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Faz Bem!

Como nenhum patrão a aguentava, Karine inventou Doces da Felicidade

A jovem precisa sustentar 2 filhos, mas diz que não parava em emprego por sofrer transtorno de personalidade

Suzana Serviam | 08/12/2021 14:49
Karine com os dois potes dos "Doces da Felicidade". (Foto: Suzana Serviam)
Karine com os dois potes dos "Doces da Felicidade". (Foto: Suzana Serviam)

Jujubas, chicletes e paçoquinhas... mas não do tipo normal. “São Doces da Felicidade. Você compra um e nós dois ficamos felizes”, é a propaganda da vendedora Karine Cavalheiro, 23 anos.

Pelos semáforos da cidade, ela oferece os produtos durante toda a noite, mas não conta o motivo do trabalho aos clientes. Não fala, por exemplo, que é para ajudar a pagar aluguel ou criar os dois filhos pequenos.

Por isso, vive ouvindo “desaforos”. “Dizem que eu tô querendo dinheiro para comprar droga... falam que eu moro na rua. Eu tenho casa, eu nem fumo. Mas preciso sustentar minha família”.

Quando alguém com tempo para e encara uma conversa mais tranquila, Karine não esconde quem é. Admite que não consegue parar em emprego nenhum, sempre é demitida. “Por isso, tenho de trabalhar na rua”.

No início, ela não entendia porque nunca se encaixava, até que na última demissão, a ex-patroa aconselhou a jovem a procurar um especialista. “A última foi uma lanchonete, as pessoas vinham falar comigo e isso me fazia mal, eu travava. Começo a ouvir barulho demais e isso me faz mal. Acabava me isolando”, lembra.

O diagnóstico, segundo ela, foi “transtorno de personalidade”, um grupo de doenças mentais que se manifestam, por exemplo, por dificuldade de socialização, hostilidade, irritabilidade e ansiedade.

Karine confirma que para ela, “pouca ou nenhuma atividade é prazerosa”. Mas garante que já começou o tratamento com psiquiatra e, por isso, resolveu trabalhar com os “Doces da Felicidade”, como forma de seguir para o lado oposto ao da depressão, diante de tantas dificuldades.

Hoje, ela diz que precisa vender para pagar tratamento, aluguel, luz, água e comida para os dois filhos de 6 e 2 anos.

“Eu trabalho desde os 8 anos vendendo coisas. Minha mãe não conseguia dar comida pra mim, por isso, eu me virava. Então, voltar para rua acabou sendo normal”, justifica.

Com 17 anos, ela encarou um casamento para sair da casa da mãe, teve os dois filhos, mas o marido acabou desistindo do relacionamento por conta de Karine ser emocionalmente instável. “Eu via coisas, ouvia. Ele não entendia”, explica.

Então, o jeito foi se virar na base das jujubas, um dia de cada vez. “Hoje, eu tô aqui falando com você numa boa. Mas amanhã, eu posso nem querer te ver. Não consigo cultivar uma amizade. Mas tô tentando”.

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