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Política

Artuzi diz que quer voltar a ser candidato

Paulo Fernandes | 10/02/2011 14:10

Em Campo Grande, ex-prefeito caminha como um cidadão anônimo.

Prioridade de Artuzi é provar a inocência(foto: Adriano Hany/Campo Grande News)
Prioridade de Artuzi é provar a inocência(foto: Adriano Hany/Campo Grande News)

Ainda usando as roupas simples que o acompanharam mesmo na época em que foi prefeito da segunda maior cidade de Mato Grosso do Sul, Ari Artuzi concedeu entrevista nesta quinta-feira ao Campo Grande News em uma calçada, na rua 13 de Maio, em frente a uma loja, próximo ao cemitério Santo Antônio, na Capital.

Ele disse que ainda sonha em voltar para a política e concorrer a cargos públicos, mas que primeiro quer provar a inocência nos processos a que responde por fraude em licitações e pagamentos de propinas a vereadores.

Apontado como protagonista do esquema milionário, Ari Artuzi anda pelas ruas de Campo Grande como um anônimo. Quando a reportagem chega ao local marcado, o ex-prefeito já aguarda na calçada, sozinho, andando de um lado para o outro. É um cidadão comum, ansioso para dar mais uma entrevista. E desta vez, não se importa de ser gravado.

Ele veio a Capital para falar com o advogado Carlos Marques. Quem leva o ex-prefeito ao escritório é um amigo, que dirige um carro popular. “Nem carro eu tenho”, lamenta.

Todos os bens de Artuzi estão apreendidos e as contas foram bloqueadas. Para o ex-prefeito, as apreensões foram injustas, pois o patrimônio, segundo ele, foi adquirido antes de ele ser eleito prefeito.

Além de propriedade rural, Ari Artuzi contou que chegou a ter três carros Uno e uma Van, mas que vendeu os veículos. “Os veículos eu comprei quando era deputado, com desconto em folha”, diz. “Todas as coisas que foram apreendidas são coisas que eu tinha de antes [de ser prefeito]”. Artuzi diz ainda que deve hoje R$ 140 mil para uma instituição bancária.

O ex-prefeito Ari Artuzi mostra as mãos calejadas e a marca de uma suposta mordida de um porco, consequência, diz ele, de sua nova vida.

Trabalho na lavoura: Ari Artuzi mostra ferimento que teria sido provocado pela mordida de um porco (foto: Adriano Hany/Campo Grande News)
Trabalho na lavoura: Ari Artuzi mostra ferimento que teria sido provocado pela mordida de um porco (foto: Adriano Hany/Campo Grande News)

“Eu trabalho na lavoura, eu trabalho em qualquer coisa. Eu vendo queijo, tiro leite, trabalho de tratorista, trabalho com o que tiver que trabalhar. Corto pasto com trator. Não tenho preguiça, não sou vagabundo, sou trabalhador. Nunca roubei nada de ninguém. Nunca peguei nada de ninguém. Até aqueles R$ 10 mil que estão me acusando é de um terreno que eu tinha vendido”, afirmou.

Artuzi se refere à gravação feita durante a Operação Uragano, da Polícia Federal, feita pelo então secretario de governo, Eleandro Passaia, que atuou como agente infiltrado. No vídeo, o então prefeito, acomodado em uma cadeira, dessas de varanda, usando calça comprida e chinelo de dedo, recebe várias cédulas de dinheiro.

Ari Artuzi diz que tem muitos amigos que o ajudam, que levam arroz e carne para o sítio em que ele mora. A comida é acompanhada de limonada. E os limões são espremidos pelo próprio ex-prefeito. Ele tem mulher e duas filhas.

Ele faz questão de lembrar da origem humilde; afirma que perdeu o pai quando tinha 14 anos e que veio do Rio Grande do Sul com “uma malinha de viagem”. “Sempre trabalhei. Não sou malandro”, diz. E repete, como um mantra: “não sou malandro, não sou malandro”.

Futuro – O ex-prefeito aposta em um recomeço e sabe que para isso tem pela frente a difícil missão de provar que é inocente das acusações de corrupção na Prefeitura.

“Vou provar que sou inocente e que as gravações do Passaia são falsas. É tudo sem-vergonhice. Primeiro provo. No futuro, posso ser candidato”, diz.

Sobre qual cargo político ele gostaria de disputar, ele responde com duas palavras: “qualquer um”. Artuzi não teve os direitos políticos cassados.

O ex-prefeito afirmou também que acredita continuar filiado ao PDT. “Acho que estou filiado ao partido. O Dagoberto [Nogueira, ex-deputado] e o Zeca [do PT, ex-governador] foram se aparecer e falaram merda sem saber”, disse.

Artuzi prevê também que haverá uma grande reaproximação política em torno dele. “Algumas pessoas se afastaram, mas elas vão voltar. Antes do que vocês esperam”, disse.

Artuzi veio a Campo Grande para falar com o advogado Carlos Marques(foto: Adriano Hany/Campo Grande News)
Artuzi veio a Campo Grande para falar com o advogado Carlos Marques(foto: Adriano Hany/Campo Grande News)

Presente- Durante os 20 minutos em que conversou com a reportagem, Artuzi disse que Dourados está abandonada e contou sobre a expectativa que ele tem para o mandato do prefeito eleito Murilo Zauith (DEM).

“Com dois meses que era prefeito, estava recapeando as ruas. Eles ficaram cinco, seis meses e não tamparam buraco”, afirma

Ele diz ainda que assinou contrato para 5.000 casas com a Caixa Econômica Federal, mas que depois de ele ter sido preso nenhum outro contrato foi assinado.

Artuzi também diz que Dourados perdeu investimentos federais. “A minha cidade perdeu muito com isso, com tudo o que aconteceu. Ela perdeu o projeto do Córrego Barragem, R$ 84 milhões, eles não deram conta de fazer o projeto técnico. O projeto base quem tinha feito era eu. Saiu o dinheiro pelo projeto que nós tínhamos em Brasília. Nós tínhamos quatro projetos: o Barragem, o Laranja Doce, um projeto lá no Jóquei e a abertura da Weimar Torres e arranjamento até o final de R$ 33 milhões. Eu tinha 4 projetos já pré-selecionadas. Um chegou a sair e os outros não deram conta”, disse.

Na área de Saúde, segundo Artuzi, no PAM (Pronto Atendimento Médico) havia oito médicos quando ele era prefeito. “Hoje, tem um ou dois”, diz. Ele diz ainda ter equipados os hospitais.

No último domingo (6), Artuzi foi um dos 70.906 eleitores que votaram em Murilo Zauith. O ex-prefeito acredita que o democrata concluirá todas as casas contratadas com a Caixa e dará andamento a projetos em Brasília.

“As famílias que vão ganhar as casas são minhas amigas. As pessoas mais humildes são minhas amigas”, afirma.

Passado – Artuzi foi preso no dia 1º de setembro de 2010 com o vice-prefeito Carlinhos Cantor, o presidente da Câmara Municipal de Dourados Sidilei Alves e mais oito dos 12 vereadores, e com quatro secretários municipais, o procurador do município, a primeira-dama, empreiteiros, prestadores de serviço e servidores públicos.

Com a linha sucessória em frangalhos, o juiz Eduardo Machado Rocha assumiu como prefeito interino.

Em dezembro, a Justiça determinou o bloqueio de R$ 34 milhões em bens do ex-prefeito e de outros 45 réus em ação por improbidade administrativa.

O prefeito permaneceu preso até o final do ano passado, quando renunciou ao cargo. Ele diz que tomou a decisão para que a população pudesse escolher um novo prefeito.

Provas ilegais - O ex-prefeito de Dourados defende a tese de que as provas contra ele são ilegais. Ele diz que apenas um policial poderia fazer as gravações e que elas não poderiam ser feitas em qualquer lugar.

“Tem que ser policial para gravar. Segundo: quando o juiz manda gravar alguém (...) tem que ter local. Terceiro: o crime maior quem cometeu foi o Passaia. Se ele deu dinheiro para alguém, onde ele arrumou, quem deu dinheiro para ele?”. Ari Artuzi diz ainda que os vídeos sofreram montagem.

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