Ceará já foi o ponto onde a Capital acabava, mas dúvida segue: é rua ou avenida?
Mesmo sem ter segurança na hora de responder, moradores de Campo Grande falam da história da via
Uma pequena placa identificativa pode conter mais do que aparenta à primeira vista e causar uma confusão na cabeça das pessoas. É o caso da que indica uma das vias que atravessam parte de Campo Grande: a "Ceará". O problema é na hora de dizer se é rua ou avenida.
Parece fácil, porque na denominação oficial é, na verdade, "Rua Ceará", conforme aponta o registro oficial do Setor de Cartografia da Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano).
Mas a confusão começa na hora de olhar as placas. Em vários trechos da via é possível notar placas com a escrita "Av. Ceará", que contrariam o registro oficial. "Em relação às placas de identificação é difícil responder, pois depende de quem as implantou à época", esclarece a Semadur, por meio de nota, sem dizer porque nunca a escrita foi unificada.
Uma breve pesquisa com os cidadãos revelou que a maioria identifica a via como "Avenida Ceará". O aposentado Nelson João de Oliveira, de 85 anos, é uma das pessoas que defendem o termo “avenida”. "O certo é Avenida Ceará, porque o trânsito é muito grande", chuta.
O produtor gráfico Florêncio Ortega, 47 anos, usa a mesma justificativa para sustentar a que nomenclatura correta é "avenida", dada a intensidade do tráfego. "Eu acho que é avenida, porque é uma via muito movimentada. No horário de pico, fica ainda mais. Tem uns dias que para chegar até o outro ponto da avenida, lá perto da Zahran, é quase 40 minutos de trânsito", justifica.
A opinião também é compartilhada pela estudante de enfermagem Karoline Said, de 24 anos, que acredita que a Ceará é uma avenida. "Eu acho que é uma avenida, por causa do fluxo", comenta.
Na hora de realizar buscas nos mapas e GPS virtuais, como Google Maps, dúvidas e discrepâncias podem surgir. No Google Maps, a pesquisa “rua” Ceará apresenta uma via diferente, localizada no bairro Santo Antônio, próximo à Avenida Duque de Caxias. Para encontrar a Ceará do Jardim do Estados, é preciso buscar pelo termo “avenida”.
Florêncio relata que já notou essa divergência durante suas buscas. "Quando você procura Rua Ceará, aparece em outro bairro, agora se coloca avenida, você encontra aqui. Eu não sabia que era rua o termo certo", explica.
Em contrapartida, Karoline afirma nunca ter notado a diferença na nomenclatura quando buscava informações on-line ou em mapas. "Passo por aqui toda terça-feira, mas eu nunca notei essa diferença na internet e nos mapas. Não prestei atenção", comenta a estudante de enfermagem.
De acordo com a Semadur, a definição básica é de que avenida é uma via que possui largura suficiente que possibilite a implantação de um canteiro central e rua é uma via de média ou pequena largura.
Outra avenida que passa por uma confusão similar é a Calógeras, que é conhecida como rua por algumas pessoas, enquanto a terminologia correta é “avenida”, devido ao contexto histórico de sua criação, no início do século XX. Portanto, se fosse criada hoje, os critérios da Semadur colocariam a Calógeras como uma rua, assim como a Ceará.
Quanto à história da Rua Ceará, sua origem é envolta em certa indefinição. Mas por muito tempo funcionou como "ponto final" da área urbana. Quem vê hoje não imagina que nada mais existia depois da Ceará.
A Semadur afirma não possui registros precisos sobre a data de implantação da via. De acordo com a planta do loteamento Miguel Couto, aprovada em 1978, ela se configurava como um mini anel rodoviário, fato que é desconhecido por alguns moradores da Capital.
Somente em 1988, por meio do Decreto nº 5.797, recebeu a denominação oficial de “Rua Ceará”.
Curiosidades - Para além das nomenclaturas, a via se transformou ao longo dos anos e se tornou um corredor vital para o trânsito da cidade e até mesmo para o cotidiano das pessoas.
Uma delas é Nelson João de Oliveira, de 85 anos, que carrega consigo décadas de memórias que se entrelaçam com a movimentada Rua Ceará. “Vivo há 40 anos nesse ponto. Inclusive, tenho casas e terrenos por aqui”, explica.
Nascido em Santa Rosa, no Rio Grande do Sul, o aposentado conta que veio para MS e casou com a esposa, Sônia de Oliveira. Mais tarde, ambos se mudaram para Campo Grande. Atualmente, ele é dono de um estabelecimento na esquina entre a Rua Ceará e a Rua Piratininga.
Relembrando o passado, Nelson destaca como, mesmo antes de a Rua Ceará se tornar o que é hoje, ele já acreditava que aquele local se tornaria um ponto importante. "Na época, antes de ser o que era hoje, eu sabia que aqui ia virar um ponto importante. O movimento aqui é fantástico", comenta.
Com seus 3,4 quilômetros de comprimento, a Rua Ceará causa uma segunda confusão ao longo do trajeto. Em uma de suas “pontas”, sentido Coronel Antonino, a Ceará muda seu nome para São Borja, uma peculiaridade que surpreendeu alguns entrevistados. A escolha pelo nome São Borja ocorreu em maio de 1951, quando esta última foi criada, como prolongamento de duas quadras da Ceará, ligando à Coronel Antonino.
"A escolha das denominações das ruas são apresentadas pelo loteador do parcelamento, não podemos afirmar se à época desse loteamento a denominação das ruas era realizada da mesma forma que é hoje, pelo loteador", explica a Semadur.
O gerente de uma loja de móveis, Agnaldo Camargo, de 40 anos, relatou que essa confusão nos nomes das ruas já trouxe dificuldade para algumas pessoas na hora de localizar endereços e numerações.
"Tem algumas pessoas que reclamam disso, porque confunde o nome das ruas. Não acham a numeração na Avenida Ceará. Sempre confundem onde começa e termina a avenida", explica.
Problemas - Devido a sua “fama” de movimentada, a Rua Ceará acaba sendo palco para muitos acidentes de trânsito. De janeiro a julho do ano corrente, o BPMTran (Batalhão da Polícia Militar de Trânsito) registrou um total de 73 acidentes, abrangendo diferentes graus de gravidade.
Do total, 46 não resultaram em vítimas, com duas mortes. Uma dessas vítimas foi a técnica de enfermagem Gilmara da Silva Canhete Baldo Bernardo, de 46 anos, que faleceu no dia 4 de junho deste ano, após ser atropelada por um carro enquanto dirigia sua motocicleta. Tristemente, a rua nesse caso entrou para a história da família como lembrança de fatalidade.
A infraestrutura da Ceará também enfrenta questões de manutenção, como buracos, fiação caída e placas desgastadas. Um buraco na intersecção com a Rua Pernambuco é um dos maiores. Em outros pontos da avenida, a fiação elétrica rebaixada também se torna um problema e deixa a rua feia.
Entretanto, o problema mais sério enfrentado pela avenida ocorreu em 2010, quando uma a chuva torrencial, ocorrida no 27 de dezembro daquele ano, resultou em uma cratera na via, próximo ao pontilhão da Avenida Afonso Pena.
Como resultado, a Rua Ceará teve que ser interditada por aproximadamente um ano, o que gerou transtornos para os cidadãos e motoristas da época. “Deu um problemão. Quando chegava perto da Uniderp, o pessoal precisava pegar outra rota. Estava interditado”, relembra Nelson.
Após um ano de reparos e reconstrução, a rua foi reinaugurada em 4 de dezembro de 2011, durante a gestão do ex-prefeito Nelson Trad Filho.
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