João vende pastel no mesmo ponto há 25 anos e tem status de personagem no Centro
Seu João comprou o ponto na rua Cândido Mariano há quase 25 anos. Chegou com a experiência da venda de caldo de cana na Calógeras e na beira dos trilhos da Noroeste do Brasil. Junto com o novo espaço ficou a placa antiga, com os dizeres “vende-se pastel”. De tanto pedirem o salgado por engano, ele viu a oportunidade. Transformou o local em um dos maiores representantes da dupla gastronômica mais popular do Centro.
O movimento é intenso. Os clientes vêm de terno, na correria do dia a dia ou com a calma das gestantes prestes a ter o filho. No fim, todo mundo deseja um pastel com caldo de cana. “A história começou em 1992. Eu comprei o ponto para vender caldo de cana e por acaso estava escrito pastel frito”, ri seu João Ventura Felipe, 56 anos.
Antes do caldo de cana, ele trabalhou sete anos em outras firmas da cidade, sem muito paradeiro. Foi no caldo de cana que ele se encontrou. “Era na Calógeras, em frente ao Cemitério Santo Antônio. Isso em 1984. Foi dia a dia, puxado, depois fiquei dois anos no trilhos até que me ofereceram o ponto aqui e eu abracei, como dizem os meninos de hoje”, conversa bem-humorado.
Seu João tem um sotaque que não engana. É nordestino, cearense com muito orgulho. Em Mato Grosso do Sul há mais de 40 anos, ele não mede esforços para elogiar a cidade que o acolheu.
O negócio que começou em menos de 1.20m cresceu um pouco mais depois de muita luta. “A dona passou esse pedacinho que eu precisava para usar do lado de fora. O interesse era tão grande que nem tinha pensado em como faria aqui dentro. Foi muito apertado no início”, explica.
Mesmo assim, seu João não desistiu. Teve o apoio da ex-mulher, com quem foi casado 30 anos, e dos três filhos, dois que seguiram o mesmo caminho e um que administra uma casa noturna na cidade. “Todo mundo passou por aqui. Um tem pastel na feirinha da vila e outro no Shopping Estação. Família que ajudou a construir aqui, foi filho, mulher, sogra”, conta.
Enquanto as outras lanchonetes investem em mil sabores, João continua com os mesmos de quando começou: carne, queijo, frango, bauru, palmito e misto. “Tem gente que fala para colocar bacalhau, essas coisas, mas não tem retorno, tenho que aumentar a mão de obra, o serviço. Já vendi esfirra, enroladinho, pão de queijo, mas parei, não compensa”, diz, sem rodeios.
O preço segue um padrão. O de carne, frango, bauru e palmito custa R$ 3,50. Já o de queijo sobre para R$ 4,00 e o misto R$ 5.00. “Aqui não tem conforto nenhum, mas minha freguesia não liga para isso. Tem gente que vem aqui desde o início, que a primeira vez estava com filho na barriga e hoje é uma baita de uma moça”, se orgulha João.
Na trajetória de quem fez carreira em uma das ruas mais tradicionais de Campo Grande, viu o trilho passar e o progresso chegar ao Centro da Cidade, o que fica é a satisfação de ser parte dessa história. Nem o cansaço ou as mudanças transformam a vontade de seu João de continuar vendendo o pastel no mesmo cantinho, conversando com os clientes um a um.
“Eu adoro vender pastel e caldo de cana. Às vezes você sente o cansaço, mas é diferente quando gosta do que faz”, acredita.
O pastel do seu João fica na rua rua Cândido Mariano , 1413, Centro.