Expogrande retoma com shows e as "raízes do agronegócio"
A garantia é do presidente da Acrissul, Guilherme Bumlai, em entrevista ao Campo Grande News
Guilherme de Barros Costa Marques Bumlai, pecuarista e bacharel em Direito pela Universidade Católica Dom Bosco, paulista, 44 anos, assumiu a presidência da Acrissul (Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul) em outubro, para gerir os destinos da entidade que em 2023 completa 92 anos de fundação. É a segunda entidade mais longeva do País. Guilherme tem à frente o desafio de recuperar o potencial e o significado econômico da Expogrande, além da credibilidade e a representatividade da Acrissul como entidade ruralista com o peso e a legitimidade que teve no passado.
Presidente, praticamente a Acrissul ficou 3 anos sem promover a Expogrande, como a atual diretoria recebe esta que é entidade mais antiga do Estado e quais são os projetos para promover a feira de 2023?
Essa falta de exposição se deve também ao fato de que passamos pela pandemia de coronavírus. Entendemos que o momento é oportuno para realizarmos uma grande feira, em vista de que há uma carência da população por grandes eventos, em relação à cultura, ao entretenimento e ao agronegócio.
Um grande avanço que teremos é a retomada dos shows no Parque de Exposições Laucídio Coelho. Desta forma vamos atrair público e com o público esperamos retomar o contato com a raiz econômica de nosso Estado, que é o agronegócio.
A entidade no passado se mobilizou em relevantes movimentos do setor ruralista, algo que foi abandonado praticamente nos últimos anos, fazendo com que ela perdesse representatividade. O que fazer para recuperar esse prestígio da Acrissul como legítima representante dos criadores?
Primeiramente montamos uma diretoria que pudesse ser realmente participativa. Criamos comissões para que todos pudessem participar de forma efetiva e de imediato abrimos diálogo com diversas entidades do setor: Famasul, Sebrae, Senar, sindicatos rurais, governo do Estado, prefeitura, de forma a inserir a entidade nas discussões de tudo o que envolve o agronegócio.
"Estamos trabalhando para reinserir a Acrissul nas discussões de tudo o que envolve o agro. Assim vamos reconquistar seu potencial enquanto entidade ruralista."
Vale lembrar que a Acrissul participa do Fundefesa, Conselho Estadual de Saúde Animal e um assento no Fundersul, onde participa ativamente das discussões da aplicação dos recursos do Fundersul.
Há alguns anos a Acrissul vem sofrendo grande pressão urbana pelo fato de o Parque de Exposições Laucídio Coelho estar instalado em região de grande concentração populacional, o que causa inúmeras reclamações por conta do ruído gerado pela Expogrande. Há algum projeto do parque ser instalado em outra área?
Neste momento é algo que só pode ser cogitado a médio ou longo prazo. O grande potencial do nosso parque de exposições é a sua localização. O parque está instalado nesse local há muitos anos. Muitos dos prédios a seu redor chegaram muito tempo depois. É preciso que haja um entendimento com a comunidade em seu entorno em relação às atividades promovidas no parque. Para isso entendemos que as questões dos horários de funcionamento podem ser melhor trabalhadas. Para o ano de 2023 os shows devem terminar num horário preestabelecido e com isso entendemos que podemos trabalhar em harmonia com a nossa vizinhança.
Presidente, isso atende as exigências das autoridades como Ministério Público, Meio Ambiente e outras?
Temos hoje uma decisão judicial que nos garante a realização dos shows até meia-noite e estamos dialogando com o Ministério Público, de forma a chegar num consenso, e encerrar essa celeuma jurídica que já se arrasta há vários anos. A ideia é estipularmos um horário de término (dos shows) que seja factível com as expectativas da vizinhança e do Ministério Público.
Em 2023 os shows vão parar, portanto, à meia-noite.
"Temos uma decisão judicial que garante a realização dos shows no Parque Laucídio Coelho até meia-noite."
O projeto de criar uma Acrissul Rural, tendo sido inclusive uma área doada pelo Governo do Estado no passado para isso. Isso ainda está nos planos desta diretoria?
Não. Inclusive já aprovamos em reunião de diretoria a devolução daquela área que convencionou-se a chamar de Acrissul Rural, em vista de que o parque hoje exige uma série de manutenções e aporte de recursos que impossibilita a estruturação daquela área da Acrissul Rural. Entendemos que o momento é de investimento no parque Laucídio Coelho e vamos devolver àquela área.
Para 2023, que tipo de restrições legais ou ambientais a Expogrande pode sofrer para realizar os shows? E como isso pode ser superado?
Hoje temos todas as licenças exigidas e temos uma decisão judicial que nos permite realizar os shows com limite de término até a meia-noite. Nesse momento estamos empenhados em resolver, com o Ministério Público, o processo judicial em definitivo. Existe um ponto no Termo der Ajustamento de Conduta que é a parte do projeto de isolamento acústico, que na nossa avaliação é totalmente inviável, do ponto de vista financeiro e, portanto, estamos buscando um acordo para contornar essa exigência.
O Parque de Exposições Laucídio Coelho, instalado na década de 40, no mesmo local onde encontra-se atualmente, precisa de revitalização e modernização, antiga reivindicação dos criadores. O que a Acrissul planeja nos próximos anos para que isso aconteça?
Estamos desenvolvendo projetos visando essa revitalização. A ideia é reformar o Pavilhão do Fazendeiro, tradicional espaço de encontro dos criadores de Mato Grosso do Sul. Também vamos criar uma praça de alimentação para permitir a presença de food trucks, com toda infra-estrutura, banheiros modernos. Algumas edificações mais antigas vamos demolir e abrir mais espaço para estandes ou outras finalidades com estruturas mais modernas.
A pandemia mostrou que é possível promover grandes eventos de forma virtual. Como a Acrissul vai lidar com isso, de forma a incorporar as tecnologias de comunicação para promover um evento que sempre foi tradicionalmente presencial?
Acho que ao mesmo passo que a tecnologia veio para dar comodidade, conforto, a questão do convívio, do calor humano, ficou um pouco de lado. A Expogrande é uma boa hora para retomarmos isso, sem perder de vista àqueles que querem participar sem sair do conforto de suas casas. Para isso a ideia é que possamos realizar leilões e palestras de forma híbrida, tanto presencial quanto virtual.
"Estamos antecipando o lançamento oficial da feira de 2023. É esse trabalho de planejamento que vai garantir o sucesso da exposição. A receptividade tem sido grande."
No dia 8 de dezembro a Acrissul fará o lançamento da Expogrande 2023. Qual a expectativa da associação de recuperar a imagem da feira, frente ao fato de que nos últimos anos, ela perdeu a importância e o interesse comercial que tinha?
A diretoria está engajada para promover uma grande Expogrande. Para isso estamos lançando a feira com bastante antecedência, para que a população e o comércio possa se programar para participar da feira. Estamos mantendo contato com diversas entidades e associações, buscando apoio das universidades e da comunidade científica, para que possa reerguer essa exposição.
E como será o trabalho para recuperar essa importância da feira no cenário nacional, já que ela ocupou no passado lugar de destaque no ranking de exposições da pecuária?
O trabalho vai ser esse, buscando o engajamento de todos os setores, trabalhando com antecedência e cooptando criadores e empresas. E isso tem dado resultado. Já começou o movimento por parte das empresas agendando leilões e por parte dos núcleos de criadores para marcar julgamento e provas de avaliações dos animais.
A receptividade tem sido grande desde os primeiros contatos e acreditamos que há uma enorme expectativa por parte do mercado e da sociedade, que têm na Expogrande uma vitrine da pecuária e de toda a cadeia do agronegócio, a principal fonte da economia sul-mato-grossense.