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Consulta com "Dr. Google" ajuda ou atrapalha? Médicos respondem

Elverson Cardozo | 11/10/2014 07:46
Maioria dos pacientes recorrem ao Dr. Google para interpretar exames. (Foto: Elverson Cardozo)
Maioria dos pacientes recorrem ao Dr. Google para interpretar exames. (Foto: Elverson Cardozo)

“Comecei a sentir dores lombares e abdominais. Daí coloquei lá no Google assim: câncer de colo de útero. A primeira coisa que apareceu foi dores lombares e abdominais. Fiquei doida. Comecei a sentir todos os oturos sintomas que aparecia lá, como perda de apetite e dificuldade para urinar. […] No final não era nada. Só a menstruação que chegou forte. Mas eu até chorei pensando que ia morrer, que estava em fase terminal”.

O relato vem de uma professora universitária de 43 anos e ilustra o comportamento de muita gente. Quem nunca recorreu à internet para uma consulta rápida com o Dr. Google? Quem nunca abriu um exame antes de entregá-lo ao médico? A preocupação justifica a curiosidade, mas nem sempre é positiva.

A "hipocondria digital" já tem até nome: a cybercondria. O fenômeno preocupa os médicos e pode evoluir para ansiedade e síndrome do pânico.

O ginecologista e mastologista Benedito de Oliveira Neto, de 45 anos, já perdeu as contas de quantas vezes atendeu pacientes desesperadas que afirmavam estar com alguma doença grave, como o câncer, por exemplo. A maioria dessas mulheres chegaram a essa conclusão pesquisando na internet. “Não tem um dia que isso não acontece”, comenta.

Seria menos pior se o problema se restringe apenas a interpretação errada da mamografia, mas não Laudos de ultra-sonografias ginecológicas também rendem situações assim, diz o médico.

“As vezes o ultrassonografia escreve que tem cisto de ovulação e elas acreditam piamente que já tem que ir para mesa de cirurgia retirar. Mas cisto de ovulação toda mulher que não toma anticoncepcional tem. Na hora de ovular ele desaparece”, esclarece.

O ginecologista Edvardes Carmona Gomes, de 47 anos, também enfrenta situações assim. Ele atende gestantes e sempre se depara com futuras mamães em pânico. “Muitas chegam com o diagnóstico pronto”, comenta.

A confusão paira, geralmente, na interpretação de “exames de sangue”, de rubéola e toxoplasmose. A palavra “positivo”, que geralmente aparece no laudo para esses dois procedimentos, causa confusão suficiente e a busca por informações na internet, com o Dr. Google, só piora o quadro.

Não é porque deu positivo para toxoplasmose ou rubéola que o paciente está com a doença, alerta o médico. Isso indica, na maioria das vezes, que a pessoa já teve a doença ou foi vacinada e tem, portanto, o que ele chama de “anticorpos de memória”.

Pesquisas na internet podem enganar. (Foto: Elverson Cardozo)
Pesquisas na internet podem enganar. (Foto: Elverson Cardozo)

O problema é recorrente e é relatado por médicos de diferentes especialidades, como o cardiologista Delcio Gonçalves da Silva Junior. Ele não costuma atender pacientes que já chegam achando que sabem o que tem, mas percebe que muitos deles tiram conclusões precipitadas depois de terem acesso aos resultados dos exames.

“O laudo é um resumo de todo o exame, que deve ser lido por completo e não só a conclusão. Qualquer exame, mesmo um simples hemograma, tem uma série de dados que precisam ser interpretados”.

Delcio não acha errado procurar informações na internet, desde que o paciente faça isso em sites confiáveis, como o da Sociedade Brasileira de Cardiologia, que tem informações em linguagem acessível, com respaldo científico, para o público leigo. “O problema são as informações sem critérios”, destaca.

A professora de 43 anos, que achou que estava em fase terminal depois de buscar o Dr. Google, pensa diferente. “Acho que esse negócio de pesquisar em sites de credibilidade não adianta não. O que eu vi, por exemplo, era do Dráuzio Varela. […] Acho que sou doida, mas fica complicado ser diferente em tempos onde você só consegue marcar médico um mês depois. Resta o Google mesmo”, opina.

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