Projeto libera captação de água em rios de Bonito para consumo e vira polêmica
Rios Formoso, Formosinho, Miranda e Anhumas ficaram ameaçados, reclamam opositores da iniciativa
Cidade turística a 296 km de Campo Grande, Bonito discute atualmente polêmico projeto proposto pelo vereador Irson Casanova, o Casanova do Chapéu (DEM), e que prevê a captação de água de quatro importantes rios do município para o consumo da população. O problema, alegam os opositores, é a falta de critérios.
Criticado por causa de possíveis impactos ambientais que podem até ser irreversíveis, segundo apontam moradores, ambientalistas e demais pessoas interessadas diretamente na preservação do ambiente em Bonito, o projeto está em fase inicial.
"Fica liberada e permitida a captação de água dos rios Anhumas, Formoso, Formosinho e Miranda", consta no primeiro artigo do projeto, que determina ainda ser de responsabilidade da empresa concessionária de saneamento - no caso a Sanesul - a execução do projeto e distribuição para a população".
O problema, reclama parte da própria população, é que a tida falta de critério do projeto para essa captação permite inclusive a criação de açudes e outros itens na região rural, usando as águas desses rios e atrapalhando a preservação dos mesmos.
"Não acredito que vá passar. Eu continuo ligado a empresa do setor de turismo em Bonito e particularmente sou contra. Creio que os demais vereadores também. Dependemos desses rios. É 99,9% que vai ser derrubado", explica o vereador André Luiz Xavier (PSB), que é líder do prefeito na Câmara Municipal.
Ainda segundo explica André, é necessário ao menos laudos do Imasul (Instituto de Meio Ambiente de Mato Grosso do Sul) para que o projeta possa caminhar. "Mas não tem laudo, não chegou nada disso aqui para a gente", frisa.
Água que vai ao mar - Já o autor da proposta, Casanova, fala que foi mal interpretado pelos opositores da ideia, dizendo que a intenção é apenas solucionar o problema de desabastecimento de água que há anos atinge Bonito.
"Na verdade isso [o projeto] não prejudica em nada e são apenas meia dúzia jogando pedras. A população de Bonito já sofreu muito sem água, várias vezes. Retirar essa água do rio não muda nada. Se não tira agora vai tudo para o mar", argumenta.
Casanova ainda diz que real efeito no meio ambiente bonitense tem a captação de água do lençol freático, com poços artesianos e similares. "Sou vereador no terceiro mandato já, tenho um histórico. E outra, antes de executar são feitos os projetos de impacto ambiental. Não há risco", garante.
Sobre a hipótese mais provável de recusa do projeto na Câmara de Bonito, o vereador frisa que gosta de desafios, e acredita estar fazendo a parte dele agora para solucionar o desabastecimento. "Se os outros acharem o contrário, não posso fazer nada. Cada um é responsável pelos erros que cometer agora", conclui.
Decreto - O prefeito de Bonito, Josmail Rodrigues (PSB), revogou em abril decreto municipal que declara área de interesse social as margens do rio Formoso, da nascente até a foz no rio Miranda, e provocou reação imediata de conselho e ambientalistas sobre o impacto ambiental ao deixar o rio desprotegido.
O decreto 38, de 7 de março de 2018, proibia a "retirada de água em escala mecânica ou por gravidade, bem como desvio para qualquer fim de utilização, inclusive para abastecimento urbano, bem como a formação de lagos artificiais".
Logo em seguida, houve reação de grupos de conservação, entre eles o Unidos pela Serra da Bodoquena. "A revogação permitirá uma degradação de um dos principais rios cênicos da Serra da Bodoquena. Inclusive, a facilitação da captação de água para fins de abastecimento de água para a população bonitense", diz trecho.
Além da sociedade civil, o Conselho Estadual de Recursos Hídricos aprovou moção encaminhada ao prefeito apontando preocupação e solicitando revisão na decisão tomada "levando em conta que os recursos hídricos são os principais elementos de potencialidade e atração turística do município".