Cidade tem espaço onde a conversa sobre sexo e proteção é sem tabu
No CTA é possível conseguir tudo para evitar uma infecção sexualmente transmissível
“Ninguém quer que você não transe, só que é importante que se faça isso com segurança”
A explicação acima é do clínico geral Roberto Braz sobre um dos principais objetivos do Centro de Triagem e Acolhimento (CTA). A unidade pertence à Prefeitura Municipal de Campo Grande e lá, a população encontra diversos serviços para proteção e tratamento de Infecções Sexualmente Transmissíveis (ISTs). A conversa toda acontece sem vergonha e sem julgamentos, pois o importante é que todos estejam bem esclarecidos sobre como se proteger contra doenças na hora de transar.
De acordo com Roberto, a maioria das pessoas ficam com muita vergonha de ir ao CTA. “Muita gente acha que se for vista aqui, vão achar que ela tem AIDS. Mas se ela está aqui, ela está certa, porque se ela procurou a unidade, independente do que ela precisa, ela está sendo responsável”, reforça o médico. Lá, é possível conseguir diversos tipos de métodos contraceptivos, assim como inclusive aprender a colocar um, caso a pessoa não saiba. Tem também testes rápidos para detectar HIV, as Hepatites B e C, e Sífilis e material informativo sobre essas doenças. E caso um dos testes tenha resultado positivo, o próprio Centro já fornece toda medicação e encaminhamento para tratamento. Tudo, graças ao Sistema Único de Saúde, de forma gratuita.
“Hoje, as pessoas não gostam de usar camisinha. Não é nem falta de conhecimento, é que elas não usam mesmo, elas falam isso abertamente. Muitos pacientes aqui falam que acham muito ruim, que ela incomoda ou algo do tipo”, explica o médico. “Isso é muito grave, porque a camisinha é o método mais eficaz contra as ISTs”, complementa. Esse comportamento acaba causando “epidemias silenciosas”, e colocam em alta doenças como a Sífilis, além do próprio HIV.
“A Sífilis pode ficar assintomática durante anos. Como também poucas pessoas têm o hábito de fazer os testes rápidos com regularidade, a contaminação acaba acontecendo por muito tempo. E ainda no caso de mulheres, em caso de gestação, isso pode se estender ao bebê. Toda essa situação pode ser evitada com o preservativo e ainda, com o hábito de se realizar testes rápidos uma ou duas vezes ao ano”, detalha.
Por causa dessa questão, o hábito de fazer os testes se aplica a todas as pessoas sexualmente ativas, independente se monogâmicas ou não, e também independente se essas relações são conjugais ou não. A traição, além do dano emocional, pode gerar consequências físicas graves para todos envolvidos. “A pessoa não vai sentar aqui e admitir que traiu. Mas a questão não é essa, é muito mais o cuidado com a saúde, a prevenção contra ISTs”, reforça o médico. Inclusive, o sigilo é garantido em todas as ocasiões no CTA.
“A pessoa não precisa se justificar em nada”, detalha. “Ela vai passar por uma pré-consulta de levantamento do quadro geral de saúde dela. Então a gente vai perguntar se ela tem alguma queixa, se ela precisa de mais alguma coisa. Depois do teste, ela passa por uma pós-consulta também, caso ela também precise de algum atendimento. Mas tudo isso respeitando o sigilo”, reforça. O recado está dado: ninguém vai julgar sua vida, pois a preocupação maior mesmo é em impedir a disseminação de doenças sexualmente transmissíveis e cuidar da sua saúde.
Para pegar preservativos, a pessoa não precisa nem entrar na unidade. E para realizar os testes rápidos, ela precisa apenas mostrar um documento com foto para confirmação dos dados no sistema. A única pergunta, no caso das mulheres, que é feita nessa primeira etapa, é se ela está grávida ou não. E reforçando: não precisa se justificar, basta responder sim ou não.
Depois, a pessoa é encaminhada ao pré-atendimento antes de fazer o teste. As perguntas giram em torno das suas atividades sexuais nos últimos seis meses. Mais ou menos quantas relações, se foram com mais de um parceiro ou não e se foram com homens, mulheres ou ambos. Em seguida, a pessoa é encaminhada para a salinha de teste. Com um equipamento, outro profissional de saúde faz um furo no dedo indicador do paciente e retira sangue para os quatro testes rápidos. Após 15 minutos sai o resultado e a pessoa passa por um pós-atendimento. Se algum dos testes saia positivo, ela já começa o tratamento ali.
Além dos testes e dos preservativos, a unidade também fornece Profilaxías, que são métodos de prevenção à infecção pelo HIV por meio de comprimidos. A Profilaxia Pré-Exposição (PrEP), é uma pílula que é ingerida todos os dias. Seu uso contínuo reduz até 90% da chance de se contrair o HIV. O uso da PrEP é indicado para pessoas com maior chances de entrar em contato com o HIV, como por exemplos trabalhadores do sexo e casais soro diferente, ou seja, quando um dos parceiros tem HIV.
A Profilaxia Pós-Exposição de risco à infecção pelo HIV (PEP), medida preventiva em casos de emergência, é a medicação utilizada após a exposição ao vírus, em casos de violência sexual, relação sexual desprotegida e ainda acidentes, como por exemplo em laboratórios.
De acordo com o médico, esses métodos não substituem a proteção contra outras doenças, mas já ajudam muito no combate ao HIV. “Se a gente consegue fazer com que todo mundo reduza ao máximo a transmissão, consequentemente, acaba reduzindo a circulação do vírus”, reforça.
De acordo com uma das pessoas que faz PrEP, que teve sua identidade preservada, a profilaxia ajuda a reduzir o stigma, principalmente em torno da comunidade LGBT. “Desde que eu ouvi que existia um remédio que impedia a infecção do HIV eu fiquei muito animado, por uma questão política, de controlar a infecção, que é um dos elementos que subjugam muito a minha comunidade, principalmente gays que vivem com HIV. Hoje, sou advogado da PrEP. Pra quem é sexualmente ativo, eu não conheço quem não queira tomar”, explica.
Mas também reforça: “Existe uma espécie de discriminação com quem usa PrEP. Usar a PrEP, não é um “liberou geral”, mas você está protegido contra a HIV. É um dos elementos, mas a proteção precisa ser combinada, principalmente nos outros tipos de sexo, como oral, por exemplo”.
Roberto também reforça a testagem como forma de prevenção. “Na comunidade LGBT, por exemplo, só porque o sexo é predominantemente anal ou oral, isso não significa que a pessoa está imune. Assim, o preservativo é importante, assim como fazer os testes com regularidade para cuidar da própria saúde”, detalha.
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