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Diversão

Único baile de clube resiste bravamente há 17 anos e tem até personal de dança

Ruth Ribeiro, de 72 anos, organiza o evento todos os domingos no Libanês, festa mantida pela animação da terceira idade.

Thailla Torres | 20/11/2017 07:53
Salão já não fica lotado, como em tempos de glória do Clube Libanês.
Salão já não fica lotado, como em tempos de glória do Clube Libanês.

Com a notícia de que  o Clube Libanês tenta se livrar de prédio há anos, foi uma surpresa ver o tanto de carro estacionado na frente do espaço na Rua Dom Aquino. Do lado de fora, quem passa escuta o som do teclado e as vozes que ecoam do palco em ritmos de chamamé, guarânia e bolero. Por isso, o Lado B decidiu entrar para ver de perto o único evento que resiste ali por tanto tempo.

Quem chega, depois de pagar R$ 13,00 pelo ingresso, é recebido pela simpatia de Ruth Ribeiro, de 72 anos, que de cara não abre mão do beijo e abraço. Ela quem aluga o clube aos domingos e realiza o "Baile da Melhor Idade" há 17 anos.

Apesar de alguns rostos jovens pelo ambiente, o evento só é mantido graças ao público da terceira idade. Para ter certeza, é só olhar a pista de dança e conversar com a dona. "Sim, eu faço a festa para eles. Porque lugar pra moçada tem aos montes nessa cidade, mas quem já está envelhecendo também merece diversão", justifica.

Ninguém nega uma dança para seu Dário.
Ninguém nega uma dança para seu Dário.

Mas isso não significa que o lugar abre mão da rédea curta, assim como em outros bailes da cidade, Ruth é exigente. Não permite mulheres com short curto, minissaia ou vestido curto. E não adianta extrapolar, porque ela está pronta para dar o sermão.

"Eu coloquei essa regra porque minhas senhorinhas reclamavam. Elas não se sentem bem e acho isso justo. Então é melhor que todo mundo venha comportado", justifica. 

E por sorte, ninguém ousou desrespeitar as regras até hoje, o que fez do lugar um ótimo ponto para diversão aos domingos. Além da cerveja gelada vendida de R$ 4,00 a R$ 7,00 a lata, o cheirinho de carreteiro que vem da cozinha é outro convite. O prato de R$ 7,00 é bem servido e quem já comeu aprova.

"É o melhor carreteiro dessa cidade", afirma Dário Dotto, de 90 anos, que frequenta o baile todos os domingos. Com camisa bem passada e todo engomadinho, Dário é a sensação da pista que se exibe por ninguém recusar um convite. "Sou mais conhecido que tudo nesse baile. Tem até mesa reservada e ninguém me recusa uma dança", mostra.

O Libanês é a escolha para muitos casais que procuram um lugar para se divertir. Juntos há 55 anos, Jovete Galdino da Silva, de 73 anos, é quem arrasta o marido José Mauricio da Silva, de 81, para o baile todo domingo. E só faltam em caso de urgência. "Se a gente não vier, pode nos procurar porque alguma coisa aconteceu. Pra gente esse baile é tudo, na verdade a dança é tudo pra gente", diz a esposa. 

Ruth e José Carlos administram o espaço há 17 anos.
Ruth e José Carlos administram o espaço há 17 anos.

Mas se engana quem acha que só vai encontrar vovôs pelo salão. Alguns homens mais jovens vão como acompanhantes para serem personal de dança, contratados pelas senhoras que também querem dar um show na pista. O desossador Erivaldo de Jesus, de 35 anos, cobra R$ 40,00 a hora de dança. O ofício começou há oito anos quando descobriu a dança de salão. "Era muito tímido e resolvi dançar. Um dia me falaram sobre ser personal e acabei topando. Hoje tenho clientes fixas".

Aos 72 anos, Sueli Duarte, não se importa em pagar pelo serviço. Viúva, ela nunca abriu mão de dançar depois que o marido se foi e para não ficar sem acompanhante investe na parceria de Erivaldo. "É o que me faz bem, gosto de dançar e acho que o ritmo mantém a gente viva".

É assim com Tina Medalha, toda vaidosa, de vestido vermelho e perfumada que chega na pista de dança com classe. A aposentada contrata um professor de dança para acompanhá-la, que cobra mais caro, mas ela não abre mão do desempenho. "Sempre amei dançar e a gente acabou se dando super bem. Eu acho ótimo", diz.

Quem conduz a dança é Ricardo Franco, de 56 anos, que é professor de dança de salão e cobra R$ 100,00 a hora.

Tina contrata Ricardo e os dois dão show na pista.
Tina contrata Ricardo e os dois dão show na pista.

No palco o som é comandado por Amância e Banda BM2 com Janaina no vocal e Amâncio no vocal, Benito no teclado e Silvinho no violão. "Hoje é a melhor banda de bailes que você encontra na região, eles já tocaram em toda América do Sul trazendo muitos ritmo", afirma José Carlos Ribeiro, que administra o local junto da irmã Ruth.

Com público de 300 pessoas a cada domingo, atrás do balcão Ruth se emociona, ao ver o sucesso de um baile que resiste em meio a decadência do clube. "Tem como não ficar feliz? Eu repito que não largo esse baile por nada. E mesmo que os donos consigam vender, a gente aluga de novo, mas a festa sempre vai continuar", garante.

Quem quiser conhecer, o Clube Libanês fica na Dom Aquino, 1879, Centro. Só funciona aos domingos das 18h às 23h. A entrada custa R$ 13,00.

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