Alerta hídrico : tecnologia para orientar, sensibilidade para agir!
O alerta hídrico emitido pelas autoridades nesta última semana, com a previsão de falta de chuva nos próximos meses, deve ser motivo de atenção à toda sociedade. Esse não é só um problema do setor elétrico (pelo comprometimento da dinâmica da vazão nas hidroelétricas e possíveis apagões), ou das empresas de saneamento preocupadas com abastecimento humano. Cabe registrar que temos em média 40% de perdas na distribuição para as casas. Imaginem o volume do desperdício!
Gosto da manifestação poética de Manoel de Barros quando nos diz “Todos somos devedores dessas águas”. Esta dívida, na verdade, nunca foi paga pois, acreditamos de forma equivocada, que estes recursos são infinitos.
Mas a reflexão que quero provocar é sobre a dimensão da responsabilidade de cada um e os riscos futuros da nossa passividade diante os alertas recebidos. Seremos inevitavelmente atingidos com as contas de luz mais caras, racionamento de água (e ainda torcendo para que não falte em nossas casas), escassez de alguns alimentos e o fogo. Todos estes processos que nos impactam, devem despertar iniciativas que não podem ficar na dependência exclusiva dos governos.
O desmatamento irregular, áreas degradadas e comprometimento de inúmeras nascentes são uma realidade inquestionável e afetam diretamente nossos processos de produção de chuvas, consequentemente, nossas vidas. Não estamos questionando uso da terra é conservação de natureza , mas sim, prioridades para nossa sobrevivência e dos nossos negócios. Devemos iniciar imediatamente movimentos mais intensos de recuperação de áreas degradadas, adoção de nascentes, priorização de rios que possam receber algum tipo de manejo de solos, curvas de nível e mudas para recuperação das matas ciliares. Todos devem e podem ocupar um papel como protagonistas a exemplo de sindicatos rurais, cooperativas, OSCs, escolas, grupo de amigos. Sou testemunha de iniciativas fantásticas de proprietários rurais que reverteram processos de perdas de pequenos rios e que hoje são guardiões destes patrimônios sociais e biológicos. Nos últimos 5 anos o Instituto implementa o projeto Cabeceiras e, conseguimos parcerias estratégicas com investidores e em especial fazendeiros que abriram suas porteiras para juntos, recuperarmos nascentes. É possível, basta querer! O alerta dado deve fazer nascer em cada um a vontade de ser ativo não omisso. Podemos contribuir no nosso Estado de forma direta como um “produtor de natureza”, como um “produtor de água”. Procure projetos de plantio de mudas, compre mudas, comece plantando no seu quintal. Cabe salientar que as respostas da natureza não são imediatas, demandam tempo, cuidados, mas nunca é tarde para começar. Outro aspecto relevante é que estamos lidando com fenômenos novos como a própria mudança climática, com os quais não temos controle. Se somos capazes de possuir tecnologias que nos alertem para falta de chuva, precisamos de sensibilidade e responsabilidade que nos alertem e orientem o que fazer!
Coronel Ângelo Rabelo, ex-comandante da PMA (Polícia Militar Ambiental) - Instituto Homem Pantaneiro
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