Bernal reage a moção de repúdio e acusa "golpe" para tirá-lo do cargo
Prefeito aconselha vereadores a se ocuparem com "assuntos mais sérios" e sugere criação de "CPI da saúde"
O prefeito Alcides Bernal (PP) disse, hoje, que um determinado grupo de vereadores está agindo para desestabilizar seu governo atendendo a interesses pessoais e criando, ao mesmo tempo, um clima para executar "golpe político" para afastá-lo do cargo, para o qual foi eleito em outubro passado.
A reação de Bernal foi em resposta a moção de repúdio votada ontem contra ele, algo inédito em 110 anos de historia no Legislativo municipal. “A Câmara Municipal poderia ser mais útil criando, por exemplo, uma CPI para investigar o setor de saúde no município do que mover uma moção de repúdio contra o prefeito”, disse o chefe do Executivo, na manhã desta quarta-feira, logo após assinatura de um acordo com o Ministério da Cultura.
O prefeito, que tem em sua base aliada na Câmara apenas sete dos 29 vereadores, disse que está em andamento uma ação “engendrada para humilhá-lo”. “Não posso participar de uma ação engendrada para humilhar o prefeito, não posso participar de ações para criar a ditadura da maioria, não podemos conceber que eles comecem a urdir um golpe político”, declarou.
Para ele, do jeito que as coisas estão sendo conduzidas na Câmara, o interesse público está sendo deixado de lado. “Acho que a câmara poderia ser mais útil para dar voz e vez à população, a dar voz e vez para coisas que não são do interesse público. É importante fazer com que nossa Câmara Municipal esteja a serviço do interesse público, não ser instrumentalizada para nos tentar denegrir, nos ofender, e até, de repente, pensando em executar um golpe político”, enfatizou.
Repúdio - Ontem, por 17 votos a favor, oito contrários e duas abstenções, os vereadores aprovaram moção de repúdio em represália a postura do prefeito, classificado como “deseducado e agressivo” com os parlamentares. Como dos dois secretários convocados (Wanderley Bem Hur e Gustavo Freire), apenas um (Ben Hur) compareceu ontem à tarde para participar de uma audiência na Câmara, os vereadores decidiram convocar Bernal para ir até o Legislativo.
“Eu sigo trabalhando. Enquanto alguns me repudiam, sigo trabalhando. Tenho dois meses e meio de administração e os vereadores fazem algo inédito”, disse, se referendo a moção de repúdio. Bernal sugeriu que os vereadores se ocupem com problemas mais sérios, como o que envolve a saúde, como as investigações da Polícia Federal em torno de supostas irregularidades detectadas no Hospital do Câncer.
Sobre a convocação, o prefeito disse que não terá nenhum problema em comparecer à Câmara. “Assim como vou a todos os lugares, assim como estou nos bairros e vilas todos os dias, estou no meu gabinete, vou a qualquer lugar, não tenho dificuldade nenhuma”, assegurou.
CPI - Bernal sugeriu que os vereadores investiguem, por meio de uma CPI, a situação das ambulâncias que foram encontradas em oficinas, abandonadas, “em cima de toco”, e também se investigue porque os valores gastos no conserto de veículos foi tão alto, já que, com o dinheiro aplicado, veículos novos poderiam ser comprados.
“Eu acho que a Câmara poderia instalar a CPI da Saúde, inclusive com um procedimento investigatório para saber como está a situação das ambulâncias, para ver como é que funciona o sistema de informática, eu acho que tem que começar a verificar o que aconteceu nos últimos anos da administração passada”, disse, se referindo aos anos de gestão do ex-prefeito Nelsinho Trad (PMDB).
Nem a polêmica em torno do despejo da Câmara escapou: ”Acho que tem muita coisa que os vereadores poderiam se preocupar, inclusive porque não pagaram sete anos de aluguel”, criticou. “Nós temos bons vereadores, mas tem um grupo que não está pensando em verear, está pensando só em prejudicar o prefeito, enquanto eles criam esse problema, tentar criar factóide para desviar a atenção, agora é hora de fazer uma investigação com relação ao problema do Hospital do Câncer. A Câmara deveria estar preocupado com estes assuntos, não em moção de repúdio a um prefeito que está há dois meses e meio administrando. Eles querem que eu resolva a todos os problemas que eles , há mais de 20 anos estando lá, não resolveram”, rebateu.
Relacionamento - Apesar do confronto, Bernal diz que está fazendo sua parte para melhorar o relacionamento com o Legislativo e cumprindo com as obrigações constitucionais. “Hoje, por exemplo, estou repassando mais de R$ 4 milhões para a Câmara custear as despesas dos 29 vereadores”, anunciou.
Ele lembrou que na abertura dos trabalhos da Câmara, deixou claro em seu discurso que pretender estabelecer um relacionamento respeitoso com os vereadores. “Eu tenho demonstrado através de minhas atitudes interesse no diálogo”, afirmou.
Para exemplificar sua atitude, que seria de conciliação, Bernal disse que desde que assumiu o Executivo já recebeu vereadores em seu gabinete, recebeu na última sexta-feira a Mesa Diretora “para fazer um diálogo”, e também já esteve na Câmara conversando com os vereadores.
“O que não dá é eles [vereadores] quererem impor uma vontade que não é do interesse público. Essa história de que ele tem que se ajoelhar aqui na Câmara Municipal, que ele tem que vir pedir a benção para a Câmara. Isso é uma motivação que não atende nosso objetivo, nossa razão de existir, é prova de que eles estão querendo desrespeitar a vontade popular”, dissse Bernal.
Finalizando, o prefeito disse que o município tem que estar “atento”, para que a Câmara não seja transformada em ferramenta para prejudicar o Executivo. “Estou vendo que estão usando a Câmara para atender interesses pessoais. Isso é inconcebível. Campo Grande tem que ficar atento para que um ou outro não transforme a Câmara em ferramenta para tentar nós prejudicar, prejudicar nossa administração, prejudicar a população do nosso município”.