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A crise do conhecimento

Pedro Zanetello (*) | 02/10/2020 08:14

O processo de evolução pessoal e intelectual é uma jornada muito similar à descrita na mais famosa obra de Joseph Campbell, a qual lista diversos passos desafiadores para a formação de um herói.

Aqueles que têm a sede de buscar o aprendizado contínuo, superando seus medos, vencendo suas dores e aproveitando a jornada, são recompensados por saberes muito mais dignos que os superpoderes de heróis: o conhecimento e a melhor compreensão da realidade. Tais recompensas fornecem a liberdade e a independência intelectuais, que nos permitem sermos donos das nossas próprias decisões, buscando a felicidade pelos nossos meios e sendo responsáveis por todas nossas escolhas.

Tanto se fala em fake news e na possível criminalização delas que nos esquecemos da existência da premissa do pensamento independente, a necessidade de questionar tudo o que é dito e de sempre buscar a veracidade das coisas - não apenas no dia 1º de abril. A liberdade de expressão, que devemos defender com dentes e unhas, inclui a permissão de emitirmos qualquer opinião, e cabe ao indivíduo analisá-la para tomar a decisão de aceitá-la ou não. Ideias ruins se combatem apenas com ideias boas, e estas não requerem o uso da coerção.

Censurar ideias ruins ou discursos intolerantes, apesar de parecer uma atitude nobre, apenas mascara a possibilidade de enxergarmos os indivíduos como eles realmente são, condena o debate a uma pobreza intelectual de impedir uma concorrência no mercado das ideias e penaliza as pessoas a viverem sob um nebuloso véu de um mundo pretensioso e sem contrapontos. A liberdade de expressão consiste não apenas na sua autonomia em defender aquilo que você acredita, mas também defender a manifestação de todos indivíduos, inclusive daqueles que dispensam o uso da razão. Apenas o indivíduo é responsável pelo seu consumo de informações e sobre a decisão própria de seguir boas ou más opiniões.

Ideias ruins podem vencer no curto prazo, ampliadas por multidões que ignoram a busca por conhecimento e que procuram uma bengala intelectual personificada em formadores de opinião que advogam pela imoralidade e pelo tolhimento de liberdades individuais; já as ideias boas sempre vencerão em longo prazo, desde que as pessoas atinjam a maturidade de lutar pelas suas liberdades e pela sua independência intelectual. É assim que funciona em um livre mercado e é assim que funciona a meritocracia de ideias.


(*) Pedro Zanetello é empreendedor

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