Comer, comer... Opa, não, espera... E agora? Quem poderá me defender?
Se quando eu saí da cirurgia eu me perguntei onde fui amarrar minha égua, ao chegar no quarto, eu simplesmente fiquei desesperada e me perguntei: “E agora, o que eu vou fazer da minha vida?”
Confesso para vocês o que eu já confessei para a psicóloga e para a minha nutricionista, eu não tinha encontrado outro sentido na vida. Nunca fui daquelas pessoas gordas que sentam e tomam dois litros de coca-cola (aliás, nem coca eu tomava antes da cirurgia) ou comer uma pizza inteira, mas tinha minha liberdade gastronômica e contava o tempo pelos horários que almoçaria com fulano, ou jantaria com o marido.
Antes da cirurgia, sempre brinquei que se eu participasse das orgias gastronômicas que eu presenciava de algumas pessoas eu estaria morta, porque eu sentia ressaca de comida, mas confesso que adorava planejar o sushi da terça, o combo de X Bacon com batata frita de segunda ou o sobá de quarta-feira, bem como quando recebíamos visitas adorava pegar meus sobrinhos e ir até um rodízio de comida japonesa e comer deliciosamente até o estômago apitar.
Ao acordar, já sabia que chegaria à Câmara e iria até a dona Antônia pegar um misto quente e tomar um super copo de café puro, depois o almoço seria no Máximus, lugar que eu adoro e sempre no self service, claro. Terça-feira era o dia preferido, já que a rabada com polenta era o prato do dia e depois de sobremesa aquela banana com chantili que só a dona Ilza sabe fazer, além é claro daquela super feijoada de sábado. O domingo era arrematado com aquele churrasco!
Outro passatempo era ir ao supermercado e descobrir quais eram os últimos lançamentos alimentícios bem como aproveitar bem as promoções que os supermercados faziam. Comer aquele chocolate branco com cookies, comprar a batata pré-frita para o momento que recebia aquela visita do afilhado e da amiga que tem crianças.
Era algo tão presente, que seguindo a orientação da super nutri Mariana Corradi, um dia antes de fazer a cirurgia chamei minha irmã Lais e meu cunhado e juntos tiramos nada menos do que oito sacolas de supermercado cheias de produtos alimentícios que fariam parte da compra do mês de uma família de seis pessoas tranquilamente e ainda sobraria!
Ou seja, cada plano que eu tinha era completamente envolvido com comida. O meu relógio contava as horas da refeição seguinte e o momento em que eu estaria comendo com quem eu amava.
Então acordei naquele quarto de hospital, com a ordem expressa de me levantar e andar, sabendo que aquele procedimento não teria mais volta e fiquei ali, matutando, buscando qual seria o sentido da vida partir daquele instante.
Ao perceber que não, naquele final de semana eu não teria mais os planos gastronômicos, me bateu um desespero e que me fez questionar: “E agora? Quem poderá me defender?”