ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no X Campo Grande News no Instagram
DEZEMBRO, TERÇA  24    CAMPO GRANDE 26º

Meio Ambiente

Seca e fogo que já consumiram 26% do Pantanal podem derrubar qualidade da água

Maior preocupação é com baías e lagos, onde quase não há correnteza

Lucia Morel | 06/10/2020 17:53
ueQuando as chuvas chegarem, cinzas das queimadas serão levadas aos leitos d'água, reduzindo sua qualidade já comprometida com a seca. (Foto: Corpo de Bombeiros)
Quando as chuvas chegarem, cinzas das queimadas serão levadas aos leitos d'água, reduzindo sua qualidade já comprometida com a seca. (Foto: Corpo de Bombeiros)

A seca histórica que atinge o Pantanal, causando queimadas que já alcançam extensão de quase 4 milhões de hectares e 26% do bioma, pode afetar também os recursos hídricos e não apenas baixando o nível dos rios, mas reduzindo a qualidade da água, que pode levar a mortandade de peixes.

Pesquisadora da Embrapa Pantanal (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), Márcia Divina de Oliveira, especialista no assunto, diz que ainda não é possível saber se a mortandade de peixes será alta ou mesmo se irá ocorrer, já que o fenômeno atual é inédito. “Estamos esperando para ver o que vai de fato acontecer”.

Ela afirma que caso ocorra será nos ambientes mais fechados, como baías e lagos, onde quase não há correnteza.

“Com o baixo volume de água dos rios e baías, nesse momento de seca, a tendência é a concentração de nutrientes como nitrogênio e fósforo nos corpos d’água devido a evaporação da água. A água tem a função de diluição. Na planície temos observado que a qualidade da água é naturalmente deteriorada no período da seca.”

Ela avalia que “os peixes também podem morrer, mas de forma isolada e em menores quantidades. Os rios maiores continuarão com oxigênio e têm boa corrente de água. É mais possível da morte ocorrer em ambientes fechados, com pouca água”, reforça.

Com a chuva, as cinzas das queimadas devem atingir os corpos d’água, outro agravante na qualidade, com possível “floração de algas em alguns ambientes, principalmente nos ambientes mais fechados, e em áreas intensamente queimadas”. Isso também vai afetar a população ribeirinha que usa dessa água. “O menor volume de água concentra mais algas, bactérias e patógenos, que podem ser prejudiciais a saúde.”

Decoada? - Ela chama atenção para um analise errada em relação a outro fenômeno. “As pessoas estão confundindo com decoada, que é outra coisa, mas decoada só acontece em período de enchentes no Pantanal, principalmente entre fevereiro e abril”.

Estudo assinado por Márcia explica que a decoada ocorre “à medida que a água extravasa dos rios e entra em contato com a planície inundável, submergindo solo e vegetação na fase inicial da enchente, e começam a ocorrer processos de decomposição da matéria orgânica submersa, em especial gramíneas facilmente degradáveis sob as altas temperaturas do verão, levando à formação de ambientes com baixo oxigênio dissolvido ou totalmente anóxicos, com níveis elevados de dióxido de carbono dissolvido e metano.”

Ela enfatiza que a decoada só ocorre com o Rio Paraguai acima de três metros do seu nível e diante das chamadas “ilhas flutuantes”, que são o deslocamento de vegetação diante das cheias.

Nos siga no Google Notícias