Chef que não abandona periferia virou “rainha das quentinhas”
Mesmo indicada a prêmio tradicional da gastronomia, Helen faz questão de mostrar ao bairro que comer bem é um direito de todos
Comer bem não é privilégio de quem mora no centro ou nos bairros mais nobres de Campo Grande. As periferias da cidade estão cada vez mais gastronômicas. Mesmo assim a chef de cozinha Helen Braz não cansa de ser questionada sobre quando vai levar seu restaurante para perto do shopping. “Sou bairrista, eu comecei no bairro e vou permanecer no bairro”, diz.
Helen observou que dá para comer bem e fortalecer a economia do território em que mora sem essa de só investir nas lanchonetes ou no espetinho, por isso resolveu abrir uma marmitaria “gourmet” na hora do almoço e um à la carte mais elaborado no período da noite. Por conta da pandemia, o restaurante só abre pro à la carte na sexta e no sábado, mas funciona todos os dias servindo marmita na hora do almoço.
Helen nasceu em Goiânia, mas há 15 anos reside em Mato Grosso do Sul, onde aprendeu mais sobre a vida na culinária e decidiu se tornar chef de cozinha. Aos 8 anos, já cozinhava inspirada na avó que sempre foi uma cozinheira de mão cheia na família.
Foi trabalhando em um banco e se alimentando mal que se apaixonou de vez pelo ofício com as panelas. “Todo mundo sempre acha que quem trabalha em banco entra às 10h e sai às 16h em ponto, mas não é bem assim. Havia dias que eu não tinha hora para sair, muito menos tempo para comer, por isso, chegou um tempo que eu só comia porcaria”.
E, claro, quem vive de marmita no trabalho sem hora certa para bater um rango, ainda experimenta comer comida fria e enjoar fácil de tempero que são pra lá de artificiais. “Foi então que eu pensei em montar uma marmitaria gourmet, com comida afetiva, comida regional, mas com detalhes para atender da melhor maneira possível”.
Assim Helen começou a vender marmitas e se tornou na região do Bairro Santo Amaro a “rainha das quentinhas”. Além de comidinhas mais elaboradas, a chef garante que não usa aditivos ou industrializadas, por exemplo. “O molho de tomate é natural e alguns ingredientes mais elaborados que é difícil encontrar eu dei um jeitinho de produzir”, diz.
Ela se refere ao filé mignon com redução na cerveja e umami, servido no jantar e que custa R$ 50,00 para duas pessoas. “A redução na cerveja é porque eu não encontrava vinho madeira para comprar em Campo Grande. Então eu criei um molho muito parecido com o molho madeira só que com redução de cerveja”, revela
No cardápio do à la carte a variedade é de petiscos e pratos elaborados com carne bovina, suína e peixe de água doce. Com exceção do bacalhau, ela diz que não investe nos pratos com frutos do mar porque deseja explorar mesmo o que há de melhor na comida regional.
Entre os petiscos há bolinho de carreteiro e porção de manjubinha (peixe) frita. Nos pratos especiais da chef, outro requisitado é filé mignon suíno com redução de maracujá e especiais de guavira. Tem também um bacalhau da Família Braz que foi elaborado a partir de uma receita da sogra. Aos sábados, Helen também serve no horário do almoço a tradicional feijoada.
Helen já foi indicada ao Prêmio Dólmã 2019/2020 como melhor chef de cozinha pelo Estado do Mato Grosso do Sul. Hoje é professora, palestrante e consultora no ramo da gastronomia, mas não abre mão do seu negócio na periferia, que não é só trabalho. “Mudou a minha vida. Hoje eu e minha família trabalhamos juntas", afirma.
O nome do restaurante é Tropeiro Gastrô e Helen o escolheu por ouvir de amigos que o seu feijão tropeiro é dos melhores, e o prato também está no cardápio.
Quem tiver interesse em conhecer, no almoço o restaurante abre de segunda a sábado, das 11h30 às 13h30 e no jantar toda sexta e sábado das 19h à meia noite. O endereço é R. Yokoama, 231 - Vila Palmira.