Verão coincide com época de reprodução e atropelamentos de animais dobram
Espécies deixam para ter filhotes quando temperatura é alta e há abundância de alimentos
Com mais animais nas ruas devido à temporada de reprodução, o verão exige cuidado redobrado dos motoristas em Mato Grosso do Sul. De acordo com o veterinário Lucas Cazati, do Centro de Reabilitação de Animais Silvestres (Cras), a quantidade de atropelamentos de bichos neste período aumenta entre 50% e 60%.
Em parte, isso se deve ao aumento da população de animais como os quatis, que tiveram filhotes há poucos dias e circulam com frequência na região do Parque dos Poderes, em Campo Grande. “São espécies que deixam para ter filhotes no verão, quando a temperatura é alta e tem abundância de alimento”, explica Cazati.
Em um passeio pelos parques da Capital é possível ver dezenas de animais recém-nascidos atravessando despreocupadamente ruas e avenidas acompanhados dos pais.
Excesso de velocidade e imprudência colaboram para o aumento de acidentes, provocando traumas e até morte de animais. Ontem, leitores do Campo Grande News encaminharam imagens de tartarugas atropeladas no cruzamento da Rua 14 de Julho com Avenida Rachid Neder.
Cazati também alerta que alimentar os animais silvestres favorece os atropelamentos porque os bichos criam o hábito de atravessar as vias para receber a comida.
O médico veterinário é um dos responsáveis por salvar a vida de centenas de animais silvestres, vítimas de atropelamento e da captura de traficantes. No CRAS, da Capital, são feitos praticamente todos os procedimentos para salvar os bichos, inclusive cirurgias.
Triste fim - Grande parte dos acidentes envolvendo animais acontece nas rodovias. Na noite do último dia 7, mãe e filho da espécie macaco-prego foram vítimas.
A mãe teve politraumatismo e foi levada para o Cras pela PMA (Polícia Militar Ambiental), abraçada ao filhote, que já estava morto. Ela passou por uma cirurgia, mas não sobreviveu.
Recuperação - Outras histórias tiveram finais bem mais felizes. É o caso de uma jiboia, que está em recuperação no Cras e é levada periodicamente à UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) para passar por sessões de acupuntura.
Tem também o lobinho que sofreu uma fratura exposta em uma das patas, passou por uma cirurgia, conseguiu se recuperar e já está de volta à natureza.
O que fazer? - Mas o que fazer em caso de atropelamento de algum animal silvestre? O veterinário explica que não se deve mexer no bicho. “Não se deve pôr a mão no animal. Tem que parar o carro e acionar a PMA. Eles vão buscar fazer a captura adequada e trazer para o CRAS”.
Ele lembra o ataque a uma mulher ao tentar resgatar filhote atropelado no Parque dos Poderes. É que a mãe quati tentou proteger o bichinho.
Centro de Reabilitação - Hoje, o Cras tem mais de 200 animais, incluindo araras, maritacas, periquitos, tamanduás, logo-guará, raposa, macacos-pregos, onças pardas, cobras, antas e jaguatirica, entre muitos outros.
Além dos atropelados, o Cras recebe os bichos entregues voluntariamente pela população e os apreendidos em operações de combate ao tráfico.
É o 2º Centro de Reabilitação de Animais Silvestres mais antigo do país, com 33 anos. Em média, os animais consomem mais de 300 quilos de carne e 500 quilos de frutas, verduras e hortaliças.