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Apostando em quem tem o tato aguçado, curso transforma cegos em massagistas

Paula Maciulevicius | 04/10/2016 06:39
Samuel, ao fundo, massageando a colega Adelaide. (Fotos: Paula Maciulevicius)
Samuel, ao fundo, massageando a colega Adelaide. (Fotos: Paula Maciulevicius)

Quando se perde um sentido, os outros se tornam mais aguçados. Dentro deste contexto, as mãos entram em cena quando os olhos não enxergam. Desde agosto, a turma ao redor das macas na sala de cursos do Ismac (Instituto Sul-mato-grossense para cegos Florivaldo Vargas) está aprendendo massoterapia. Uma parceria do Instituto com o Senac e que de quebra vai abrir horários para clientes com massagens gratuitas em dezembro. 

As aulas teóricas são descritas e as práticas, feitas uns com os outros. Samuel e Adelaide se revezam nessa parte. Ora ele massageando, ora ela treinando as mãos. Servidor público federal, Samuel Pretto enxerga apenas 5% e vê na massoterapia, uma segunda profissão. 

"Já tivemos a técnica de relaxamento, modelagem e agora vai entrar nas drenagens linfáticas", conta o aluno Samuel, de 43 anos. Ele sabe que por ter mais sensibilidade, consegue atender melhor os clientes. "Porque a gente pode perceber coisas que muita gente não consegue, hoje, por exemplo, Adelaide está tensa, mas pode ser que seja pela reportagem", brinca. 

Curso ensina usando o colega como "cobaia" e aulas descrevem cada um dos movimentos.
Curso ensina usando o colega como "cobaia" e aulas descrevem cada um dos movimentos.

De aluna a paciente, Adelaide Cândida da Silva, que tem 62 anos e não enxerga desde os 7, explica como é aprender no próprio corpo. "É uma técnica um pouco difícil, então tem que ser explicada passo a passo. Você aprende no colega e na gente mesmo", diz.

A ideia do curso é dar oportunidade de trabalho e rendimento extras aos deficientes visuais. A próxima turma deve ser montada a partir de março do ano que vem. 

Fisioterapeuta, é Luiza Helena Gasparini, quem ministra as aulas pelo Senac. "O desafio foi adaptar os materiais e a forma como você vai passar a técnica, mas ao mesmo tempo em que é um desafio, compensa pelo crescimento pessoal e profissional", diz. 

Ela usa a sinestesia e as sensações para trabalhar cada aula. "A gente descreve passo a passo e eles sentem neles mesmos para conseguirem ter a percepção do que é ensinado", explica.

O projeto é gratuito, existe desde 2008 com o nome "Mãos que trabalham" e já formou 54 massoterapeutas. As inscrições para o próximo curso devem abrir em março, mas os interessados em ser "cobaias", podem esperar pela prática supervisionada que será em dezembro.

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Ideia é fazer da massoterapia uma profissão.
Ideia é fazer da massoterapia uma profissão.
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