Com tatuagem, amor e chuva na estrada, ela nunca foi tão feliz como aos 41 anos
Em 2 dias de temporal na estrada, professora descobriu o sabor da liberdade em cima de uma moto e hoje comemora com o marido uma nova vida
Às vezes, a gente precisa dar uma sacudida nos lençóis, trocar tudo de lugar e abrir os olhos para o que realmente importa. Aos 41 anos, Catiuci Ana Maria Vitor Braga da Silva, professora da Educação Infantil, fez isso e descobriu que nunca foi tão feliz. Depois de quatro décadas de vida, ela se viu como uma mãe aventureira, tatuada, ao lado de um grande amor e disposta a encarar todo temporal da estrada pela sensação de bem-estar no motociclismo.
A mudança radical começou em janeiro, quando ela e o marido Cleyton Arguilheira Rocha, de 31 anos, decidiram colocar o pé na estrada pela primeira vez em cima de uma moto Dayun 150. Até então, todas as viagens na vida eram de avião ou carro, mas pela primeira vez ela encarou quase 4 mil quilômetros de estrada em cima de uma moto.
“Eu nunca pilotei e a moto que temos meu marido só usava para o trabalho, em Sidrolândia, cidade onde tudo é muito perto. Então nunca passou pela minha cabeça pegar uma estrada de moto, pra falar a verdade eu tinha pavor”, começa Catiuci.
Foi depois de ver uma história semelhante no Lado B. de quem se arriscou na estrada por um sonho, que a professora decidiu abrir o coração sobre a sua gratidão em ocupar o lugar que está hoje. “Eu falo que nunca fui tão feliz como agora, depois da nossa primeira viagem em janeiro, descobri uma liberdade que eu ainda temia”.
Catiuci é de uma cidade no interior de Minas Gerais, quase na divisa com Espírito Santo. Cresceu escutando que não podia fazer isso nem aquilo. Num mundo cheio de regras, ela era a mãe medrosa, que não podia dar um passo fora dos padrões para não lidar com os olhares, até um dia decidiu recomeçar.
“Divorciada, vim para Mato Grosso do Sul há cinco anos em busca de um recomeço. Meu irmão estava aqui e logo consegui um emprego na escola que trabalho até hoje. Um dia, numa reunião de amigos conheci Cleyton, que no primeiro encontro me convidou para igreja e logo em seguida começamos um romance”.
Há cinco anos juntos, Catiuci carrega na memória momentos incríveis e um amor que faz seu coração ficar em paz. Mas a vontade de sorrir todos os dias juntos, fazendo uma coisa diferente, nunca saiu da cabeça. “Estávamos muito felizes, não tinha muita coisa para ser mudada, nossa história já era um recomeço. Mas um belo dia o Cleyton conheceu um motociclista e ele chegou a casa me dizendo sobre a chance da gente viajar de moto”.
O primeiro momento foi de medo, mas nada foi maior que a vontade de se aventurar nas estradas. “Conversamos bastante com os amigos, ouvimos muitas histórias e o motociclista nos ensinou muita coisa. Mesmo sem experiência, fizemos as malas e encaramos quase 4 mil quilômetros até a divisa com Espírito Santo, em janeiro”.
Foi a primeira aventura do casal que arrancou sorrisos e muita solidariedade de outros viajantes na estrada. “Como a gente não tinha todos os aqueles equipamentos, coloquei tudo que eu acreditava que fosse preciso em uma mochila. As pessoas olhavam na estrada e pensavam que éramos mochileiros de tanta coisa que eu levei”, conta.
O maior desafio foi o temporal nos primeiros dois dias de viagem. “Não parou de chover um minuto. Sem experiência, meu marido pilotava a 40 quilômetros por hora, mas conseguimos chegar ao destino”.
Entre muitos amigos, paisagens belíssimas e experiência na bagagem, Catiuci e Clayton voltaram da viagem inspirados a começar uma nova vida. “Criamos o Moto Casal Família Pantaneira, um motoclube a dois para que a gente pudesse desfrutar desse país de moto. Foi uma viagem incrível da nossa vida e ela não podia terminar na primeira vez”.
Desde então o casal passou a estudar viagens pelo país. Só neste ano já foram mais de 15 mil quilômetros rodados. “E a ainda vamos viajar muito mais. É que temos que conciliar com a rotina de trabalho e a família”.
No início foram chamados de loucos. “Alguns familiares temiam um acidente na estrada, amigos questionavam o porquê da loucura, mas pra gente era só a vontade de fazer aquilo que nos deixa bem”.
De lá pra cá Catiuci também se olhou no espelho como nova mulher. Além do espírito aventureiro, a mãe de duas filhas ganhou pelo menos sete tatuagens pelo corpo e um sorriso de quem subiu novos degraus na vida.
“Hoje sentimento de liberdade tomou conta de mim e do Cleyton. Porque quando a gente tem filhos pequenos, somos pais medrosos, achamos que é impossível se aventurar. Mas hoje, vejo muitas famílias sendo criadas dessa forma, até mesmo na estrada”.
Catiuci diz que já passou da idade de acreditar que “politicamente correto” é o que faz a diferença. “Tem gente que acha que uma mulher de 41 anos não pode ficar se tatuando, muito menos ser feliz em cima de uma moto. Mas comigo e com o Cleyton foi diferente, nos sentimos realizados. Muito melhor estar na estrada e vivendo”.
O projeto do casal é comprar uma moto maior no próximo ano. “Porque quando viajamos em grupo, acabamos atrasando nossos companheiros de viagem porque nossa moto não corre. Então nosso plano é conquistar uma moto nova”, diz a professora.
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