Jerson não vê "vontade política" em Brasília para resolver conflitos em MS
O presidente da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, deputado Jerson Domingos (PMDB), não saiu otimista da reunião com a ministra-chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffman, embora ela tenha solicitado documentos do governo do Estado que apontem quais áreas serão alvo de disputa entre índios e fazendeiros. “Vamos fazer chegar esses documentos em 48 horas, mas a vontade política que vi hoje aqui em Brasília não me convence de que haja vontade de dar uma solução para esses conflitos em Mato Grosso do Sul e no Brasil inteiro”, avaliou.
Nesta terça-feira, a Assembleia suspendeu a sessão para que os deputados participassem da reunião em Brasília com a ministra Gleisi. Participaram do encontro, segundo Jerson, 20 dos 24 deputados estaduais, além dos 11 deputados federais e senadores do Estado, da vice-governadora Simone Tebet e das lideranças dos produtores rurais.
A insatisfação também ficou evidente nas palavras dos líderes dos produtores rurais de Mato Grosso do Sul. O presidente da Frente Nacional Agropecuária, Francisco Maia, afirmou que os produtores saíram da reunião de hoje sem respostas do governo. “Chegamos com um problema grave e estamos saindo com o mesmo”.
Defensor da suspensão dos processos de demarcação de terras indígenas, Francisco Maia disse ainda que os produtores rurais estão dispostos “a parar o país” para cobrar uma decisão do governo federal em relação aos conflitos fundiários no Mato Grosso do Sul.
Na reunião, Gleisi Hoffmann comprometeu-se apenas a pedir a adiar a demarcação de terras indígenas no estado até que os processos sejam submetidos a pareceres da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e dos ministérios da Agricultura e do Meio Ambiente e Desenvolvimento Agrário. A interrupção da criação de novas reservas indígenas está suspensa no Paraná e no Rio Grande do Sul por determinação do governo federal. No entanto, para Mato Grosso do Sul, estado com histórico de conflitos entre indígenas e produtores rurais, a suspensão dos processos não está autorizada.
“Nosso problema é imediato. Os produtores estão em uma situação de desespero e talvez vão ter que tomar uma posição mais contundente, mais de força, e fazer o que os trabalhadores fazem quando querem reivindicar: parar o país. Se o governo não agir imediatamente, o campo irá dar uma resposta”, ameaçou Maia. “A gente sabe que governo não age, governo reage”, acrescentou.
Representando o governador André Puccinelli na reunião com a ministra Gleisi, a vice-governadora Simone Tebet é a favor da suspensão imediata das demarcações. Para ela, o julgamento dos embargos relativos à decisão da Raposa Serra do Sol já resolveria os conflitos na maioria dos Estados.
Simone explicou que a portaria da Funai (Fundação Nacional do Índio) delimitou 26 municípios em Mato Grosso do Sul como alvos de estudo antropológico para a demarcação de terras, abrangendo a região mais fértil do Estado. Considera que isso criou um cenário de instabilidade jurídica e econômica. “O Estado depende na economia da agropecuária”, argumentou ela.