Virou moda abrir 'pub', mas será que Campo Grande tem algum digno do nome?
Já dizem memes por aí: "Em Campo Grande, só falta loja de colchão ou rede de farmácia virar pub". O conceito é usado a torto e à direita por donos de casas noturnas e bares na cidade. É uma onda de pubs que de uns anos para cá só mostra o quanto, de pub mesmo, a gente não tem nenhum.
Coronas, Valley, Jimmi, Jack, Vegas, Room 01 são as principais que tem "pub" agregado ao nome. Na origem, a palavra deriva do formal inglês "publichouse" e surgiu de estabelecimentos privados, ou seja, casa de pessoas que recebiam convidados para se alimentarem ou beberem. A ideia nasceu mais como uma "hospedaria" para viajantes. O que explica a aparência acolhedora que os espaços que levam este nome precisam ter.
Seguindo por esta linha de raciocínio, só o Barô, bar recém aberto no Jardim São Bento, carrega essa tradição inglesa. Os donos abriram a própria sala de casa para receber. E justamente o único da legião de bares que não carrega o nome pub é o que mais se aproxima de ser um.
DJ e produtor, André Garde tem vivência de anos na Inglaterra e compartilha do mesmo pensamento, que Campo Grande aderiu a moda só no nome mesmo. Quer uma prova disso? A principal característica de um pub é universal: "Nos pubs ingleses você paga e pega a bebida no balcão do bar. Pode até ter garçom, mas só para levar o prato até a mesa depois de já pago. Não existe ficha ou comanda", descreve.
A experiência de André, de oito meses como chef de cozinha em um pub, o fez entender que, para os ingleses, o lugar precisa ser uma saída "completa". "Sem ter que ficar pulando de restaurante para bar", explica. Se baseando no pub onde ele trabalhou, a casa era fechada com ambientes para sentar e comer, além de um espaço para dançar e uma sala de jogos, com dardos, item que não pode faltar nos bares ingleses.
"Pub tem que ter comida, além de bebida e música. Mas a minoria tem isso aqui. No meu conceito, é um lugar de entretenimento completo. Onde você pode comer, não apenas um petisco, beber uma variedade considerável de bebidas e cervejas principalmente e se divertir, assistindo a um jogo ou dançando", descreve.
A arquitetura também chama atenção: todos têm muita madeira, piso de carpete, sofás de couro e sugerem uma sala de casa mesmo, bem confortável, segundo observação do DJ. E quem são os clientes? Na maioria, os moradores da própria região.
Dono de um pub, do Jimmi, Júlio Fraide, de 29 anos, conta que dentro da casa ele e os sócios tentaram trazer o máximo das características. O balcão que representaria uma delas já fazia parte da estrutura do negócio antes de virar pub.
"Como já tinha um pouco, pela questão do balcão, a gente inseriu a temática que lembrasse. Mas apesar de ter um pouco de pub, é um pouco distante mesmo", justifica.
O que ele conta como característica é o fato de ser um bar menor e mais aconchegante. "O cliente pode, se estiver sozinho, sentar no balcão e ser atendido no próprio bar, mas o que mais a gente tem mesmo é a temática do rock'n roll", explica Júlio.
O palco toca o estilo e por não ser alto, fica mais próximo do público que também pode interagir. "É que às vezes se faz um grande investimento numa coisa que seria a identidade de um pub, mas não se tem retorno, porque em Campo Grande, ser do rock é ser contra a maré. Aqui só se ouve sertanejo", pondera o dono.