Produtor de natureza: MS é 1º do mundo a usar onça-pintada como ativo ambiental
Proprietários iniciam comercialização de crédito de carbono e crédito de biodiversidade no Pantanal
Mato Grosso do Sul é o primeiro lugar do mundo a usar a onça-pintada como um ativo ambiental. O projeto piloto pioneiro no Pantanal "Jaguar – créditos de biodiversidade" foi apresentado nesta sexta-feira (21) ao governador Eduardo Riedel (PSDB), no Receptivo do Prosa. O encontro marcou a celebração do Dia Internacional das Florestas , celebrado hoje.
RESUMO
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Mato Grosso do Sul é pioneiro ao usar a onça-pintada como ativo ambiental no projeto "Jaguar – créditos de biodiversidade", apresentado no Pantanal. O projeto, executado pelo Instituto Homem Pantaneiro, abrange 40.613 hectares e já emitiu 71.750 créditos de biodiversidade, valorizando a conservação das onças e beneficiando comunidades locais. Além disso, o projeto "Conservação Fazenda Cristal" promove créditos de carbono, convertendo pastos em florestas de bambu. Ambas as iniciativas destacam a importância da preservação ambiental e a integração entre produtores e ambientalistas, colocando o estado na vanguarda da sustentabilidade.
A iniciativa inédita é executada pelo IHP (Instituto Homem Pantaneiro), na Serra do Amolar, em Corumbá. Conforme a secretária-executiva do instituto, Yanna Fernanda Coelho Leite, esse método de pagamento por serviços ambientais diferenciados foi pensado na COP-15 (15ª Conferência das Partes da Convenção sobre Diversidade Biológica das Nações Unidas) e agora já está disponível para ser comercializado.
Em uma área de 40.613 hectares, o projeto abrange três RPPNs (Reservas Particulares do Patrimônio Natural), no coração do Pantanal. Com a metodologia de créditos desenvolvida pela ERA (Ecosystem Regeneration Associates) e a certificação da empresa norte-americana Regen Network, foi possível emitir 71.750 créditos de biodiversidade entre os anos de 2021 e 2023.
“Esse crédito de biodiversidade possui algumas diferenças em relação ao crédito de carbono. Ele usa toda a propriedade, com pesos diferenciados para cada área, e só pode ser usado uma única vez”, explicou Yanna. Até o momento, cerca de 700 créditos foram vendidos.
Na metodologia, é possível confirmar que as RPPNs Acurizal, Rumo ao Oeste e Engenheiro Eliezer Batista cumpriram papel fundamental para a conservação de mais de 150 indivíduos que circulam pelo território. Além do monitoramento de seis onças-pintadas, o IHP acumula registros anuais de armadilhas fotográficas que confirmam a presença do maior felino das Américas na área rastreada.

As onças-pintadas funcionam como um indicador ambiental da qualidade do bioma, por serem topo de cadeia. O IHP conseguiu confirmar, com a metodologia, que o trabalho de conservação dos proprietários das RPPNs se equipara ao trabalho de produtores de natureza.
Para garantir o futuro da casa das onças-pintadas no Pantanal e do próprio planeta, qualquer cidadão ou empresa preocupada com a agenda ESG (Ambiental, Social e Governança, em português) pode contribuir comprando um crédito de biodiversidade.
O valor é fixo, mas varia conforme o ano do crédito emitido, podendo ser US$ 21 para a unidade de 2021, US$ 23 para 2022 e US$ 27 para 2023. Ou seja, na cotação de hoje (R$ 5,73), uma unidade é comercializada por R$ 120,33 a R$ 154,71.
“Essa é uma forma de valorizar o trabalho de conservação. Além disso, todos os créditos de biodiversidade estão atrelados ao impacto social. A área de execução do projeto abriga 57 famílias de quatro comunidades ribeirinhas que também são beneficiadas com o projeto”, acrescentou a secretária-executiva.
“Esta iniciativa coloca Mato Grosso do Sul na vanguarda, por valorizar e reconhecer que, além da vocação agropecuária, também é um estado de produção da natureza. O projeto valoriza a onça-pintada, que gerará crédito, trazendo o mercado para valorizar aqueles que protegem a espécie”, afirmou o diretor-presidente do IHP, Ângelo Rabelo.
Fazenda Cristal – Outra iniciativa apresentada ao governador foi o projeto "Conservação Fazenda Cristal", que promove a conservação de formações primárias e secundárias manejadas de áreas nativas preservadas, para garantir a restauração completa da vegetação, com o propósito de aumentar o potencial de armazenamento de carbono em sua área e, assim, reduzir os efeitos do aquecimento global, juntamente com o desenvolvimento social.
A propriedade existe desde 1972 e está localizada em Corumbá, na região pantaneira do Paiaguás. Desde 2020, após os eventos de incêndios que passaram a atingir a região de forma mais intensa, houve a preocupação com a proteção dos recursos naturais da propriedade.

Em fevereiro deste ano, o proprietário conseguiu a certificação de 1.800 créditos de carbono por ano pela Social Carbon Standard (Reino Unido), após uma rigorosa auditoria da KBS Certification Services Ltd. (Índia). O projeto Fazenda Cristal consiste em uma atividade de florestamento – conversão de área de pasto para uma formação nativa de bambu, planta com forte potencial de remoção de CO₂ da atmosfera.
Para Milton Insuela Jr., sócio-diretor da Vert Ecotech (Fazenda Cristal), o crédito de carbono que foi emitido com sua reserva legal e área de proteção permanente será fundamental para manter a preservação do bioma. “É muito bom poder transformar um passivo ambiental em ativo econômico. Já estamos sendo procurados por companhias aéreas e grandes empresas que têm compromisso com a sustentabilidade.”
A área de 3,9 mil hectares poderá receber de US$ 20 a US$ 40 por tonelada de CO₂ compensada. “Também temos um posto avançado do Corpo de Bombeiros na fazenda, tecnologia de satélites para alertar possíveis incêndios e fazemos a conversão de 10% dos valores para cunho social, em benefício das ONGs da região da fazenda. O projeto é de 30 anos, podendo ser renovado por 100 anos”, celebrou o produtor de natureza.
Confira a galeria de imagens:
Gratidão – O governador destacou a relevância do assunto e a iniciativa das instituições. “A mensagem central aqui é gratidão por todas as instituições estarem caminhando em direção onde conseguem monetizar algo intangível, que é a natureza”, ressaltou Riedel.
Ele afirmou que sempre teve a angústia do antagonismo entre produtores rurais e ambientalistas. “Jamais um pode estar contra o outro. Todos precisam andar juntos.” O governador acrescentou que, com o que foi apresentado, o produtor irá pensar 10 vezes no porquê estará mantendo a preservação do território.
“É uma grande contribuição, de produção da natureza, que abrange carbono, biodiversidade e água. E posiciona Mato Grosso do Sul na agenda global de produção de alimentos e transição energética. É a materialização do conceito e da linha de trabalho”, concluiu.

O secretário Jaime Verruck, da Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Ciência e Tecnologia (Semadesc), destacou a ação do IHP, que é uma das primeiras do mundo a estabelecer um sistema de créditos ligados à biodiversidade.
“Esse é praticamente um dos primeiros créditos no mundo de biodiversidade. No caso, especificamente sobre a onça, que é chamado projeto Jaguar, onde é avaliado o habitat natural desse animal, fazendo a certificação de que existe um ambiente adequado para esse animal viver. Então, esse é o crédito que você consegue certificar que aquele ambiente é adequado para aquela espécie.”
Além disso, o secretário ressaltou a importância de discutir e fortalecer os créditos de biodiversidade como ferramenta essencial para a preservação das espécies. "Para preservar e discutir a questão de crédito de biodiversidade, é fundamental e uma questão importante para que a gente mantenha toda a preservação. Está muito ligado à filosofia que foi estabelecida na estratégia do Estado e que está representada na Lei do Pantanal", afirmou.
Pacto Pantanal – Vale acrescentar que o governo do Estado irá assinar o Pacto Pantanal no próximo dia 27. O documento será assinado por Riedel, juntamente com produtores e ambientalistas. A solenidade está programada para acontecer a partir das 8h30, no Bioparque Pantanal.
O documento segue sob sigilo. O que foi antecipado até o momento é que o Pacto Pantanal prevê a melhoria da qualidade de vida das comunidades locais e a garantia da preservação do bioma.
De acordo com o governo, trata-se de um grande programa integrado de desenvolvimento sustentável, voltado para fomentar boas práticas de preservação do ecossistema pantaneiro. A iniciativa reforça o compromisso com a sustentabilidade e o equilíbrio entre o desenvolvimento econômico e a conservação ambiental.
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