Em carrinho até com retrovisor, homem anda 30 km por dia vendendo cucas e pães
Faça chuva ou faça sol, o carrinho com pães e cucas do seu Reinaldo Talamini está na rua. De longe se vê que ele fez até cobertura com lona para esconder a mercadoria das gotas d'água e também do sol que judia. Para ele mesmo, o toldo quase não adianta. "É só um pouco, só para disfarçar", brinca.
Aos 64 anos, Reinaldo sempre fez da rua o local de trabalho e de clientes, os moradores e motoristas da cidade. Passou a última década vendendo pães e cucas feitos por ele. Foi o que aprendeu desde pequeno, que o ganha pão era dado a muitos passos.
"Toda vida trabalhei na rua, esse foi o meu trabalho. Vender jornal, ser camelô". A família é daqui mesmo, mas ele já viajou por várias capitais.
A receita chega a ser segredo, mas ele também não quer compartilhar. "As pessoas falam, ah, o fulano não me dá receita. Hoje em dia está tudo na internet, vai na internet que você acha", ensina.
Morador do bairro Nova Bahia, é de lá que ele sai todos os dias para um batente. Das 7h da manhã até 6h30 da tarde. A rota não é fixa e pode demorar até sete dias para que ele repita o trecho.
Quando o Lado B se deparou com Reinaldo, estava na região do Autonomista, mas já havia passado pelo Estrela Dalva e Carandá. "Agora por exemplo, estas ruas aqui só na semana que vem. Tenho uma clientela toda fiel e pela cidade toda", descreve.
Em parte pelas delícias dos pães de leite, de batata, cuca de goiabada e doce de leite e também por não faltar serviço. "Nestes anos todos foi só uma vez, tive uma gripe forte", relata.
Reinaldo sai de casa com 30 pães e 15 cucas e é difícil terminar o batente com mercadoria no carrinho Um pouco é pelo modo como ele costuma trabalhar.
"Faço uma pausa no almoço, porque das 11h da manhã às 2h da tarde não é horário para se bater na casa de ninguém. Senão, você se queima".
O carrinho é feito de tábua, partes de cano e ferro, com uma plaquinha "pão caseiro e cuca". O retrovisor foi colocado dos dois lados para facilitar. "Ia quebrar o pescoço de tanto virar para olhar", explica. Como o carrinho é grande, é preciso atenção ao dividir a rua com os carros.
A rotina é puxada e depois do expediente, Reinaldo está liberado de exercícios. "De caminhada dá uns 30 quilômetros por dia. Se você andar comigo, cansa", garante. Nem precisa, só de pensar na quilometragem, a exaustão parece tomar conta do corpo. No entanto, o comerciante ainda chega em casa e põe a mão na massa. É a noite que ele prepara o que vai vender no dia seguinte.
Os pães são vendidos por R$ 6 e as cucas por R$ 7. Quem ver seu Reinaldo na rua, pode parar que a conversa é boa e sabor garantido. "Foi assim que sustentei minha família, minha casa. Não me falta nada", resume.