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Chave interdisciplinar: escola conteudista ou de competências

Dinamara Machado | 02/08/2020 09:53

A educação em tempos de Covid-19 provocou reflexões em pais e professores sobre que escola de fato precisamos e queremos para formação das novas gerações. A crescente influência da mídia cumpre um papel significativo nesse processo. Percebemos comentários de pais indignados com a quantidade de atividades dos filhos, da ausência de tempo para agrupar os deveres do teletrabalho com a manutenção da organização da vida doméstica e a internalização do ensino formal dos filhos no ambiente da casa. Os professores da Educação Básica por sua vez foram arrebatados para tarefas antes direcionadas aos professores que atuavam na modalidade a distância.

Nesse momento cabe algumas perguntas tanto para pais quanto professores.  Qual escola de fato precisamos? Aquela que cumpre seu papel de trabalhar a ciência acumulada? Aquela que preserva a vida dos pequenos enquanto os pais estão no trabalho? Aquela que cumpre seu papel de inserir as crianças em novos círculos sociais? Aquela escola com seu currículo organizado de formato cartesiano, com fluxo, processos e normas e que ao término muitos sequer lembram os conteúdos do sexto ano de matemática?

Nunca é tarde demais para lembrar que as tecnologias apenas afloraram os pontos positivos e ausências da “velha escola’’. Construímos uma escola que transita entre ser espaço de convivência e as discussões e práticas em prol de conteúdos estruturados. E como todos os canais de comunicação também estão propagando que teremos um “novo normal’’ cabe outra pergunta. Qual a nova escola?

A prática cotidiana demonstra que a hegemonia de modelos não é mais possível, ousamos afirmar de forma categórica que a complexidade da área educacional refletidos pela compreensão do ser humano, faz com que a gestão inovadora personalize o processo de ensino, afinal é preciso trazer o humano do humano, na perspectiva de ajudá-lo no afloramento de suas competências.

Gostaria de enfatizar que trabalhar a partir de competências possibilita o aumento do diálogo entre os diferentes caminhos que perpassam por conteúdos, mas que também atuam no desenvolvimento socioemocional do ser humano.

Ainda existem dúvidas acerca de como se desenvolvem competências. Nós acostumamos reduzir no acróstico – CHAVE – A escola que atua na percepção de um novo ser humano para o novo normal, fez remanejamentos em sua práxis e compreende que: conteúdo teórico é apenas um dos elementos no ambiente educacional. Existe uma necessidade de o estudante perceber e viver a aplicabilidade daquele conteúdo. Afinal, qual a diferença entre um alqueire paulista, mineiro e baiano? Será que são dimensões diferentes dentro do mesmo país. E em qual conteúdo podemos nos apegar no momento de comprar uma chácara num jogo on-line?  A capacidade de conseguir desenvolver determinadas atividades significa ter habilidade. E para o mundo globalizado, líquido e exponencial atual e futuro no mercado de trabalho é necessário ser hábil, ser o melhor sempre, conquistar o topo e permanecer no mesmo. Mas é importante evidenciar que habilidade está intrinsicamente ligada aos tipos de inteligência que possuímos.

Todas estas questões ponderadas, levantam outro elemento primordial quando tratamos de competências, ter conteúdo e saber usar exige o comprometimento pela atitude. Será que criamos nossas crianças para reagirem e assumirem uma postura na vida? Não podemos esquecer os ensinamentos de Gramsci “odeio os indiferentes, eles são o peso morto da história”. O cuidado de identificar o CHA nos compromete em conduzir para outros dois elementos constitutivos da nossa CHAVE.

O que temos que ter sempre em mente, e pensando mais a longo prazo para além do fenômeno da pandemia em nossas vidas, é: que valores estamos plantando nas novas gerações. O valor da convivência pacífica entre pais e filhos, da aprendizagem, da divisão social das tarefas do lar, da responsabilidade coletiva, ou apenas, estamos com atitudes de adultos acarretadas por outro tempo histórico que não conseguiram fazer uma mudança mental e perceberam que é possível ser solidário, não ofertando quatro horas de aula por internet, afinal as famílias têm dois ou três filhos e apenas um computador. E que muitas vezes fazer um pão de batata ao lado da família tem inúmeros conceitos matemáticos.

A constante divulgação de um novo normal nos remete ao quadro socioemocional, afinal nós adultos refratários ou mutantes, e as crianças como guardarão este momento? Será que no interior dos nossos lares, conseguimos revisitar com nossos filhos e netos as diversas transformações que a sociedade passou ao longo da história? E conseguimos demonstrar que superamos e algumas vezes aprendemos. E a Escola será que vai fazer o processo maiêutico. Nunca é demais lembrar que desenvolver competências pode até ser outro modismo na sociedade hodierna, não obstante, o cenário desafiador nos faz refletir dos paradigmas que adotamos, pois, a busca humana finda em sua existência na busca pela felicidade.

(*) Dinamara Machado é diretora da Escola Superior de Educação do Centro Universitário Internacional Uninter.

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