Invasoras, tilápias se habituaram ao Anhanduí e mostram onde resta água limpa
Cardume foi flagrado aproveitando espaço "limpo" do rio que corta a cidade de Campo Grande
Depois de chamar a atenção no Rio Anhanduí, as tilápias seguem a vida normalmente no leito do curso d'água, na Avenida Presidente Ernesto Geisel, na altura do bairro Jockey Clube, em Campo Grande. Biólogos explicam que, apesar de ser considerada espécie invasora, as tilápias estão habituadas e espalhadas por todas as bacias hidrográficas brasileiras.
No Rio Anahanduí, a reportagem encontrou dois lugares em que os peixes se concentram. Um deles fica no encontro dos Córregos Segredo e Prosa, que se tornam o rio, próximo ao Monumento dos Desbravadores. O outro é em frente ao Shopping Norte Sul. O que garante que por ali a qualidade da água está "melhorzinha"
O biólogo José Milton Longo, formado na Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) explicou que os peixes ficam onde a água é mais oxigenada e limpa. "Eles vão sobrevivendo e encontrando o melhor lugar para ficar, normalmente em quedas d'águas, nunca em locais com sujeira e produtos químicos".
Ele explicou ainda que não tem como indicar de onde vieram os peixes flagrados. A espécie é uma das principais na criação e exportação. Em 2023, por exemplo, dados divulgados pelo Governo do Estado mostram que Mato Grosso do Sul foi o 2º maior exportador do Brasil.
O biólogo e professor da UEMS (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), José Sabino indicou que uma das hípoteses é que os peixes possam ter saído de um criadouro. "No Anhanduí devem ter chegado por algum escape de piscicultura, mas não posso assegurar com certeza. O fato é que elas estão bem estabelecidas na região".
As tilápias são peixes africanos, introduzidas pela primeira vez no Brasil no início do século 20. Após esse evento inicial, muitos outros ocorreram de modo intencional (os chamados peixamentos) ou acidental (escape de piscicultura).
"Por encontrar ambientes propícios, as populações se estabeleceram em praticamente todas as bacias hidrográficas do Brasil. Existem pelo menos quatro espécies de tilápias que ocorrem aqui, mas a mais comum é a tilápia-do-nilo", explicou o professor.
Ele destaca que o animal é muito resistente e de fácil adaptação. Além é claro de serem exóticas e não terem predadores naturais. "Por não fazerem parte dos ecossistemas daqui, elas atuam negativamente como predadoras de organismos aquáticos de pequeno porte (pequenos peixes, crustáceos e moluscos, por exemplo). Pelo comportamento oportunista, geram desequilíbrios na estrutura dos ecossistemas, alterando cadeias alimentares, competindo por espaço e outros recursos naturais".
A PMA (Polícia Militar Ambiental) foi consultada pela reportagem. Em nota, respondeu que não se tem o que fazer "tendo em vista que a tilápia não é peixe nativo, e sim espécie invasora introduzida". A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano), da Prefeitura de Campo Grande afirmou que somente acompanha a situação do rio e não dos animais.
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