2020 = 80
Ao alvorecer deste ano novo, de repente me vejo ante dois fatos: primeiro é um ano bissexto; segundo é o ano em que vou completar 80 anos. Ano novo que representa o fim de uma década.
Chama-se bissexto o ano ao qual é acrescentado um dia extra, ficando com 366 dias, um dia a mais do que os anos normais de 365 dias, ocorrendo a cada quatro anos. Isto é feito com o objetivo de manter o calendário anual ajustado com a translação da Terra e com os eventos sazonais relacionados às estações do ano. O ano bissexto foi criado em 1582, a pedido do Papa Gregório XIII, pelo alemão Cristhopher Flavius.
Eu nasci num ano bissexto, assim me vejo umbilicalmente ligado a este novo ano. É o meu ano. Sem dúvida muitas coisas boas acontecerão. Estou preparado e agradecido.
Além disso, temos a simbologia do número 8, universalmente considerado o símbolo do equilíbrio cósmico. O número 8 deitado simboliza também o infinito, e representa a inexistência de um começo ou fim, do nascimento ou da morte, e aquilo que não tem limite; representa ainda a ligação entre o físico e o espiritual, o divino e o terreno. No Japão, o número 8 é um número sagrado. Nas crenças africanas, o número 8 possui um simbolismo totalizador.
O número 8 é peculiar e visto como de grande poder pelos antigos gregos, que diziam: “Todas as coisas são oito”. Sua representação são dois quadrados, um sobre o outro ou dois círculos, também um sobre o outro. O octógono é a sua forma geométrica.
Assim, constato que tudo é favorável. Fazendo um retrospecto da minha vida, lembrei que quando era guri nós tínhamos um bolicho na rua 7 de Setembro, entre a 13 de Maio e a Rui Barbosa. Vendíamos de tudo, inclusive jogo-do-bicho. O que me deu um ensinamento para toda a vida: nos boletos do jogo, embaixo há uma inscrição: “Vale o escrito”. E adotei como paradigma permanente: o combinado não é caro.
Constatei também a minha identificação filosófica com o estoicismo, doutrina fundada por Zenão de Cício (335-264 a.C.), e desenvolvida por várias gerações de filósofos, que se caracteriza por uma ética em que a imperturbabilidade, a extirpação das paixões e a aceitação resignada do destino são as marcas fundamentais do homem sábio, o único apto a experimentar a verdadeira felicidade.
Devido a isso, os estóicos apresentaram sua filosofia como um modo de vida e pensavam que a melhor indicação da filosofia de um indivíduo não era o que uma pessoa diz, mas como essa pessoa se comporta. Para viver uma boa vida, era preciso entender as regras da ordem natural, uma vez que ensinavam que tudo estava enraizado na natureza.
Esse entendimento pautou a minha vida de construtor social. Sêneca, um dos maiores expoentes do estoicismo, enfatizava que “a virtude é suficiente para a felicidade” tornando o estóico imune ao infortúnio. A sua vida é um exemplo perfeito da prática dessa filosofia: encarou e viveu de forma exemplar tanto na opulência como na desgraça, sem, em nenhum momento, alterar seu comportamento em função das circunstâncias.
Foi a ética estóica que teve maior influência no desenvolvimento da tradição filosófica. Desde a sua fundação, a doutrina estoica era popular com seguidores na Grécia romana e por todo o Império Romano, incluindo o imperador romano Marco Aurélio ( 121–180).
Os estóicos apresentavam uma visão unificada do mundo consistindo de uma lógica formal, uma física não dualista e uma ética naturalista. Dentre estes, eles enfatizavam a ética como o foco principal do conhecimento humano, embora suas teorias lógicas fossem de mais interesse para os filósofos posteriores.
O estoicismo ensina o desenvolvimento do autocontrole e da firmeza como um meio de superar emoções destrutivas. Defende que tornar-se um pensador claro e imparcial permite compreender a razão universal (logos). Um aspecto fundamental do estoicismo envolve a melhoria da ética do indivíduo e de seu bem-estar moral: "A virtude consiste em um desejo que está de acordo com a natureza". Este princípio também se aplica ao contexto das relações interpessoais; "libertar-se da raiva, da inveja e do ciúme" e aceitar até mesmo os escravos como "iguais aos outros homens, porque todos os homens são igualmente produtos da natureza".
“O maior obstáculo à vida é a expectativa, que fica na dependência do amanhã e perde o momento presente. Tu dispões o que está nas mãos da Fortuna, deixas de lado o que está nas tuas. Para onde olhas? Para onde te projetas? Tudo o que há de vir repousa na incerteza. Vive de imediato!”
Ou seja, vamos viver o aqui e o agora! Ko’ápe ha ko’ãnga!
(*) Heitor Rodrigues Freire – Corretor de imóveis e advogado.