A pessoa acha ser só "gordinha", sem entender que a obesidade já se instalou
Alvo de preconceito e muitos mitos, a obesidade e o sobrepeso atingem mais de 50% da população brasileira. A síndrome que cresce a cada dia tem multifatores como causa e nem sempre é aceita de imediato pelo paciente, que demora a procurar o tratamento correto. Anualmente, o dia 11 de outubro é destinado a esclarecer em todo o mundo as alternativas para superar o problema.
Doutor em Endoscopia Digestiva e Gastroenterologia pela Unifesp, pós-doutorado BIDMC/ Harvard Medical School, membro da Sociedade Brasileira de Endoscopia Digestiva pela Sobed e sociedade americana de endoscopia digestiva, Marcelo Cury tem experiência para ser enfático: “A comunidade olha para o obeso e acredita que ele é lerdo, preguiçoso. O combate a obesidade é como qualquer outra doença. Não significa que a pessoa não pode trabalhar e exercer suas atividades”, explica.
Com a popularização de frases como “só fechar a boca que emagrece”, o problema se torna ainda mais difícil de tratar. “Há multifatores, além dos problemas hormonais e físicos, estudos indicam que as bactérias do nosso intestino quando alteradas podem ser uma das causadas da obesidade”, indica.
O primeiro passo é também o de outras doenças que dependem da aceitação. A pessoa aceita ser "gordinha" sem entender que a obesidade já se instalou. Depois, o desafio é aceitar o tratamento, a alimentação saudável e uma rotina de exercícios. “A alimentação com muita gordura e muito açúcar. É difícil para a pessoa perceber que está com a doença, que momento que ela tem sobrepeso e em que momento ela é doente”, afirma Marcelo.
Essa confusão faz com que a comunidade médica reveja os seus preceitos. Atualmente, o IMC (Índice de Massa Corpórea) é o responsável por definir quem está no limite. O cálculo entre peso e altura que resulta em menos de 24,9 é considerado normal, acima, de 25 a 29,9 indica sobrepeso e a partir de 30, obesidade. “Os valores poderão ser alterados no futuro, aumentando essa faixa de transição para mais”, ressalta.
Por enquanto, o que vale é bater na tecla da alimentação saudável, sem o uso de produtos e alimentos processados e da prática diária de exercícios físicos. “Priorizar as frutas e verduras e não os industrializados. O que sabemos é que a obesidade tem o início lá na primeira infância, por mais difícil que seja para os pais é preciso que eles insistam na alimentação saudável dos filhos. Se a criança não quiser comer na primeira refeição, ela não vai passar fome com a oferta de alimento, o organismo não deixa, então mais cedo ou mais tarde ela vai comer”, frisa.
A tendência é que a obesidade se torne um problema apenas de quem não tem acesso ao conhecimento. “Quem não tem acesso a informação frequentemente se rende aos industrializados, porque são baratos e fáceis. No fim, esses produtos são apenas gordura e carboidrato”, esclarece Marcelo.
Mesmo que a corrente da sociedade atual valorize os produtos industrializados, o preconceito que prejudica a busca por uma vida mais saudável não pode se sobressair.
“Nós estamos em uma sociedade que prioriza uma alimentação em excesso. Se você vai em uma churrascaria precisa comer muito para ser saudável e isso não é verdade. A gente vem de uma cultura que deixar comida no prato é errado por causa dos nossos pais, que viveram no período pós-guerra. Mas, hoje, o certo é servir apenas o que tem consciência que consegue consumir. Comer em excesso também é um problema, não só deixar no prato”, acredita o médico.