Da Síndrome do Pânico à Maratona de Berlim, empresária superou a doença correndo
“Corre, Olga, corre”. A frase adaptada do filme Forrest Gump foi o incentivo para que Olga, assim como Forrest, corresse com o objetivo de se "salvar". Quem já assistiu, certamente se lembra da cena em que uma das personagens pede para Forrest, ainda criança, correr com a intenção de fugir dos colegas de escola que estavam jogando pedras e se aproveitando do fato dele usar aparelho nas pernas e não conseguir se defender das malvadezas.
A empresária Olga Maria Pasqualotto, 50 anos, também ouviu esta frase de um psiquiatra há 10 anos. O médico foi o maior incentivador para que ela começasse a fazer atividade física. “Ele me disse que só remédio não resolveria o meu problema. Daí, comecei a correr e não parei mais”. A atleta não sabe dizer ao certo quantas provas já participou e nem a quantidade de vezes que já esteve ao pódio. “São muitas. Fiz as principais corridas do Brasil, já corri também na Argentina, Chile, Puntacana, Londres, Califórnia e Berlim”.
Olga é figura garantida nas corridas de Campo Grande. Diferente da maioria das mulheres, a atleta corre quase sempre com o cabelo solto. Passa pelos corredores com uma velocidade invejável, com a cabeleira loira e cacheada dançando de um lado para o outro. “Meu maior orgulho é ter ficado em terceiro lugar na minha categoria na Volta das Nações de 2012. É um percurso muito difícil. Foi também nesse período que decidi encarar outro grande desafio: a maratona”.
Sim, uma maratona. São quarenta e dois quilômetros correndo. Um passeio básico de ida e volta a Terenos. Detalhe: ir e voltar correndo 1 quilômetro a cada cinco minutos. Sem direito a paradas. Beber e comer correndo. Certamente, este desafio é capaz de causar Síndrome do Pânico em muitos sedentários por aí. Não é muito fácil de entender como uma empresária, mãe de duas filhas, cheia de compromissos e viagens fez da corrida seu melhor remédio. “Fiquei bem mais calma depois que comecei meu tratamento utilizando um par de tênis”.
A partir da decisão de participar da Maratona de Berlim, Olga passou a tomar uma dose de 150 quilômetros ao mês do seu remédio preferido, a corrida. Foram meses de treinamento. Sobe e desce ladeira. Treino em areia, rua sem asfalto, parques e corrida na grama. Amigos fizeram revezamento para acompanhá-la durante as "corridinhas" de 30 quilômetros nos finais de semana.
“Fiz um movimento entre os colegas para não correr por muito tempo sozinha. Temos um grupo que chamamos de 'Pocotó'. É formado por pessoas que gostam de correr longas distâncias. Dia desses estávamos conversando e descobrimos que todos tinham uma mania ou síndrome. A mais engraçada foi a fobia de escuro de um companheiro de longões. Todo corredor de longa distância é um pouco maluco”, avalia.
A prova de que a Síndrome do Pânico foi superada? São muitas. A calma para planejar e se preparar, durante um ano, para fazer os 42 quilômetros em Berlim. Correr num país desconhecido e longe da família. Encarar o frio e as incertezas. Medo? “Tive. Tive muito medo de cãibra”. Mas Olga tirou de letra. Pegou água em todos os pontos de hidratação, comeu frutas que a organização da prova distribuiu no percurso, utilizou carboidratos em gel, analgésicos e encarou mais este receio. “Por precaução, levei ainda uma bolachona no bolso do short. Fome nem pensar”.
Olga utilizou mais uma tática. Escreveu no braço a meta de tempo para os quilômetros que iriam ser rodados. Alguém já viu algum corredor com borrões no braço ou tentando evitar o suor para não desmanchar a cola? Sem cobrança, a atleta estipulou o tempo de 4 horas e 10 minutos para concluir o percurso. “Cruzei a linha de chegada, no Portão de Luxemburgo, com 3 horas e 56 minutos e cheia de planos. Nada de parar de correr. Este é o meu combustível”, ensina Olga.