Em 6 grupos, capivaras reinam no Parque das Nações, sem risco de superpopulação
Pesquisa da UFMS monitora animais há uma década, com colar GPS e exames
Elas são muitas, mas não há superpopulação de capivaras no Parque das Nações Indígenas, área verde de 118 hectares em Campo Grande. A constatação vem do estudo “Cidades megadiversas: Como e por que grandes vertebrados sobrevivem em grandes centros urbanos”, realizado há quase uma década por pesquisadores da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul).
No maior parque urbano da Capital, as capivaras se dividem em seis grupos, com população que chega a 250 animais. De acordo com o professor da UFMS, Luiz Gustavo Rodrigues Oliveira Santos, as populações se regulam pela quantidade de grama e água disponíveis.
“Como isso não muda na cidade e, quando muda, normalmente é para pior, com gramados que viram áreas construídas e banhados que são drenados, as populações tendem a decrescer”, afirma o pesquisador, que é graduado em Ciências Biológicas, com mestrado em “Ecologia e Conservação” e doutorado em ecologia.
Na pesquisa, capivaras são monitoradas por colar GPS e passam por exames, com coleta de sangue e captura de carrapatos para estudo sobre febre maculosa. A doença causou comoção no mês passado em Campinas, interior de São Paulo, onde quatro pessoas morreram. A febre maculosa é causada por uma bactéria do gênero Rickettsia, transmitida pela picada do carrapato-estrela, cujo um dos hospedeiros é a capivara.
O carrapato também pode ser encontrado em cavalos e outros animais de grande porte. A doença circula há pelo menos dez anos em Mato Grosso do Sul e, na última década, foram registrados apenas seis casos da doença na Capital. O último caso confirmado foi em 2018.
Passeio no parque - No Parque das Nações Indígenas, não há placa ou informativo sobre a febre maculosa. Frequentadores entrevistados pela reportagem contam que não têm muita informação sobre a doença, mas há quem adote cuidados, como não se sentar no gramado.
Lourdes Alves, 79 anos, veio de São Paulo e estava em companhia da neta, que é de Dourados. “Ah, eu estou andando o mínimo possível na grama. Quando chego em casa dou uma olhada se tem algum carrapato, mas se já tivesse subido, até olhar já tinha picado, né?”, comenta a idosa, que aproveitou o passeio para fazer foto perto das capivaras.
Sueli Marques, 57 anos, servidora pública federal aposentada, também redobra os cuidados com o gramado. “Por exemplo, hoje eu não vou na grama. Só aqui [na pista]. Não me arrisco a vir fazer um piquenique. Fazer passeio em fazenda também já inspira um certo cuidado”.
Segundo a aposentada, a situação é negligenciada. “Acho que está assim meio negligenciando o perigo que é e a forma de propagação, que é bastante preocupante, porque o próprio animal silvestre é que vai alastrar o carrapato”.
A reportagem solicitou informações ao Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) sobre monitoramento das capivaras, se há projeto para esterilização (medida adotada em Belo Horizonte e em estudo pela prefeitura de São Paulo), possibilidade de transferência de animais e orientações para os frequentadores, mas não recebeu resposta até a publicação da matéria.
Cuidados – No último dia 23, a Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) divulgou informativo sobre a febre maculosa. De acordo com o sanitarista Claudio Maierovitch, coordenador do Núcleo de Epidemiologia e Vigilância em Saúde da Fiocruz Brasília, a principal prevenção é evitar o contato com carrapatos.
“Atenção especial deve ser dada aos membros inferiores, usando calças compridas com as bocas por dentro das meias ou botas, pois os carrapatos podem subir pelas pernas. Também é recomendável usar repelentes, reaplicando conforme orientação do fabricante. Se possível, não andar onde o mato for alto e nem em contato com arbustos, pois é frequente que os animais fiquem sobre eles e passem para as costas ou ombros de quem encosta. Depois, é importante examinar o corpo todo para identificar logo se há algum carrapato preso à pele. É bom lembrar que, quando cachorros andam por áreas com infestação, eles podem carregar carrapatos também”, afirma o sanitarista.
Conforme o especialista, os carrapatos circulam entre animais de grande porte e o solo ou a vegetação rasteira. “Tem sido observado que as áreas frequentadas por capivaras merecem especial atenção. As autoridades devem orientar a população, de diferentes formas, quanto aos riscos e cuidados; cuidar para que, nas áreas públicas, o mato seja mantido bem baixo; e garantir que haja barreiras para impedir a presença de animais onde as pessoas circulam. Também compete às autoridades fiscalizar áreas privadas abertas ao público e orientar os responsáveis. Quando forem identificados locais onde houve transmissão, a depender de análise, deve ser impedida a circulação de pessoas”.