Decisão judicial faz Sandra reencontrar Jade depois de 8 meses
Arara foi retirada da dona após denúncia de vizinho.
Os minutos que antecederam o tão esperado reencontro entre a funcionária pública Sandra Rocha e a "filha" Jade, foram de contínua aflição e ansiedade. No entanto, não chegaram nem perto dos sentimentos vividos durante os 8 meses e meio em que as duas estiveram separadas. Em julho de 2018, Jade, uma arara canindé, foi levada de casa depois de um vizinho protocolar denúncia pela criação do animal silvestre. Sandra resolveu então recorrer à Justiça e conseguiu decisão favorável para guarda definitiva da ave.
Ela conta que a história com a arara começou em meados de 2012, depois de um amigo da mãe dela, que era capataz de fazenda, encontrar a ave quase morta no tronco de uma árvore. “Eram duas araras, mas o irmão da Jade já estava morto no ninho. Já ela, estava tomada por vermes, quase morrendo”, garante.
A funcionária pública diz que o trabalhador rural resolveu deixar o pássaro com a mãe dela, a aposentada Geny Rodrigues, de 66 anos, que na época, tinha um bar onde funcionários de fazendas da região de Santa Rita do Pardo costumavam ir. No início, mãe e filha tiveram certa resistência em ficar com o animal, no entanto, a situação crítica exigia que algo fosse feito. “Era pegar ou deixar morrer”, resume.
Depois de deixar a ave com as duas, o capataz pediu que o animal fosse batizado com o nome de Jade, em homenagem a arara azul que protagonizou o filme de animação ‘Rio’. Ele prometeu que voltaria para pegá-la, no entanto, meses foram se passando e nunca mais voltou.
“Mais tarde fiquei sabendo que o peão havia sido demitido e que tinha ido embora. Foi exatamente aí que me dei conta do quanto eu queria ficar com ela, porque fiquei feliz quando ele sumiu e me deixou com ela”, afirma.
Dali em diante tudo foi amor. Para Sandra, a melhor relação que descreve o envolvimento entre ela e Jade é a de mãe e filha. Além disso, a filha adotada a ajudou a enfrentar uma depressão. “A Jade sempre viveu livre dentro da minha casa e mesmo assim, sempre permaneceu. Nós passeávamos, andávamos de bicicleta e a interação com ela me deu forças para enfrentar a depressão, afinal, os bichos nos amam, independente do que somos”, diz.
O que a funcionária pública não esperava era que a denúncia feita pelo vizinho, colocaria uma pausa na relação de afeto. No dia seguinte ao registro feito pelo homem, policiais ambientais foram até a casa dela e levaram a arara. “Foi terrível, ela não queria ir, ficou agitada. Precisei ficar uns 40 minutos acalmando a Jade para que eles conseguissem a levar de mim”, relembra.
Sem saber o que fazer e com a depressão ainda mais aflorada depois da separação, Sandra conta que passou a procurar informações de como poderia recuperar a filha. “Consegui orientação do que fazer e até uma vaquinha para pagar o advogado que entrou com pedido na Justiça para eu ter minha filha de volta”, relata.
Um mês depois de a ação ser protocolada, no dia 9 de novembro, a servidora já conseguiu a guarda definitiva de Jade, afinal, tudo indicava que a arara era bem tratada, que Sandra tinha as melhores intenções e que relação entre as duas era de amor.
Mesmo com a guarda da filha de penas nas mãos, uma série de questões burocráticas adiaram em mais cinco meses o reencontro das duas. Somente nesta quinta-feira (11), depois de tanto sofrimento e aflição, Jade e Sandra finalmente puderam se ver novamente.
E o reencontro foi lindo! Ao ouvir a voz da mãe, ainda dentro de uma caixa de contenção, Jade pareceu mandar um sinal para avisar que também estava feliz com o momento. “Minha filha, a mãe está aqui e agora a gente já pode voltar para a casa, meu amor”, dizia a servidora para a Arara, que respondia fazendo sons.
“A dedicação que minha mulher tem com a Jade é incrível, ela se tornou parte da família. Não tenho ideia de como nasce o amor de um ser humano por um animal e de um animal por um ser humano. Ambos se escolheram”, relata o marido de Sandra, o motorista Samuel Samuel Santos, de 63 anos.