Vaca Louca é carro-chefe em padaria que serve também churrasquinho no almoço
Tem Vaca Louca de tradição paulista, cuca alemã com receita do Sul e até churrasquinho na hora do almoço. É com essa mistura de sabores, que a padaria Pão Moreno, na Avenida Eduardo Elias Zahran, completa 24 anos de portas abertas, desde que parte da família Hoffmann trocou o interior do Rio Grande do Sul por Campo Grande, para realizar um sonho.
“Era um sonho da mamãe ter uma padaria, a gente parou a vida para viver isso junto com ela”, explica a advogada e pedagoga Arlete Hoffmann, de 54 anos. A família veio em 1993 de Passo Fundo, onde Arlete, os pais e os irmãos, tinham uma vida consolidada. A mudança foi ideia do irmão, que depois de conhecer a cidade nas férias, disse que não voltaria para a terra natal.
“Primeiro minha mãe veio em um casamento em Sidrolândia e voltou encantada para o Sul. Disse que aqui era outro mundo. Depois, meu pai veio conhecer Sidrolândia e Maracaju, mas a ideia morreu. Quando meu irmão resolveu tirar férias, pela primeira vez, e conheceu a cidade, ele ligou pedindo que a família mandasse a mala dele”, descreve.
Na época, Arlete lembra já era pedagoga, inclusive, com duas nomeações e atuava na Secretaria de Educação do município. Um dos irmãos estava na faculdade e o pai também tinha emprego fixo. Mas o desejo de mudança falou mais alto no coração da família, que arriscou começar tudo de novo em outro canto.
Ao chegar, os Hoffmann compraram a padaria que antigamente se chamava San Genaro e tinha só dois funcionários, no bairro Cidade Morena.
A primeira mudança radical foi no nome, escolhido em concurso promovido pela família. Na época, muita gente participou, lembra Arlete. “Tinha nome de tudo quanto é tipo, dos mais sérios aos engraçados. Mas Pão Moreno foi o que mais combinou com o bairro e sugestão do cliente Reinaldo, da Gráfica Vida”.
Assim, todo mundo abriu mão dos sonhos para se entregar de corpo e alma à padaria, ao lado de dona Helena Hoffmann, de 75 anos, que hoje se aposentou, mas continua visitando a padaria que foi um sonho realizado na vida.
“Ficamos 15 anos de corpo e alma. Depois, cada um dos filhos foi fazer algo diferente, porque trabalhamos demais, sem parar. Mamãe fazia a cuca gaúcha, cueca virada e adorava cozinhar para os funcionários. Hoje, aposentada, ela não arreda o pé daqui. Se pudesse, sei que ela estaria lá na cozinha, trabalhando sem parar”.
A filha lembra que durante os anos de glória da padaria, nem a crise apagou o esforço dela e dos irmãos. “Fomos a primeira padaria a fornecer o pão de forma para o Carrefour e Lojas Americanas, na época, um dos primeiros com código de barra que acabou sendo falsificado por outra empresa e nos causou um problema tributário enorme. Mas continuamos trabalhando firme”.
Tudo mudou em 2010, quando Arlete concluiu Direito e abriu um escritório ao lado da padaria, enquanto o irmão mais novo terminou a faculdade e abriu um aviário na cidade. Tocando negócios diferentes, ela e os irmãos continuaram na administração da empresa familiar.
“Eu digo que a gente trabalhou muito, mas não soubemos administrar, todo mundo que é dono acha que sabe. Mas como qualquer empresa familiar, ela cresce até certo ponto. Depois e preciso se profissionalizar ou ela passa para a estagnação até o declínio. E nenhum de nós fez Administração ou buscou conhecimento. Até onde vamos? Não sei”.
Hoje, a padaria funciona todos os dias, com expediente que vai até às 21h. Além de salgados, doces e o pão quentinho. O diferencial tem sido o sanduíche Vaca Louca, servido com carne de panela, cebola e salada a R$ 8,00. E na hora do almoço, o espetinho, que custa R$ 15,00 com acompanhamentos.
Se a família de Arlete soubesse, 24 anos atrás, tudo o que viveria, teria feito igual? “Com certeza. Hoje quando eu volto para o Sul, sinto que lá nunca foi a minha terra. Mato Grosso do Sul incorporou de um jeito, que até fico pensando se existe um destino onde você é levada e conduzida para viver aquela realidade ou você que apenas constrói. Não sei, mas a única certeza é que essa admiração, por este lugar, nada destrói”