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Faz Bem!

Comida sai de cena e você começa um relacionamento sério com si mesma

Liziane Berrocal | 23/03/2015 06:37
Olhei no espelho, mandei um beijo para mim e gritei bem alto VAI GORDINHA! (Foto: Marcos Ermínio)
Olhei no espelho, mandei um beijo para mim e gritei bem alto VAI GORDINHA! (Foto: Marcos Ermínio)

O título é redundante, pode até conter um erro de grafia, mas só assim para explicar a importância de uma cirurgia bariátrica na vida de uma pessoa, em especial de uma mulher. Toda mulher recebe muito mais cobranças do que homens, isso é um fato, mas quando ela é gorda, meu amigo, aí a coisa piora mil vezes elevada a décima potência.

Agora imagine para alguém que pesa mais de cem quilos? Sim, começamos a nos anular do mundo, até que vem a tão sonhada decisão que muitos acham que é “fácil” ou “um milagre”, mas é muita luta.

Os primeiros quinze dias da cirurgia bariátrica são um inferno terrestre, e não estou nem aí para quem disser que é muito drama ou mimimi, porque o negócio é louco. Para quem tem acompanhamento nutricional constante como eu tenho, é algo meio terrorista. Você olha aquela dieta e fica pensando como pode achar aquilo “de boas” numa primeira olhada. E então, depois daquela fase de copinhos de dez em dez minutos, você já não aguenta mais aquela sopa aguada, ver isotônico ou água de coco e começa a achar o adoçante uma coisa nem tão ruim, ao estilo, se não pode vencê-los, junte-se a eles!

A sofrência é tanta, que você começa a refletir sobre todo esse sentimento que mistura a raiva, o arrependimento (que passa, eu juro que passa) e o desespero por uma mísera folha de alface (ok! Eu senti vontade de comer arroz com quiabo) e ao ligar para a nutricionista, quase chorando você recebe um NÃO bem grandão e só te resta chorar!

Na foto, minha dieta começando a mudar... (Foto: Arquivo Pessoal)
Na foto, minha dieta começando a mudar... (Foto: Arquivo Pessoal)

Foi ali que eu percebi que pela primeira vez na vida eu estava num relacionamento muito sério comigo mesma. Sim, era a primeira vez que eu seguia algo a risca, que era muito grave, porque era minha vida. Ao estilo “estricnina comeu morreu” a comida que antes era uma aliada, passa a ser um mal que pode até mesmo causar danos irreversíveis caso não siga a dieta à risca.

E não adianta trancar os armários, deixar a geladeira vazia ou se fechar no quarto, ela está na sua mente, e ali, a luta é contra si mesmo, por isso a seriedade do assunto e a necessidade de tratar a cirurgia bariátrica como uma forma de auxílio no emagrecimento.

Durante o período em casa, do resguardo que temos pós cirúrgico, me coloquei a pensar quantas vezes eu realmente cuidei da minha saúde ou pensei realmente em mim quando ao longo dos anos eu me vi engordando e me escondia de mim, naquela casca de gorda alegre, estilo miss simpatia para não ficar mais excluída do que já é.

Confesso que parecia uma viciada em drogas que se pudesse ali, venderia a TV para ter um bife suculento. Para a alegria geral da nação (pelo menos a nação de lombrigas que habitavam em mim) minha nutricionista Mariana Corradi, no auge do meu desespero, depois de 15 dias sem um mísero sabor decente na minha vida, me atende e libera um iogurte desnatado e ainda me socorre com uma dieta pastosa.

Eu, que ali já não sabia se subia o mato ou descia o morro, levantei, me olhei no espelho e não conseguia ver se aquilo estava dando algum resultado. Eu tinha medo de sair na rua e alguém dizer: “Nossa, mas você fez cirurgia, você continua gorda”, e também vem o medo de não segurar a barra e acabar cometendo algum deslize alimentar e colocar tudo a perder.

Mas a decisão era irreversível e matutando prometi a mim mesma: “Liziane, eu vou te amar, e vou fazer você conseguir atravessar esse deserto”. Olhei no espelho, mandei um beijo para mim e gritei bem alto VAI GORDINHA!

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