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Meio Ambiente

Em mercado que levanta R$ 6 milhões ao mês, latinha é reciclada em 27 dias

Caroline Maldonado | 10/02/2016 08:49
Lojistas separam lixo e shopping Bosque dos Ipês envia para reciclagem 25 toneladas de recicláveis por mês (Foto: Marcos Ermínio)
Lojistas separam lixo e shopping Bosque dos Ipês envia para reciclagem 25 toneladas de recicláveis por mês (Foto: Marcos Ermínio)

Parece um “trabalho de formiguinha” o que é feito por centenas de pessoas todos os dias para que o alumínio de uma latinha de refrigerante, que foi jogada no lixo, volte para circulação em 27 dias. Esse e outros recicláveis, como papelão, plástico e vidro, movimentam ao menos R$ 6 milhões por mês, somente em Mato Grosso do Sul. São mais de 5 mil toneladas de material jogado em qualquer lixeira por aí, que passa na mão de muita gente até ficar pronto para ser reutilizado.

Na verdade, boa parte desse volume não vem de uma lixeira qualquer. Grandes empresas, como lojas e shoppings, que recebem centenas de pessoas diariamente, investem em esquemas para coletar o que não se pode mais chamar de lixo, embora vá, antes de tudo, para as lixeiras. Elas ganham cor e até formato diferente para chamar a atenção de quem está prestes a jogar qualquer coisa fora e facilitar o trabalho de quem recolhe.

Caiu ali naquele saquinho colorido da lixeira, o produto entra na corrente do que a coordenadora de Manutenção do Shopping Bosque dos Ipês, Eliane Muniz Soares, chama de “trabalho de formiguinha”. Com o vai e vem de gente pelos corredores, nas lojas e na praça de alimentação, a empresa envia para a reciclagem 25 toneladas de material por mês, incluindo papel, plástico, alumínio e isopor.

“Nós usamos até sacos coloridos dentro de cada compartimento da lixeira para que a pessoa possa identificar com mais facilidade qual é de cada material. Depois de reunido, isso vai separado para gaiolas de cinco docas que há no shopping e, sem seguida, para um contêiner e em nenhum momento pode ter contato e ser contaminado pelo lixo orgânico”, comenta a coordenadora. Ela conta que no começo foi difícil fazer com que os lojistas criassem o hábito de separar o lixo.

Os comerciantes levam os pacotes até essas docas que estão espalhadas pelo shopping, onde o cliente não tem acesso. “Nós promovemos também visitas de escolas para mostrar tudo que fazemos pela sustentabilidade e elas ficam impressionadas com o tanto de detalhes que não haviam percebido até então”, detalha Eliane.

Coordenadora de Manutenção do shopping Bosque dos Ipês, Eliane Muniz Soares explica como lixo é selecionado (Foto: Marcos Ermínio)
Coordenadora de Manutenção do shopping Bosque dos Ipês, Eliane Muniz Soares explica como lixo é selecionado (Foto: Marcos Ermínio)
Reciclagem movimenta R$ 6 milhões por mês em MS, segundo gerente comercial da Repram, Felipe Pohlman (Foto: Fernando Antunes)
Reciclagem movimenta R$ 6 milhões por mês em MS, segundo gerente comercial da Repram, Felipe Pohlman (Foto: Fernando Antunes)

Três vezes por semana, o contêiner sai do shopping, cruza a cidade e chega a uma empresa instalada na região sul, que recebe caminhões de material diariamente. Ali, os produtos são processados ou prensados e boa parte segue para São Paulo. “As latinhas vão em fardos para ser derretidas em outro Estado e em 27 dias ou, no máximo, 30 dias, esse alumínio está de volta no mercado como embalagem”, comenta o gerente comercial da Repram, Felipe Pohlman.

O gerente explica que passam pelo local cerca de 2,5 mil toneladas de papelão e a mesma quantidade de latinha, totalizando mais de 5 mil toneladas, por mês. “O plástico é processado aqui mesmo. Nós fabricamos o granulado que vai para a indústria para voltar ao seu estado original, seja plástico mole ou de engradados”.

Plástico é derretido, vira granulado e vai para SP, onde é transformado em sacolas novamente (Foto: Caroline Maldonado)
Plástico é derretido, vira granulado e vai para SP, onde é transformado em sacolas novamente (Foto: Caroline Maldonado)
Em MS, empresa coleta 5 mil toneladas de material reciclável por mês (Foto: Caroline Maldonado)
Em MS, empresa coleta 5 mil toneladas de material reciclável por mês (Foto: Caroline Maldonado)

Segundo Felipe, 30% desses granulados ficam aqui em Campo Grande com empresas que fazem a transformação e o restante segue para Estados como São Paulo, Rio de Janeiro e Paraná. “As empresas que entram nesse circuito geram renda e é um compromisso com o meio ambiente”, comenta Felipe. A Repram atende ainda outros shoppings da cidade, atacados e supermercados.

Além disso, a empresa recebe materiais de pequenos empresários que compram para revenda. Há três anos trabalhando com coleta, Ramão Ramos, 54 anos, revende para a Repam cerca de 200 quilos, por semana. Ele passa com o caminhão anunciando a compra nos municípios de Corguinho, Rio Negro, Rochedo e Rio Verde.

Pelo quilo da latinha, ele paga R$ 2. O cobre custa R$ 10 e o inox sai por R$ 2. "É um serviço difícil, porque dá trabalho, tem dias que você toma chuva, come mal, porque está sempre em viagem", comenta Ramão, que deixou de trabalhar como mecânico e investiu na coleta. Juntos, a esposa e ele, levantam em torno de R$ 6 mil, por mês.

Ramão revende cerca de 200 quilos de material reciclável, por semana (Foto: Caroline Maldonado)
Ramão revende cerca de 200 quilos de material reciclável, por semana (Foto: Caroline Maldonado)
Lixeira tem pacotes coloridos para facilitar seleção (Foto: Marcos Ermínio)
Lixeira tem pacotes coloridos para facilitar seleção (Foto: Marcos Ermínio)

Em restaurantes e bares, o esquema é o mesmo, mas o material que mais preocupa, em função dos danos que pode causar ao meio ambiente, é o óleo de cozinha. Licenciada para coletar óleo em Campo Grande, a empresa Katu Oil recolheu 21 mil litros de 300 restaurantes, somente em janeiro deste ano.

“Temos dois carros circulando todos os dias. Com relação as residências é um trabalho mais difícil, porque depende da conscientização, pois é uma questão cultural”, disse o sócio-proprietário Caio Arakaki Gasparinni. Ele tem parceria com um condomínio a cidade, mas a quantidade coletada é muito pequena.

“No Flamingos, a cada 6 meses nós recolhemos 50 litros de óleo, mas queremos fazer parcerias com outros residenciais, pois tem muito óleo que é destinado de forma que prejudica o meio ambiente. Sabemos que cada família gasta em média 5 litros de óleo, por mês”.

O empresário lembra que o óleo jogado na pia ou no quintal é extremamente prejudicial. O óleo entope encanamentos e quem despeja na terra está afetando o solo e os lençóis freáticos.

Uma das maiores reservas de águas subterrâneas do mundo é o Aquífero Guarani, que está sob o território de Mato Grosso do Sul. Ele ocupa o subsolo do nordeste da Argentina, centro-sudoeste do Brasil, noroeste do Uruguai e sudeste do Paraguai. Além disso, segundo Caio, um litro de óleo descartado no esgoto pode contaminar cerca de um milhão de litros de água, o que é consumido por uma pessoa por 14 anos.

Pontos de Coleta - A Repram compra sucata, sendo no mínimo 100 quilos por produto já prensado. A empresa fica na Rua Francisco Galvao Paim, 1709, Bairro Cristo Redentor.

O coletor de recicláveis que passa com caminhão no interior do Estado também tem ponto de coleta em Campo Grande. O endereço é Rua Iporã, 164, Bairro Taquarussu.

A Katu Oil compra óleo de cozinha por litro, na sede da empresa, na Rua Rio de Janeiro, 1675, Bairro Monte Castelo. A coleta ocorre também em diversos locais da cidade. Confira os pontos de coleta no site www.katuoil.com.br/coleta.

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