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Reportagens Especiais

Em 2014, Lado B falou de sexo e diversidade; relembre as matérias mais lidas

Elverson Cardozo | 30/12/2014 06:12
Motel onde acontece a festa dos "héteros que curtem héteros". (Foto: Divulgação)
Motel onde acontece a festa dos "héteros que curtem héteros". (Foto: Divulgação)

Em 2014, o Lado B falou de sexo. E falou bastante. De sexo, sexualidade, diversidade sexual; de tudo – ou quase tudo – que envolve o tema. Este foi um ano em que o canal, notadamente, se pronunciou sobre o assunto, abriu espaço para discussões, provocou, cutucou a ferida e mostrou que “o buraco é mais embaixo”.

Nas redes sociais, nossas matérias repercutiram, geraram reflexões, muitos comentários e ganharam, inclusive, destaque na mídia nacional.

Ambiente lembra uma boate. (Foto: Divulgação)
Ambiente lembra uma boate. (Foto: Divulgação)

“Socialmente hétero” -  É o caso da reportagem do dia 14 de outubro, sobre a festa para “homens que curtem homens”, mas que garatem ser héteros.

Trata-se de um evento privê, realizado em um motel, destinado ao público masculino. Os organizadores não abrem espaço para gays, nem g0ys (homens que fazem de tudo com outros homens, menos sexo) e muito menos aos afeminados, porque é exclusivo para “héteros que curtem héteros”.

À época da entrevista, o idealizador, Rafael Alencar, resumiu tudo desta forma: “É uma festa gay, de gay que não curte gay. Tem que ser gay hétero”. Pelas estatísticas do jornal, o material foi o mais lido do ano. Ficou no topo da lista por 3 dias consecutivos. Repercutiu em portais nacionais e foi compartilhado, no Facebook e no Twitter, por usuários de vários cantos do país. Virou até tema de estudo em universidades.

Interior da boate Liberty. (Foto: Cleber Gellio)
Interior da boate Liberty. (Foto: Cleber Gellio)

Swing - No início do ano, em janeiro, o canal visitou as três casas de swing existentes em Campo Grande e descobriu que todas elas contam com um público muito fiel. Só na DooLance, a mais antiga, que completou 10 anos em abril, eram pelo menos 3 mil cadastrados à época da reportagem. Na Nikkey, que existe desde 2009, eram aproximadamente 1 mil. Na Liberty, a caçula, inaugurada em agosto de 2013, a lista tinha cerca de 70 nomes.

Nesses espaços há os mais variados recursos que podem ajudar os clientes a realizarem suas fantasias sexuais: de buracos na parede, que servem para apalpar desconhecidos no escuro, às “jaulas”, para os casais que gostam de serem observados enquanto transam, mas não permitem o toque.

Mato perto da Base Aérea, um dos pontos de pegação em Campo Grande. (Foto: Cleber Gellio)
Mato perto da Base Aérea, um dos pontos de pegação em Campo Grande. (Foto: Cleber Gellio)

Sexo com plateia - O dogging (sexo feito em locais públicos) também entrou na pauta do Lado B.

Não adianta falar em risco e perigo, a “brincadeira” ocorre em praças, estacionamentos, terrenos baldios, dentro do carro, em ruas de pouco movimento e por aí vai. Prova disso são os depoimentos e, vira e mexe, os boletins de ocorrências que, não rara vezes, viram matérias em jornais.

Quem pratica, justifica o ato por falta de dinheiro, por exemplo, para um motel, mas a prática é, na verdade, uma espécie de fetiche. Em abril, mostramos em quais locais os campo-grandensses costumam se encontrar.

A lista é extensa e tem endereços como o Parque dos Poderes, estacionamento do Centro de Convenções Rubens Gil de Camilo, Parque das Nações Indígenas, entre outros.

Anúncio do Beco Espetos é bastante sugestivo. (Foto: Reprodução/Facebook)
Anúncio do Beco Espetos é bastante sugestivo. (Foto: Reprodução/Facebook)

Beco Espetos - Mas as “festinhas” também ocorrem em locais fechados. Em dezembro, noticiamos o que sugere ser um novo ponto de encontro liberal. É o Beco Espetos, na Vila Carlota.

O Lado B descobriu o lugar depois de ver, no Facebook, o anúncio de uma mulher seminua, de meias acima do joelho, calcinha e espartilho, sensualizando com um espetinho de carne na boca.

O banner traz, ao fundo, os símbolos universais de gêneros, o masculino e o feminino.

O detalhe são as combinações que indicam: homem, mulher, dois homens com uma mulher e um homem com duas mulheres.

Bar, dentro da antiga rodoviária, é o "ponto" de Rose há mais de 20 anos. (Foto: Marcelo Calazans)
Bar, dentro da antiga rodoviária, é o "ponto" de Rose há mais de 20 anos. (Foto: Marcelo Calazans)

A prostituta e o batom vermelho - Histórias de vida também pautaram nossa equipe. A de Rosângela dos Santos atraiu nossos olhares.

Aos 55 anos, Rosa, como é conhecida, é uma das prostitutas que, em Campo Grande, está há mais tempo na ativa. O primeiro cliente foi aos 14 anos.

Na boa fase, a mulher exibia um “corpinho de violão”, cuidava da aparência e era super disputada. Hoje, com 35 quilos acima do peso, Rose cobra R$ 50,00, atende 2, 3 homens por dia, mas não costuma fazer mais nem a sobrancelha.

Passa protetor solar para não piorar as manchas no rosto, mas, para trabalhar, usa, no máximo, um batom vermelho. A matéria de Rose registrou 23.321 mil acessos em apenas um dia.

Hoje, Alee diz com orgulho: "Sou transexual". (Foto: Arquivo Pessoal)
Hoje, Alee diz com orgulho: "Sou transexual". (Foto: Arquivo Pessoal)

De bem com o próprio corpo - Teve, ainda, a história de Alessandra Prates, uma transexual de 21 anos.

Aos 6, quando ainda era chamada por ele, a cabeleireira, nascida em Campo Grande, queria brincar de bonecas, ser como elas, enquanto os primos manifestavam os primeiros interesses por meninas.

A adolescência não fugiu à regra. O menino, que sempre se viu menina, não se identificava com ninguém, nem com os gays e, por isso, sofreu bullying na escola.

Deslocado, Alee Prates, como também se apresenta, procurou uma igreja. Frequentou os cultos por um bom tempo, mas a cura, para uma “doença” que não existe, não apareceu. Foi aí que, determinada, ela resolveu se aceitar.

Aos 48 anos, acadêmica foi vítima de perseguição na UFMS. (Foto: Alcides Neto)
Aos 48 anos, acadêmica foi vítima de perseguição na UFMS. (Foto: Alcides Neto)

Vítima de preconceito - A acadêmica de Letras Claire Leal, de 48 anos, também foi destaque do canal. Transexual, ela foi vítima de uma perseguição na própria universidade.

A aluna foi hostilizada e perseguida por alguns estudantes, a ponto de ter de sair escoltada do Restaurante Universitário.

O caso mobilizou o Diretório Acadêmico, que resolveu colocar em prática uma campanha contra a homofobia, distribuindo cartazes e organizando um debate para discutir o preconceito.

Depois do episódio da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Claire diz que apesar da acolhida do DCE e do grupo LGBT, não se sente parte do que a sigla representa. "O que eu quero ser é embaixadora. Promover o diálogo entre esses dois mundos: a sociedade e os LGBT", afirmou.

Falar de sexo não é tarefa fácil. Em Campo Grande, cidade que caminha a passos lentos, pior ainda. O assunto é tabu, tratado como “proibido” e, por isso, ainda choca muita gente. Mas a intenção não é escandalizar, nem chocar ninguém, muito pelo contrário. A ideia é naturalizar o discurso.

Sexo, para o Lado B, é algo perfeitamente discutível. É como falar de política, economia, tecnologia, etc. É como anunciar a previsão do tempo, por exemplo. Na nossa rotina, diversidade sexual e sexualidade tem lugar de destaque.

Musica, diversidade e cultura de paz são propósitos do evento. (Foto: Facebook)
Musica, diversidade e cultura de paz são propósitos do evento. (Foto: Facebook)

Aglomerado - Em julho, o canal falou do Aglomerado, festa criada para difundir a cultura da diversidade e da paz.

É um lugar onde as pessoas podem se comportar exatamente como são. É festa, porém, além de promover um ambiente de diversão acolhedor, o Aglomerado carrega um bandeira: a de quebrar o estereótipo de que todo relacionamento homoafetivo é promíscuo.

Sem limite de idade, nem distinção por orientação sexual, em um ano e meio de criação a festa aglomera cerca de 350 pessoas por edição, na Quadra Vip, localizada no bairro Monte Castelo.

O evento acontece geralmente uma vez por mês e carrega uma mensagem forte de união e respeito. União, aliás, é outro tema sempre presente no canal.

Casamento das empresárias Bruna Witwytzky e Nadja Toumani. (Fotos: Allan Kaiser)
Casamento das empresárias Bruna Witwytzky e Nadja Toumani. (Fotos: Allan Kaiser)

Uma história de amor - Em julho deste ano, registramos o casamento das empresárias Bruna Witwytzky e Nadja Toumani. As duas se conheceram há quatro anos, em Campo Grande.

A história envolve capítulos de namoro à distância e de prova de amor. Advogada, Bruna largou um cargo público federal em São Paulo, alcançado através de concurso, porque não aguentou de saudades.

A lua de mel do casal foi na Europa. A viagem durou 20 dias entre Espanha, Itália e Inglaterra. No tour romântico, elas receberam a ligação do pai de Nadja, que precisava a todo custo dizer algo que talvez tenha ficado preso na garganta por anos: “A minha entrada com você, definitivamente, foi o dia mais feliz da minha vida”.

O tão esperado beijo na festa de casamento. (Foto: Lusival Junior)
O tão esperado beijo na festa de casamento. (Foto: Lusival Junior)

Primeiro beijo no altar - Dois meses depois, em setembro, Amanda e Leonardo foram os personagens do Lado B, em uma matéria que também falou sobre casamento.

O casal abdicou do sexo durante todo o período de namoro, que durou 1 ano e 3 meses. O primeiro beijo na boca também ficou para depois do “sim”. Foi no altar, na presença de convidados. A reação dos parentes e amigos foi um misto de lágrimas e sorrisos.

Quando a primeira reportagem foi no ar, houve milhares de compartilhamentos e discussões em cima do propósito. À época em que fez o voto, Amanda havia frequentado o seminário "Eu escolhi esperar". Como evangélicos da igreja Verbo da Vida, a relação sexual já ficaria mesmo só para depois do casamento, mas Amanda foi ainda mais radical.

O argumento era de que o beijo é tão importante quanto qualquer carícia. "A gente segue o conceito de santidade, conforme a palavra de Deus e, no beijo você pensa em outras coisas", sustentou.

Massagem dura 50 minutos. (Foto: Divulgação)
Massagem dura 50 minutos. (Foto: Divulgação)

Massagem tântrica - Para fechar o ano no ritmo, o canal escolheu, no início deste mês, um colaborador para experimentar uma sessão de massagem tântrica.

O resultado surpreendeu e gerou um relato curioso. Quem já ouviu falar, mas nunca fez, acha que é sacanagem. Quem não tem ideia do que seja, nem sonha com os efeitos.

Foram pelo menos 50 minutos de massagem e, ao final, três orgasmos.

Os conteúdos produzidos pela editoria, como os elencados nesta retrospectiva, geram comentários de todos os tipos, positivos e negativos. Alguns criticam, com o argumento predominante de que o Lado B não tem pauta e “mais nada para fazer”.

Outros, no entanto, elogiam, se identificam e dizem justamente o contrário. É por isso, por acreditar que sexo não faz mal a ninguém, e por saber que o assunto precisa ser trabalhado com naturalidade e responsabilidade, que o Lado B entra em janeiro desejando um 2015 cheio de prazer.

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