Com reviravolta digna de filme, eleição de MS surpreendeu até o último minuto
Os dois mais cotados para vencer não conseguiram sequer ir ao segundo turno
Se fosse um filme ou novela, a última eleição para o Governo de Mato Grosso do Sul seria daquele tipo de trama que tem muitas reviravoltas e um final, digamos, surpreendente. Não que o governador eleito, Eduardo Riedel (PSDB), não tenha vencido de forma democrática, mas no início da corrida eleitoral, antes ser dada a largada oficial ao período de campanha, ele sequer aparecia entre os dois mais cotados.
Os nomes que naquele momento despontavam como protagonistas na disputa eram o do ex-governador do Estado, André Puccinelli (MDB), e do ex-prefeito de Campo Grande, Marquinhos Trad (PSD). Tanto que o citado por último renunciou ao mandato para entrar no pleito. A então vice-prefeita Adriane Lopes (Patriota) assumiu a direção e toca até hoje o comando da Capital.
No final de junho, por exemplo, pesquisa do Instituto Novo Ibrape, registrada na Justiça Eleitoral sob o número MS-06447/2022, apontava à época o ainda pré-candidato do MDB com 22,1% na estimulada contra 21,5% para Marquinhos. Riedel estava no terceiro lugar com 13,7%, muito próximo de Rose Modesto (União Brasil) com 12%.
Mesmo cenário ilustrado no início de agosto, quando todos já eram candidatos referendados em convenção partidária. Amostragem do mesmo instituto, registrada sob o número MS-02567/2022, mostrava Puccinelli com 23,8%, Marquinhos com 17,8%, Riedel com 14,3% e Rose com 14,1%. Neste momento o deputado estadual Renan Contar (PRTB) aparecia com 8%.
O ex-prefeito de Campo Grande já apresentava menor percentual, pois, entre uma pesquisa e outra, foi denunciado por suposto assédio e importunação sexual, além de favorecimento à prostituição contra sete mulheres.
O caso teve desdobramentos ao decorrer da corrida eleitoral, virou inquérito policial e foi usado pelos adversários para minar a candidatura. Marquinhos sempre negou as acusações, só admitiu ter tido casos extraconjugais e usou um de seus programas eleitorais para pedir perdão à esposa e às filhas.
"Eu errei, mas não cometi crime algum. Devo a Deus, à minha esposa e às minhas filhas. Eu reuni toda minha família e confessei”, disse na gravação. O escândalo custou ao ex-chefe do Executivo municipal a queda, em setembro, do segundo para o terceiro lugar nas pesquisas, quando Riedel já figurava na vice-liderança, atrás apenas de Puccinelli que se manteve em primeiro durante todo o tempo.
Reviravolta – O que ninguém imaginava era que o nome que estava sempre em 4° ou 5° lugar nas pesquisas de intenção de votos teria uma evolução brusca, tão brusca, que mudaria um rascunho aparentemente consolidado.
Às vésperas da eleição, no último debate presidencial televisivo, a senadora e então candidata à Presidência da República, Soraya Thronicke (União Brasil), numa tentativa de provocar o candidato à reeleição, presidente Jair Bolsonaro (PL), disse que o mandatário tinha o hábito de abandonar seus aliados, tanto que sequer havia feito campanha para Capitão Contar, que disputava o Governo de Mato Grosso do Sul.
Bravo, Bolsonaro respondeu, durante direito de resposta, que a população sul-mato-grossense deveria responder Soraya nas urnas e eleger Contar que, ao contrário da senadora que conseguiu mandato surfando na onda bolsonarista, era um nome perfeitamente alinhado ao dele.
“Quero apelar a todos de Mato Grosso do Sul, votem no Capitão Contar para governador. É a melhor opção para esse Estado. Então a resposta que a gente pode dar a quem não tem qualquer gratidão e que se elegeu em cima do trabalho que eu fiz, é elegermos agora um governador do Estado de Mato Grosso do Sul perfeitamente alinhado ao agronegócio, com as pautas conservadoras, com a ética e a moralidade”, pediu na noite de 29 de setembro, durante debate da Rede Globo.
Três dias depois, no domingo em que ocorreu o segundo turno, veio a tréplica dos eleitores do Estado: Contar obteve 26,91% dos votos indo para o segundo turno com Riedel, que atingiu 24,73% da preferência do eleitorado.
Puccinelli amargou o terceiro lugar nas urnas com 17,18%, seguido por Rose com 12,42%, Giselle Marques (PT) com 9,42% e só depois Marquinhos com 8,68%. Adonis Marcos (Psol) e Magno de Souza (PCO) foram os lanterninhas com 0,23% e 0,2%, respectivamente. Brancos somaram 3,42%, nulos 3,94% e abstenção 22,1%.
Dias depois, num fim de semana de campanha do segundo turno, Puccinelli encontrou correligionários no Vitorino’s bar e restaurante e bateu um papo informal com o Campo Grande News.
Nele, o ex-governador avaliou que de fato o chamamento de Bolsonaro acabou transferindo seus votos a Contar e, obviamente, se surpreendeu com a votação. Contou que a última pesquisa interna feita pelo MDB foi antes do debate que resultou no pedido de votos do presidente ao aliado. Por isso, não tinha ideia de que haveria tamanha discrepância entre o resultado das urnas e as últimas amostragens. Observou que Rose foi a única candidata que manteve o percentual previsto do começo ao fim.
Segundo turno – Na segunda fase do pleito, não houve plot twist como no primeiro turno. Puccinelli, Rose e Marquinhos ficaram ao lado de Contar. Informalmente o PT preferiu Riedel, mas oficialmente ele não recebeu nenhuma declaração de apoio dos ex-candidatos.
A senadora eleita Tereza Cristina (PP) se dividiu entre a campanha de Bolsonaro e do tucano até o último minuto. No dia 30 de outubro, Riedel foi eleito governador do Estado com 56,90% contra 43,10% de Contar.