Acidente da filha deixa vida pessoal de superintendente aberta como livro
De fonte para personagem. De homem público para um pai desesperado. No dia 21 de abril de 2009, o então, superintendente da PRF (Polícia Rodoviária Federal), Valter Favaro, passou para o outro lado da história da notícia no Campo Grande News.
As entrevistas como profissional deram espaço, voz e vez à luta pela vida da filha. Daquela terça-feira de manhã em diante, ele passou a ter a vida pessoal narrada diariamente pelo jornalismo online. As reportagens mostravam a ele o que estar do outro lado envolve. Dos 15 anos de Campo Grande News, os últimos cinco, trouxeram inúmeras notícias do acidente e da investigação policial.
“O Campo Grande News e é até engraçado, eu acompanho até hoje quando eu quero lembrar um momento. Por exemplo, quantos dias ela ficou no hospital? Eu abro o Campo Grande News e uso como referência”, conta.
As entrevistas que até então eram de cunho profissional, sobre as ações da Polícia Rodoviária Federal, passaram a ser sobre o estado de saúde de Rayssa Favaro, à época do acidente, com 19 anos. “Todos os dias, atendia umas 10, 15 ligações”, recorda o pai.
Por meio do jornalismo era que ele e a família ficavam sabendo dos passos da investigação. Apesar de ter um cargo público federal, Valter Favaro afirma que se manteve isento. “Fiquei sabendo que foi marcada a perícia, pela imprensa, aquela reconstituição, quatro anos depois”.
Ver a vida pessoal virar notícia não foi encarado por ele com constrangimento. “A exposição não, isso não me incomodou. Mas o fato de você ter que precisar provar a cada dia, a cada raiar e por do sol, você ter que provar o óbvio, isso cansa, desanima”, desabafa.
Rayssa dirigia um Fiat Uno pela rua Bahia, quando no cruzamento com a avenida Mato Grosso, colidiu com um Honda Civic, dirigido por Marcelo Olendzki Broch. A batida jogou os carros a 36 metros do ponto de impacto.
Rayssa ficou gravemente ferida. Foram 69 dias de coma. A jovem sofreu o que a medicina chama de lesão axonal difusa no tronco cerebral-hipotalamo. Como a lesão sofrida não é muscular e, sim, cerebral, a rotina de tratamento consiste em treinos para melhorar o equilíbrio.
Na época do acidente, Valter Favaro já estava há quatro na Superintendência. Permaneceu como chefe da PRF até 2011, quando foi nomeado para integrar a Secretaria Nacional de Segurança, em Brasília. Retornou um ano depois, para a corregedoria da PRF e aposentou em 2013.
“Quando vi a cena do acidente, foi difícil. Vi o cabelo dela na porta do carro. Achei que ia ser difícil salvar a minha filha. O sentimento é de impotência, uma tristeza profunda, a alma. Você nunca mais é a mesma pessoa”.