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Lado Rural

Consórcio de soja e capim mostra mais tolerância à seca em MS

Antecipasto propicia a entrada de gado no pasto de 30 a 60 dias ants do período de outros sistemas

Por José Roberto dos Santos | 26/06/2024 14:30
Dia de Campo na área do Sistema Antecipasto, na Estância Rosa Branca, em Rio Brilhante, MS, atesta resultados. (Foto: Sílvia Zoche Borges/Embrapa)
Dia de Campo na área do Sistema Antecipasto, na Estância Rosa Branca, em Rio Brilhante, MS, atesta resultados. (Foto: Sílvia Zoche Borges/Embrapa)

Mato Grosso do Sul passa por um período de seca cada vez mais intenso e sem previsão de chuvas. Em Rio Brilhante, município a 165 quilômetros da Capital Campo Grande, por exemplo, de acordo com os dados do Guia Clima, está sem chuvas expressivas desde 27 de maio de 2024 (abaixo de 5 mm). Segundo o gerente técnico e engenheiro agrônomo da propriedade rural Estância Rosa Branca, na região, Carlos Eduardo Barbosa, mesmo com a forte estiagem, existe pasto disponível nesta safrinha para o gado. Porém, apenas nas áreas onde foi implantado o sistema de produção desenvolvido pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), e que está em fase de lançamento: o Sistema Antecipasto.

O Antecipasto é um sistema de consórcio de soja com forrageira em que o capim é semeado após a emergência da soja, nas entrelinhas, possibilitando antecipar a formação de pastagem sem reduzir a produtividade da oleaginosa. Esse sistema favorece a diversificação de pastagens e a intensificação da produção em sistema de integração lavoura-pecuária.

A solução tecnológica tem como proposta antecipar a formação da pastagem em até 30 dias, permitindo que o rebanho tenha pasto disponível por mais tempo e na época do ano (estação seca/inverno) em que o produtor tem maior dificuldade de fornecer alimentação/nutrição adequada aos animais. “Safrinha sem chuva pede Antecipasto”, garante Barbosa.

Impacto positivo na pecuária

O pesquisador Luís Armando Zago Machado, da Embrapa Agropecuária Oeste (Dourados, MS), líder no desenvolvimento da tecnologia, afirma que o consórcio impacta principalmente na pecuária. “Quando as chuvas são escassas, o desenvolvimento do capim fica prejudicado, o que atrasa o pastejo e toda a programação. Já no consórcio, o planejamento do capim é feito depois de 20 dias do crescimento da soja, entre os estágios V3 e V4 da cultura”, explica o pesquisador, informando que, com isso, o gado pode entrar no pasto de 30 a 60 dias antes do período normal de pastel.

Capim é semeado nas entrelinhas das lavouras de soja. (Foto: Arquivo/Embrapa-Dourados)
Capim é semeado nas entrelinhas das lavouras de soja. (Foto: Arquivo/Embrapa-Dourados)

Em nota técnica distribuída à imprensa pela unidade de pesquisa, após vários testes, o capim que mais se adequou ao consórcio é o BRS Tamani que, por suas características (pequeno porte, crescimento inicial lento e não emitem colmos na fase vegetativa ou emitem colmos finos), não compete com a oleaginosa. “A soja é uma cultura que paga a conta do sistema. Não podemos comprometer a produtividade da soja”, explica o pesquisador.

Conforme o pesquisador Rodrigo Arroyo Garcia, do mesmo centro de pesquisa, o importante não é qual a cultivar de soja, mas seu padrão de crescimento, “porque existem vários no mercado e diferentes programas de melhoramento genético”.

Entre as características, a soja deve ter resistência a herbicidas, ter porte em torno de 90 cm a 110 cm e crescimento vegetativo vigoroso com bom fechamento de entrelinhas. O espaçamento entrelinhas da oleaginosa não precisa ser alterado, sendo entre 45 cm e 60 cm. O momento ideal para a dessecação pré-colheita da soja é a partir do estádio reprodutivo R7.2, quando a planta está bem amarelada, não ocorrendo a perda de produtividade nem a eficiência da dessecação.

O gerente técnico da Estância, Carlos Barbosa, conta que participa das pesquisas da Embrapa, testando forragens, doses, espaçamentos, épocas e cinco cultivares de soja, há safras. “Existe um custo a mais com a BRS Tamani [capim mais adequado ao consórcio] e com a sobremesa, mas temos 2@/ha líquidos a mais [no peso do boi]”.

Segundo os pesquisadores, os benefícios da tecnologia dependem dos objetivos e limitações de cada ambiente de produção, mas, de acordo com Garcia, “a tecnologia se encaixa como uma 'luva' para quem faz a ILP e para quem quer formar palhada”.

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