era possível observar nas ruas. No quadrilátero das ruas 14 de Julho, Calógeras, Antonio Maria Coelho e parte da avenida Mato Grosso nas proximidades da Esplanada, tapumes impediam o livre acesso. A Guarda Civil Metropolitana ficou responsável pelo patrulhamento. Conversando com dois policiais civis que estavam de plantão, eles admitiram: "este com certeza já é o Carnaval mais sem graça de todos".
Já para o casal Débora de Lima, 29, e Márcio de Melo, 33, se houvesse Carnaval "de verdade" os dois nem estaria ali, mas sim deitados na cama, debaixo da coberta, com o ar-condicionado ligado e vendo um filminho no conforto de casa.
"Não somos nenhum pouco carnavalescos, então esse lance de muvuca não é com a gente. Por isso estamos aqui. Vamos à Feira Central beber e comer um pouquinho, ficar 'sussa' e voltar direto pra casa. Somos desse bloco", esclareceram.
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