Promotora fala em abandono de alunos e aumenta polêmica sobre aulas na pandemia
Representante do Ministério Público compara volta às aulas presenciais na rede pública com rede privada
Previsto para o dia 19 de julho, o retorno das aulas presenciais nas escolas da rede municipal de ensino ainda é motivo de debate entre representantes públicos e servidores. Ao falar em abandono da educação durante a pandemia, em audiência pública realizada na manhã desta segunda-feira (24), na Câmara de Vereadores, a promotora de Justiça Vera Aparecida Cardoso Bogalho gerou polêmica, especialmente, entre os servidores que trabalham de forma remota desde o ano passado.
Coordenadora Adjunta do Geduc (Grupo de Atuação Especial de Educação), a representante do Ministério Público, utilizou o retorno das aulas presenciais na rede particular de ensino, com adoção de protocolos de biossegurança, desde agosto do ano passado, para defender a volta às aulas na rede municipal.
“Não há motivo para impedir a reabertura das escolas de forma gradual e responsável. É o único setor que está abandonado nesta pandemia é a educação. Restaurantes estão abertos, bares estão abertos, shopping estão abertos e nossas crianças estão dentro de casas segregados, aprisionados e com uma responsabilidade imensa aos pais”, defendeu.
Segundo ela, o Ministério Público é a favor do retorno no dia 19 de julho, independente da situação de pandemia. “Todos os professores da rede municipal estão com a primeira vacinação. O risco é para todos”. Na última semana, a SES (Secretaria de Estado de Educação) anunciou que Mato Grosso do Sul vive a terceira onda de contaminações na covid-19.
A fala da promotora foi rebatida pelo presidente da ACP (Sindicato Campo-grandense dos Profissionais da Educação), Lucílio Nobre. “A educação não está abandonada. Não está! [Falar isto] é jogar no lixo todo o trabalho do professor. É uma falta de consideração enorme”.
Ele lembrou que a categoria está se desdobrando para atender os alunos de forma remota, utilizando inclusive estrutura própria e atendendo além da carga horária prevista. Muitos profissionais estão com problemas psicológicos em razão de trabalhar nas atuais condições.
O presidente do sindicato ainda afirmou ser injusto comparar o retorno das aulas presenciais nas particulares com a rede pública, que atende muitos mais alunos e possui estrutura física muito mais limitada.
São 40 alunos atendidos de uma vez pelo professor”, relembrou Lucílio.
Segundo ele, com a volta as aulas, são 250 mil pessoas que perdem a oportunidade de fazer o isolamento, considerando alunos e servidores.
A defensora pública Débora Maria de Souza Paulino lembrou que alunos e pais não participaram da audiência para opinar. Enquete realizada no final do ano passado, relacionada ao retorno das aulas presenciais na rede municipal, mostrou que mais de 90% dos pais não concordavam com a medida. “Queremos sim o retorno das aulas presenciais, mas com segurança e responsabilidade, afirmou.
Será revista se preciso – A secretaria municipal de Educação, Elza Maria Fernandes, confirmou o esforço dos professores para manter as aulas durante a pandemia, além do empenho dos pais e responsáveis para auxiliar as crianças em casa.
A representante lembrou que a secretaria já implanta as medidas previstas em protocolo de biossegurança para o retorno das ulas em formato híbrido. Segundo ela, o retorno será escalonado e irá respeitar 50% da capacidade das unidades escolares e 25% nas unidades de educação infantil.
Praticamente todos os profissionais da educação pública municipal, cerca de 12 mil servidores, foram vacinados com a primeira dose. “O secretário de Saúde já garantiu que poderá fazer a antecipação da segunda dose para eles estarem completamente imunizados no retorno”, afirmou.
Apesar do planejamento, a secretária ressaltou que a data será revista caso haja aumento de casos e piora da situação da pandemia na Capital.