Para quem não come carne, cheiro ou gosto fazem menor diferença
Hoje se comemora o Dia Mundial Sem Carne; quem é "expert" garante: estilo de vida possível e que faz muito bem
Já pensou em algum dia parar de comer carne? Você até pode achar uma "loucura" ter que abandonar os churrasquinhos de final de semana, hambúrguer "podrão" do bairro, cachorro-quente da mamãe, rodízio de comida japonesa… o que a princípio parece uma "troca injusta", muita gente comemora a decisão tomada. Não só pelos benefícios nutricionais da nova alimentação, mas para toda uma cadeia de fazer o bem.
Sem comer carne há pelo menos 10 anos, a jornalista Ellen Prudente garante: "nem me lembro o gosto! E posso te assegurar: não faz a menor diferença na minha vida". Ela, que se tornou ovo-lacto-vegetariano desde a adolescência (vegetarianismo que consome também ovos e derivados do leite), sentiu rapidinho os benefícios nos mais variados aspectos.
"Primeiro de tudo, a sensação de saber que está fazendo algo de impacto na vida pessoal e para o planeta. Segundo, uma diferença enorme em ganho de saúde. Quando você pára de comer ingredientes de origem animal você é 'obrigado' a se preocupar com o que come", ressalta.
"Percebi que comecei a ingerir mais alimentos frescos, ter contato direto com as comidas, valorizar mais o que entrava no meu corpo e até mesmo a preparar minha própria comida na cozinha. Senti de cara uma melhora na digestão, na saúde intestinal, em questões como glicemia e colesterol e até na concentração, em ser menos ansiosa", revela.
E não é porque Ellen parou de consumir carne animal que deixou de saborear aquilo que mais gosta.
"Tem inúmeras receitas que é fácil adaptar. Uma delas, que amo muito é o meu strogonoff vegano. Perfeito para receber familiares, amigos, vizinhos. Agrada todo mundo, vegetariano, vegano ou nada disso. A versão é versátil porque dá para por o que quiser de vegetais. Gosto muito de fazer com palmito e cenoura picadinha, fica uma delícia, mas a de grão de bico é mais incrível ainda. A base é como o tradicional: molho de tomate e, ao invés de creme de leite, só pôr leite de côco no lugar", sugere a vegana.
A nutricionista e consultora em alimentação saudável Lais Lunardon, 43, se tornou vegana há apenas 4 anos. "Se trata de um estilo de vida que exclui, na medida do possível, todas as práticas que envolvam a crueldade e exploração animal. Não está relacionada apenas à alimentação como muitos pensam. Vai muito além: vestuário, produtos de beleza, de limpeza, assim como muitos outros", esclarece.
Segundo Lais, estudos indicam que o modelo e escala atuais do agronegócio se tornaram agrassevidos para o meio ambiente e, portanto, o planeta não suportará essa prática por muito tempo. "É fundamental que mais pessoas conheçam e considerem o veganismo para suas vidas. Não é só saúde, é visar o bem coletivo. Só a redução do consumo de carne já pode ser ter sim um grande efeito na questão ambiental e, quem sabe, pode ser à você como primeiro passo para o veganismo?", reflete.
"A maioria dos veganos começou pela alimentação. Descobrir novas receitas e desmistificar a ideia de que comida sem carne é apenas 'saladinha' pode sim abrir as portas para o movimento maior que é o veganismo", ressalta Lais.
Tanto para ela quanto Ellen, a internet contribuiu imensamente para a visibilidade da causa. "Eu sou apaixonada por fast food também, viu? Tem muita comida vegana assim por aí. Hoje em dia é sem dúvidas mais simples se tornar vegano do que anos atrás. Quase toda lanchonete, barzinho, restaurante ou delivery da cidade conta parte do menu dedicado à nós. Assim, a socialização com amigos não-veganos é facilitada, sem contar no tanto de informação e influenciadores que existem nas redes sociais falando do assunto", diz a jornalista.
"A adesão de artistas e atletas também ajuda tornar a questão pública. Sem dúvidas, desperta maior curiosidade sobre o tema. Consequentemente, surgem mais produtos no mercado – basta olhas nas prateleiras e anúncios. Porém, vale frisar que para ser vegano não necessitamos dos alimentos mais industrializados. Frutas, verduras, legumes, cereais, grãos, castanhas, sementes e leguminosas já podem nos fornecer uma alimentação completa e muito mais saudável", indica Lais.
Sobre comer carne, Ellen pontua: "eu e muita gente por aí somos a prova de que não é preciso torturar animais para viver bem e feliz. Não acredito que comer carne seja uma decisão pessoal. A partir do momento que opta pela vida de um outro ser para sobrevivência, a questão vira coletiva. O triste é que, infelizmente, ainda perante a lei isso é sim legal e os animais são vistos como produtos. Por que amo meu cachorro ou gatinho mais como um peru no Natal ou presunto no café da manhã? A diferença está na nossa percepção", finaliza.
As duas não são fãs das "carnes tecnológicas" e vegetais que até imitam a carne de origem animal, afinal são produtos feitos pelas mesmas empresas que contribuem para o agronegócio vigente. Porém, até entendem sua função. Melhor mesmo, conforme relataram, é optar pela comida natural, dos legumes e verduras, junto à criatividade.
Pensando nisso, confira a receita de Lais Lunardon de um hambúrguer de ervilhas prático e saudável – sem adição alguma de carne animal:
Hambúrguer de ervilhas
Ingredientes:
- 250g de ervilhas congeladas
- 85g inhame cozido
- 100g de aveia
- 40g de farinha de trigo ou mix farinha sem glúten
- 100g cebola
- 30g de chia
- 10g folhas de hortelã
- 1 pitada de fumaça em pó ou 2 gotas de fumaça líquida (opcional)
- 20g alho
- Suco de ½ limão
- Azeite quanto baste
Modo de preparo – Cozinhar o inhame e descascar. Reservar. Refogar a cebola e o alho no azeite, acrescentar as ervilhas e ir pingando água até cozinhar. Colocar todos os ingredientes no processador e bater até obter uma massa moldável. Moldar os hambúrgueres e grelhar com azeite. Rendimento médio: 10 unidades de 60g cada – perfeito para um almoço ou sanduíche.
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