Inverno mais quente pode atrair gafanhotos para MS, alertam pesquisadores
Agora já são 3 nuvens do inseto monitoradas pelo governo de Mato Grosso do Sul
O clima seco e quente, característico mesmo no inverno de Mato Grosso do Sul, pode ser preponderante para a passagem da nuvem de gafanhotos pelo Estado. É o alerta que fazem os pesquisadores Éder Comunello e Crébio José Ávila, que assinam artigo sobre o tema ao lado de Celso de Souza Martins, superintendente federal do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento no Estado .
Os 3 afirmam que a praga poderia, nestas condições, rapidamente se disseminar pela lavoura “em uma época que teríamos o cultivo do milho safrinha, trigo, aveia e feijão, além dos danos potenciais às pastagens e aos canaviais”.
“Podemos ter um grande problema quando o inverno é atípico com temperaturas maiores. O frio do inverno, inclusive com geadas e precipitações, é muito importante para conter a praga […], pois diminui o metabolismo dos insetos, o que impede seu deslocamento e danos nos cultivos”, escrevem.
Os indícios são de que essa nuvem de gafanhotos tem origem da região chamada Chaco Paraguaio, entre os Estados de Boquerón e Alto Paraguay, a cerca de 300 km de Mato Grosso do Sul.
No artigo, os pesquisadores destacam que os gafanhotos são da espécie Schistocerca cancellata e “costumam passar despercebidos em seus ambientes naturais de origem”, como pastagens e reservas naturais.
“Em condições de estresse ambiental e sob condições climáticas adequadas, eles podem mudar seu comportamento, passando a desenvolver um comportamento social de gregário, onde formam as nuvens e incrementam seu apetite e a capacidade reprodutiva”, explica.
As nuvens se deslocam entre 10 km e 20 km por dia, mas com a ajuda dos ventos podem atingir os 100 km percorridos. Os pesquisadores lembram que a nuvem anterior ainda não foi totalmente controlada, reforçando a preocupação com esta nova, com origem paraguaia.
“Essas nuvens de gafanhotos podem conter cerca de 30 a 40 milhões de insetos por km² que devoram plantações em questão de horas equivalendo-se a 2 mil vacas nas pastagens”, apontam.
Os pesquisadores defendem que durante a noite, quando os insetos estão sob repouso, seja o momento mais adequado para controle, “embora esse horário de baixa visibilidade seja uma limitação para pulverizações. As aplicações de inseticidas químicos podem ser terrestres ou mais comumente com aeronaves. No entanto, existem poucos produtos registrados no Brasil para o seu controle, havendo necessidade de o governo liberar o uso emergencial […]. Quando os insetos levantam voo e passam a atacar pastagens e plantações, o seu controle torna-se mais difícil porque o deslocamento é bastante rápido, o que diminui a eficiência dos inseticidas”, explicam os autores do artigo.
Os pesquisadores também explicam que nesta fase gregária os insetos mudam de colocação e que deve ser feito monitoramento ainda na origem da praga, avaliando a densidade quando os insetos não voam, mais fácil de controlar o desenvolvimento.
Sobre a possibilidade da nuvem chegar a Mato Grosso do Sul, os pesquisadores citam o Chaco e o Pantanal como barreiras física e biológica, além da dinâmica de circulação de ventos nesta época, com tendência a direcioná-la para o sul do continente. Também apontam a previsão do tempo como aliada, prevendo a chegada de nova frente na região.
“É pouco provável que tenhamos problemas com nuvens desses gafanhotos em Mato Grosso do Sul. Todavia, isso poderia mudar rapidamente e criar condições para a entrada dessa praga no Estado, e assim, causar grande transtorno à economia da região”, alertam.