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"Depressão Pós-Ipanema". Será que isso é possível ao voltar para Campo Grande?

Rafael Antonio França, especial para o Lado B | 30/12/2013 06:30
Rafael, agora malhando como nunca.
Rafael, agora malhando como nunca.

E tudo mudou depois daquele Verão. Na minha adolescência, sempre pratiquei esportes coletivos. Tive a infância recheada de futebol, handebol, basquetebol e voleibol. Tudo isso me ajudou a manter um corpo bacana, sem academias ou dietas mirabolantes. De quebra, vinha a bagunça de estar entre amigos e sempre rolava um after com bastante comida e bebida. Talvez a paixão pelo coletivo tenha vindo até daí.

E como não poderia ser diferente, veio a fase de estudos, faculdade, namoro, trabalho, saída da casa dos pais, independência, etc. Entretanto, com todas as responsabilidades da vida adulta, voltei aos esportes num ritmo bem menor. Um voleibol no Belmar, basquete no Parque das Nações, corridinha na Afonso Pena.

Academia de musculação e estilo de vida saudável nunca foram o meu forte. Fui apaixonado pelo fast food a vida inteira. Ter que levantar peso e me privar de comer uma grande porção de batata fritas era algo que não gostava nem de pensar.

Ser um atleta de finais de semana, aliado à genética, me ajudaram a manter o corpo bacana até os meus 32 anos, quando tive um acidente num jogo de voleibol e rompi o ligamento do joelho esquerdo.

Passada a fase do gesso e fisioterapias, que não acabava nunca, o médico veio com a notícia de que precisaria de cirurgia para a reconstrução do ligamento. Como meu trabalho exige viagens semanais, renunciei a possibilidade de operação, pois isso iria impossibilitar-me de trabalhar por uns 6 meses. O fato de morar sozinho e não poder contar com ajuda para o banho, caronas para o trabalho, almoço, fisioterapias e jantares reforçaram a decisão de não operar, pelo menos naquele momento.

Com isso, o único prazer que tinha era ficar entre amigos, barzinhos, lanchonetes e restaurantes. Comecei a comer compulsivamente. A consequência disso tudo veio gradativamente. As camisetas pularam de M para G, a numeração da calça de 42 para 44, 44 para 46. Tudo isso em um curto espaço de tempo. Mesmo sabendo que estava ganhando peso, tinha uma justificativa única para quando os amigos falavam sobre o assunto. “Ah, eu sou um gordinho feliz”. “Não vou me privar de comer um X-bacon”.

O final do ano chegou. O Rio de Janeiro me aguardava junto aos amigos para férias e virada do ano. Percebi que minhas roupas estavam apertadas e resolvi passar no shopping para aquelas compras de final de ano – gasto desnecessário, principalmente, quando se vai para o litoral – e para minha surpresa de 46 passei para o 48.

Chegando ao Rio de Janeiro, com toda aquela euforia de curtir ao máximo a temporada, comecei a perceber que era invisível aos olhos das pessoas que estavam ali. Nenhuma paquera, nenhuma troca de olhar. Talvez, no máximo, um olhar de reprovação pelo tamanho da minha barriga e circunferência abdominal, afinal estava eu na segunda cidade mais sexy do mundo.

Mas a estética não era o mais importante, comecei a perceber que os passeios eram dificultosos. Andar do Leblon até Ipanema me cansava, ir aos pontos turísticos, enfrentar as subidas e descidas e filas me esgotavam. Amarrar o sapato tornou-se uma odisseia, subir ladeiras era quase a morte. E as fotos? Meu Deus. Cada postagem no facebook e marcação me arrepiavam.

Ao término de janeiro veio a fatídica DPI, que chamei de depressão pós-Ipanema. Perguntei-me: Como pude fazer isso comigo? E me lembrei do tal amor próprio. E agora? Não tinha dinheiro para uma cirurgia plástica, uma abdominoplastia, uma lipoaspiração. O que cabia no meu orçamento? Foi quando parei, respirei e comecei a notar que as pessoas estavam mudando os velhos hábitos. Antes, após o expediente as pessoas iam pra casa, faziam a janta, sentavam em frente de casa pra tomar um tereré e ali ficavam, por horas. Notei que quando encerrava o expediente, as pessoas estavam de tênis, roupa de ginástica e caminhando para a academia, parques e avenidas.

Resolvi mudar tudo. Ao invés de dietas malucas, procurei uma nutricionista e comecei o processo que achei que não iria durar um mês. Ledo engano. Os resultados começaram a vir de uma forma muito rápida. O processo de substituição dos fast-foods não foi tão doloroso. Reeduquei-me, coloquei o relógio para despertar e comer nos horários corretos, de 3 em 3 horas no máximo, numa quantidade invejável a um passarinho faminto. E ainda hoje é assim. Somente com essa reeducação alimentar consegui reduzir de 106 para 92 quilos.

Fechando a boca? Sim! Bom, agora faltava cuidar das questões estéticas. A academia e a suplementação alimentar me ajudaram a perder o restante dos quilinhos. Fiz exames médicos, cardiologistas, endocrinologistas e outros "gistas" da vida que contribuíram para eu ficar com o corpo que nunca tive, nem durante minha adolescência.

Hoje a “dieta” leia-se - modo de empregar o que é necessário à conservação da vida, tanto em saúde como em doença – para mim passou a ser chamada de reeducação alimentar. Comer direito, de forma saudável tornou-se um hábito. A substituição de alimentos gordurosos, ou “graxa” como diz minha nutricionista, não é mais uma tortura. Exercícios físicos são uma constante, não uma rotina, uma constante. Rotina, segundo o dicionário, é o hábito de fazer uma coisa sempre do mesmo modo, mecanicamente, apego ao uso geral, sem interesse pelo progresso. E aí que está a diferença. Quero ascensão sempre. Progresso.

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