Mesmo sentado, Samuel nasceu da forma mais natural possível
Para tudo tem seu tempo, até mesmo para aqueles que ainda não nasceram. A chegada de Samuel foi assim, na 41ª semana de gestação, depois de 36 horas de trabalho de parto latente e oito de parto ativo, o menino veio para a alegria da família num parto que respeitou tanto o tempo do bebê para nascer quanto o da mãe para parir, repleto de muito amor e carinho.
O Lado B hoje dedica o espaço para o relato da advogada Ana Paula Perusso de Lima, que num imprevisto com o preservativo, viu que o relógio biológico já despertava. Era hora de ser mãe. "Descobri a gravidez no dia 5 de dezembro de 2013, três meses após liberar geral... A ficha da gravidez só caiu quando ouvi o coraçãozinho batendo dentro de mim pela primeira vez. Um mundo novo se abriu naquele momento e resolvi mergulhar de cabeça", descreve.
Ana Paula que tem hoje 33 anos nunca tinha pesando sobre o parto, mas sabia do que tinha medo: anestesia e cortes. Logo a cesária era um fantasma a lhe assombrar e o que restou foi o parto normal. "Mas e a episiotomia? Era um corte e pontos do mesmo jeito. Quase pirei, até que descobri o movimento da humanização do parto e entendi que não bastava desejar um parto natural humanizado, que eu teria que ir à luta para conseguir parir com respeito a minha individualidade e a do meu bebê", completa.
Durante a gestação, a mãe acabou lendo à respeito. "É uma coisa que hoje a gente não tem mais noção, do que é o parto natural. As pessoas me falavam 'você é louca de não fazer cesária'. Como se fosse a coisa mais linda do mundo, mas não é por maldade, é a ideia enraizada da cesária. Ela deve ser a última via, para salvar uma vida", opina Ana.
Além dos estudos e do trabalho focado na preparação, na gravidez a advogada também pode contar uma doula. Mas por escolha pessoal, não envolveu o trabalho dela na hora do nascimento.
Às vésperas - Uma semana antes do bebê nascer, a mãe fez um ultrassom e descobriu que o filho havia resolvido sentar. "Nem a médica, a dra. Joana, acreditou que isso aconteceu, já que eu apresentava vários sintomas de que o meu parto seria naquele final de semana mesmo", lembra. Uma das razões para que o bebê ainda aguardasse foi de que a grande quantidade de líquido pode ter facilitado o bebê a girar. "Como tudo estava bem comigo e com o bebê, eu teria um tempo para que o bebê virasse de novo e só então, caso não virasse, decidir pelo parto pélvico ou cesária", explica a mãe.
A semana seguinte foi de foco total nos exercícios e na respiração. Tudo para que o bebê se virasse por conta própria. "Sábado de manhã, véspera de eu completar 41 semanas, refiz o ultrassom e para minha alegria e do meu marido o bebê tinha virado novamente, estava cefálico! Minha alegria foi maior ainda porque o tampão tinha saído sexta a noite. Agora só faltava o bebê encaixar e eu entrar em trabalho de parto ativo", relata.
As contrações começaram ainda naquele dia, mas ainda leves e irregulares. No amanhecer do dia, elas ainda não tinham entrado num ritmo, mas nem isso tirou a serenidade da mãe. "Eu permanecia tranquila, em paz e muito feliz, pois sabia que meu bebê viria no tempo dele. Fui para o chuveiro, curtindo cada momento, cada contração".
O sábado passou, assim como o domingo e os futuros papais se uniram então para conversar com o bebê. "E transmitir muito amor para ele, pensar positivo para que o parto acontecesse como o sonhado. Isso era 9 da noite. As contrações voltaram com tudo, os intervalos diminuindo, até que ritmaram próximo das 11 da noite. Ligamos para a Dra. Joana que pediu que fossemos para a Santa Casa para ela me examinar". Estava chegando a hora.
Trabalho de parto - A bolsa estourou no banheiro de casa e para não apavorar nem o marido e nem os avós, a advogada seguiu quietinha para o hospital. "Chegamos à Santa Casa, uma contração atrás da outra e eu tentando fazer cara de que estava tudo bem para não ser obrigada a sentar numa cadeira de rodas. Isso já era meia noite, foi com grande alegria que encontrei a Dra. Joana, ela me acolheu num abraço, perguntou como eu estava e pediu se podia fazer o exame do toque. Concordei, já que eu tb estava curiosa: praticamente 8 cm. Não me continha de felicidade! Tudo bem que as contrações cada vez mais fortes e quase sem intervalos não me deixavam comemorar muito", descreve.
Quando as contrações ficaram mais curtas e de tanto perguntar o motivo, Ana Paula ouviu da médica a proposta de colocar um pouquinho de ocitocina para ajudar a segurar o tempo das contrações. Por conta do cansaço, a mãe aceitou, mas bastou a médica sair da sala de parto para que um sentimento maior viesse à tona.
"Eu havia lutado até ali e não iria entregar o jogo naquele momento. Meu filho merecia a minha entrega. Uma força tomou conta de mim, afastou o sono e na próxima contração grudei no meu marido e só lembro dele me dizendo: “Força, você consegue!”. Fiz uma força grande, a Dra. Joana entrou na sala e se animou: “Agora esse bebê vai nascer!”. De cócoras, a mãe que fez toda força e coube à médica, segundo relato da advogada, apenas "assistir" ao parto.
"Ela disse que ele que vinha descendo bem devagarinho de repente havia descido tudo que precisava e coroou. Foi emocionante ela mostrar a cabeça dele coroada! No que veio de novo a vontade de fazer força, ela só foi coordenando (“faz força, segura”) para preservar o máximo o períneo, até que senti meu bebê nascendo. Inesquecível aquela sensação! A Dra. Joana só o pegou e já entregou nos meus braços. Todo meladinho, liso igual sabão, chorando forte. Eu tremia de emoção. Ainda mais na hora que eu vi que era um menino (eu e meu marido optamos por não saber o sexo do bebê antes do parto)".
Toda a dor tinha ido embora e o coração da mãe era só felicidade. A médica esperou o cordão parar de pulsar para o pai cortar... "Assim nasceu o Samuel, no dia 18 de agosto de 2014, às 06h50 de uma segunda-feira, com 41 semanas e 01 dia, 3,705 kg e 51,5 cm, com circular de cordão no pescoço e mão na testa, após 36 horas de trabalho de parto latente e 08 horas de parto ativo, períneo íntegro".
Hoje Ana Paula continua super participativa dos grupos de discussão sobre parto humanizado. "Cada mulher tem o seu momento de parir. Eu precisava desse tempo para entrega, porque é uma doação. E depois vem aquele momento de paz, de amor, de realização. Não sei explicar, é uma sensação maravilhosa que você quer espalhar para todo mundo de parir e seguir essa linha mais natural".