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Meio Ambiente

Morte de aves na rede elétrica preocupa e reacende polêmica

Aliny Mary Dias | 03/05/2014 09:19
Pássaros "estacionados" sobre poste de luz em Campo Grande. (Foto: Cleber Gellio)
Pássaros "estacionados" sobre poste de luz em Campo Grande. (Foto: Cleber Gellio)
Ave "enrolada" nos fios em poste de energia elétrica, um risco que, para algumas acaba em morte. (Foto: Cleber Gellio)
Ave "enrolada" nos fios em poste de energia elétrica, um risco que, para algumas acaba em morte. (Foto: Cleber Gellio)

Ninhos de pássaros na rede elétrica, casas de joão-de-barro construídas em transformadores de energia e aves mortas após choques nos fios. Essas situações comuns em áreas urbanas, principalmente aquelas mais próximas de antigas áreas com muito verde, preocupam especialistas e reascendem discussões sobre os impactos do homem na natureza.

Em Campo Grande, em uma rápida volta pela cidade, é possível encontrar ninhos de pássaros em transformadores, postes de luz e nas famosas cruzetas, estruturas localizadas no topo dos postes e responsáveis por fixar todo os fios e conectores.

Apesar de a PMA (Polícia Militar Ambiental) não contabilizar as mortes e casos de pássaros que se ferem ou morrem em choques elétricos ou impactos com a fiação, a sensação de que os casos ocorrem com cada vez mais freqüência na cidade é comum para muitas pessoas. E quando as mortes envolvem aves como araras e tucanos, a sensibilização é ainda maior.

De acordo com a bióloga e responsável pelo projeto Arara Azul, Neiva Guedes, no fim do ano passado, época de reprodução das araras, seis casos de mortes de animais em contato com a rede elétrica foram registrados só pela instituição que ela coordena.

“As pessoas sempre ligam para gente quando encontram uma arara morta ou vítima de um choque. Nós vemos que são situações variadas, tem aquelas que morrem em fios de alta tensão que ficam mais afastados da cidade e outros dentro da área urbana”, conta a bióloga.

Fotógrafo encontrou arara morta após choque na fiação (Foto: Arquivo Pessoal)
Fotógrafo encontrou arara morta após choque na fiação (Foto: Arquivo Pessoal)

Testemunha de um caso ocorrido bem no centro da cidade, o fotógrafo Saul Schramm, 47 anos, lembra da reação ao encontrar uma arara da espécie Canindé na Rua 14 de Julho. O caso ocorreu há um ano, mas não sai da cabeça do fotógrafo.

“Eu estava no trabalho e ouvimos um estouro na fiação, saí do prédio e quando chegamos lá ela já estava morta. Outras araras ficaram voando e gritando por ali, mas não teve jeito. Foi um choque para nós porque todo dia víamos os casais da janela, foi bem triste”, conta.

Depois do incidente, Saul chamou uma equipe da PMA que recolheu o animal. Conforme dito ao fotógrafo na época, bichos em bom estado são empalhados e usados para ações de educação ambiental.

Uma solução para o fim dos choques e a morte dos pássaros não é fácil e muito menos pontual. Pelo menos é o que diz o professor de Física da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e especialista em energia rural, Amâncio Rodrigues.

Ele afirma que ações para impedir os choques elétricos seriam ineficazes, já que a maioria de casos envolvendo pássaros a morte ocorre pelo impacto com a fiação. “É bem complicado porque a maioria morre no choque mecânico e não no elétrico. No campo até seria mais fácil criar mecanismos para evitar, mas na cidade é inviável”.

Além de inviável, ações com esse fim só poderiam ser executadas caso constassem na ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas). Segundo a Enersul, concessionária de energia da Capital, todos os procedimentos são feitos com base nos padrões exigidos.

A empresa lembra ainda que há nas concessionárias políticas de sustentabilidade em pontos de grande concentração de animais. Principalmente na região do Pantanal, há dispositivos que diminuem o risco de choque dos animais com a fiação, seja ela de alta tensão ou não.

Para especialistas ligados ao meio ambiente, o que resta é a certeza da diminuição dos indivíduos e das espécies, cada vez mais vítimas do avanço das áreas urbanas. “É complicado para as espécies porque eles vão se adaptando ao nosso ambiente, mas acabam sofrendo com isso e se dizimando”, completa a bióloga Neiva Guedes.

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